IACAPAP 2024: Transtorno bipolar pediátrico
No dia 23 de maio, no simpósio sobre o transtorno afetivo bipolar (TAB) pediátrico no congresso anual da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP) foram abordados alguns destaques nas sessões.
Primeiramente, discutiu-se a apresentação do transtorno na juventude. Embora os critérios diagnósticos sejam os mesmos para adultos e crianças, o TAB é mais associado às maiores recorrência e cronicidade, maior comprometimento nas diversas áreas do funcionamento, e maiores índices de autolesão e tentativas de suicídio, quando comparado ao transtorno depressivo unipolar. O transtorno também possui um forte componente genético, com filhos de pais com TAB apresentando maior risco de desenvolver o transtorno.
Como TAB se apresenta?
Nos jovens, a trajetória do TAB pode começar com uma apresentação ansiosa, progredir para dificuldades de ajustamento ou para quadros leves de transtorno depressivo, evoluindo posteriormente para transtorno depressivo maior e, eventualmente, para uma apresentação bipolar. Contudo, o TAB frequentemente manifesta-se no início da vida adulta. Psiquiatras da infância e adolescência, portanto, frequentemente lidam com quadros ansiosos e depressivos, sem a certeza de como esses pacientes irão evoluir. Quadros clássicos de TAB podem surgir na adolescência, mas raramente antes dos 14 anos. Com isso, não é de se espantar que a prevalência do TAB pediátrico, segundo a maioria dos estudos nos EUA, varie entre 1,8% e 3,9%.
Sintomas depressivos que podem indicar uma apresentação bipolar incluem a presença de sintomas mistos, psicóticos ou catatonia. Foi também discutido o uso dos critérios Bipolar NOS (Coby criteria), cuja aplicação em jovens pode se relacionar à progressão para o TAB em até 53% dos pacientes ao longo de 11 anos. Entre os fatores que aumentam o risco de conversão estão a história familiar de mania ou hipomania, aumento de sintomas específicos (ansiosos, maníacos ou relacionados à labilidade emocional), início precoce do transtorno e maior risco de conversão nos primeiros quatro anos. A proposta diagnóstica relacionada à desregulação grave do humor mostrou-se menos consistente na conversão para TAB.
Diagnósticos diferenciais
Destacam-se três: TDAH, Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor e Transtorno de Personalidade Borderline.
TDAH: Muitos sintomas são compartilhados com o TAB, como irritabilidade, inquietação, hiperatividade, impulsividade, aumento da energia, do volume da fala e das dificuldades relacionadas ao sono. A baixa tolerância à frustração observada no TDAH pode ser confundida com desregulação do humor ou mania. Estima-se que a prevalência de TDAH no TAB seja de 73% em crianças, 43% em adolescentes e 17% em adultos. O TDAH pode atuar como um fator de risco para a conversão de um transtorno unipolar para bipolar. Embora os diagnósticos sejam desafiadores devido à sobreposição de sintomas, o TDAH tende a ser mais estável ao longo do tempo, enquanto os sintomas do TAB são episódicos.
Transtorno disruptivo de desregulação do humor: Este transtorno, teoricamente, não pode coexistir com o TAB. Seu diagnóstico é desafiador, pois o clínico deve avaliar se os episódios de explosões de humor são desproporcionais e inapropriados. No entanto, este quadro não parece progredir para TAB.
Transtorno de personalidade borderline (TPB): Cerca de 11% dos pacientes com TAB também preenchem critérios para TPB. Quando associados, podem resultar em um curso de doença mais grave e crônico. A desregulação afetiva é a sintomatologia borderline mais associada ao TAB. Outras semelhanças incluem impulsividade, dificuldade no manejo da raiva, tentativas de suicídio recorrentes, abuso de substâncias e problemas no funcionamento social.
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