O desenvolvimento infantil precoce é essencial para a saúde física e mental, produtividade futura e bem-estar social dos indivíduos. Reconhecendo a importância dessa fase, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, inclui o desenvolvimento infantil como prioridade, visto que a família desempenha um papel central nesse processo, e o aumento das taxas de divórcio em todo o mundo, incluindo na China, onde o estudo foi realizado, levanta preocupações sobre seus possíveis impactos. Estudos anteriores, majoritariamente de países desenvolvidos, já demonstraram que o divórcio parental pode afetar negativamente o comportamento, a saúde mental e o desempenho acadêmico de crianças, mas havia pouca pesquisa focando em crianças pequenas em países em desenvolvimento. Para preencher essa lacuna, um estudo investigou como o divórcio dos pais impacta o desenvolvimento de crianças de 3 a 5 anos na China.
O estudo analisou dados de 62.899 crianças de quatro regiões da China. Cerca de 3,8% delas eram de famílias com pais divorciados, sendo as taxas mais altas observadas nas regiões menos desenvolvidas. Crianças de famílias divorciadas apresentaram, em geral, mães com menor escolaridade e maior frequência de serem cuidadas por avós. Veja os resultados abaixo:
Impacto do divórcio nos indicadores de desenvolvimento
- Crianças de famílias divorciadas apresentaram pontuações significativamente mais baixas no Índice de Capacidades Humanas Precoce (eHCI), mesmo após ajuste para diferenças sociodemográficas.
- As maiores diferenças negativas foram observadas nas áreas de saúde física, habilidades de leitura e habilidades sociais e emocionais.
- Crianças dessas famílias também apresentaram menores chances de estarem “em desenvolvimento adequado” para a idade.
- Subanálises mostraram que em Xangai, uma região mais desenvolvida, as diferenças foram ainda mais acentuadas, possivelmente refletindo o chamado efeito “floor” – onde contextos mais desafiadores agravam o impacto de vulnerabilidades adicionais como o divórcio.
Possíveis mecanismos explicativos
O estudo aponta que fatores como perda de recursos econômicos, estruturas familiares incompletas, conflitos conjugais e menor supervisão parental podem explicar as diferenças observadas. Além disso, crianças de famílias divorciadas podem sofrer mais com a insegurança emocional e a perda de laços sociais.
Limitações
- Natureza transversal do estudo (não permitindo estabelecer causalidade);
- Dados autorrelatados pelos cuidadores, o que pode introduzir vieses;
- Possibilidade de fatores não medidos influenciarem os resultados, como a qualidade do relacionamento pós-divórcio.
Conclusão
O estudo evidencia que o divórcio parental está associado a um desenvolvimento mais lento em aspectos físicos, sociais e emocionais de crianças pequenas na China, o que talvez possa ser considerado para outros países em desenvolvimento. As diferenças são ainda maiores em regiões mais ricas, como Xangai, sugerindo a necessidade de ações específicas para apoiar crianças vulneráveis, como programas de suporte emocional, educativo e social voltados para crianças de famílias divorciadas. O estudo também destaca a necessidade de pesquisas longitudinais para compreender melhor os impactos a longo prazo do divórcio parental sobre o desenvolvimento infantil, mas apesar disso, deixa um alerta para todos os profissionais que lidam com crianças vendo que há um grande espaço para intervenção, em especial nesta população específica do estudo, com o objetivo de melhor manejo desse potencial impacto negativo no neurodesenvolvimento.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.