IACAPAP 2024: Simpósio multiprofissional destaca novas perspectivas da dislexia

No quarto dia do congresso da IACAPAP, o simpósio Dyslexia new perspectives: a multiprofessional outpatient experience abordou considerações atuais sobre o manejo da dislexia em crianças e adolescentes. Duas palestras me chamaram bastante a atenção e estão sumarizadas abaixo. Ambas as palestrantes fazem parte do Laboratório de pesquisa em Distúrbios, Dificuldades de Aprendizagem e Transtorno de Atenção (DISAPRE) – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

Dislexia na visão da fonoaudiologia 

O tema foi apresentado pela fonoaudióloga Rita Fornasari, que mostrou o instrumento “Avaliação da Fluência de Leitura Textual” (AFLeT), que engloba as três dimensões da fluência de leitura (velocidade, precisão e prosódia), além da compreensão (Basso e colaboradores, 2018): 

• Velocidade: tempo de leitura do texto e número de palavras lidas por minuto; 
• Precisão: erros de leitura; 
• Prosódia: falhas de pausa, de entonação e de fluência. 

Outro estudo apresentado pela palestrante foi recentemente publicado em 2023 (ERP Indicators of Phonological Awareness Development in Children: A Systematic Review – Stekić e colaboradores) e que aborda o tema “consciência fonológica”, definida pela capacidade de reconhecer e manipular corretamente as estruturas fonológicas. Os pesquisadores destacam os componentes dos potenciais relacionados a eventos (event-related potentials – ERP) que podem ser usados como preditores neurocognitivos de dislexia de desenvolvimento precoce e distúrbios de leitura em crianças pequenas.

Além disso, demonstra como o processamento fonológico é desenvolvido ao longo da infância, bem como quais tarefas fonológicas podem ser utilizadas para prever o desenvolvimento da consciência fonológica antes do desenvolvimento das habilidades de leitura. Dessa forma, medidas neurocognitivas do processamento fonológico precoce podem servir como fontes diagnósticas suplementares às medidas comportamentais das habilidades de leitura porque mostram diferentes aspectos da sensibilidade fonológica quando comparadas às medidas comportamentais. 

Mensagens finais da palestrante

• O perfil linguístico é diferente para cada criança com dislexia; 
• A linguagem é fundamental para diagnósticos e intervenções.

Dislexia na visão da pedagogia e psicopedagogia 

A palestrante, mestranda Patrícia Stella, pedagoga e psicopedagoga, mostrou como é feita a avaliação psicopedagógica nos pacientes de 6 a 15 anos do DISAPRE/Unicamp: 

Avaliação qualitativa: 

• Aspectos motores perceptivos; 
• Percepção espaço-temporal; 
• Relatos do cotidiano familiar e escolar; 
• Análise da análise do relatório do professor;
• Teste operacional de Piaget (uma série de testes e experimentos criada por Jean Piaget, um famoso psicólogo suíço, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento cognitivo das crianças. Piaget acreditava que as crianças atravessam diferentes fases de desenvolvimento cognitivo e que essas fases poderiam ser observadas por meio de sua capacidade de realizar determinadas tarefas e também de resolver problemas). 
• Avaliação quantitativa:  
• Escrita; 
• Fluência na leitura e compreensão de textos:  
• Matemática. 

Análise da escrita: 

• Níveis de aquisição da escrita alfabética; 
• Tipo de caligrafia (maiúscula ou cursiva); 
• Realização gráfica (alinhamento, direcionamento); 
• Layout gráfico; 
• Pega de lápis (movimento de pinça adequado); 
• Ditado de palavras simples; ditado de texto; escrita livre; 
• Avaliar tempo, ritmo, velocidade, aspecto motor e aspectos visuais; 
• Avaliar a preparação da escrita (título, margens, parágrafos, organização do espaço gráfico); 
• Análise de caligrafia: tamanho (médio, crescente/decrescente, irregular, variações); tipo de fonte (cursiva, stick, press, combinada); qualidade da caligrafia (definida e regular, boa qualidade, legível, irregular, limitações quanto à identificação); pressão das mãos/dedos, trama forte ou fraca. 

Habilidades matemáticas:

• 1º e 2º anos: contagem, ordem, adição e subtração; 
• 3º ano: ordem, composição e decomposição, adição, multiplicação, subtração e divisão;
• 4º ano: sistema de numeração decimal até milhares, composição numérica até 100.000 e quatro operações sobre frações (noções e comparações); 
• 5º ano: sistema de numeração decimal para bilhar; comparação e sequência, quatro operações, frações (noções e comparações), operações, equivalência e simplificação de expressões numéricas. 

Motivação para estudar 

Patricia Stella também conversou sobre a motivação para o estudo, que possui dois componentes que se relacionam intimamente entre si: motivação intrínseca (vem do próprio indivíduo) e extrínseca (proveniente de fatores internos), conforme o estudo de Martinelli e Sisto (2011). Ademais, mencionou o método de aprendizagem de Oliveira, Boruchovitch e Santos (2010), que analisa estratégias metacognitivas e cognitivas de aprendizagem relatadas e usadas por estudantes do Ensino Fundamental. As metacognitivas compreendem o manejo e a autorregulação das cognitivas para otimizar o aprendizado (cognitivas: incluem a repetição, elaboração e organização de material de estudo).  

Campanha “Criança Alfabetizada” 

A profissional também apresentou ao público a campanha “Criança Alfabetizada”, cujos objetivos são: 

• Garantir direitos à alfabetização; 
• Objetivos centrais: garantir a alfabetização de 100% das crianças ao final do 2º ano do Ensino Fundamental; 
• Recomposição do aprendizado, com foco na alfabetização de 100% das crianças afetadas pela pandemia, matriculadas no 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental. 

A plataforma “Criança Alfabetizada – Compromisso Nacional Criança Alfabetizada”pode ser acessada através do link: https://criancaalfabetizada.caeddigital.net/#!/pagina-inicial