IACAPAP 2024: Farmacoterapia nos distúrbios de ansiedade
A terceira e última palestra da sessão plenária “Recent advances on Anxiety Disorders” no IACAPAP 2024 foi apresentada pelo psiquiatra italiano Benedetto Vitiello, que destacou, primeiramente, os diferentes distúrbios de ansiedade de acordo com o DSM-5:
- Distúrbio de ansiedade da separação: Sofrimento excessivo e inapropriado com relação ao desenvolvimento quando separada de figuras de apego (pais ou cuidadores);
- Distúrbio de ansiedade social: ansiedade ou medo intenso sobre situações sociais onde a pessoa pode ser avaliada por outras;
- Distúrbio de ansiedade generalizada: preocupação persistente e excessiva presente na maioria dos dias em relação a múltiplas áreas da vida cotidiana;
- Distúrbio de pânico: episódios repentinos de sofrimento psicológico e físico devastadores, incluindo medo ou desconforto intenso;
- Fobia simples ou específica: medo irracional e excessivo de uma situação específica ou de um objeto;
- Atenção: A ansiedade pode vir em contextos de outros distúrbios, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA) e síndrome de Tourette.
De acordo com o Dr. Vitiello, a primeira abordagem terapêutica da ansiedade em crianças e adolescentes é baseada em:
- Cognitiva:
- Psicoeducação;
- Reestruturação cognitiva (abordando a evitação);
- Aceitação de situações ou emoções.
- Comportamental:
- Exposição gradual com prevenção de resposta.
Modalidades de tratamento de distúrbios de ansiedade
- TCC: Exposição e prevenção de resposta;
- Farmacoterapia: Antidepressivos (ISRSN);
- Tratamentos combinados.
Benzodiazepínicos
Segundo o palestrante, o uso de benzodiazepínicos não é uma abordagem baseada em evidências para o tratamento de transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes. Há poucos ensaios pequenos, sem separação clara com o placebo e preocupações sobre seus efeitos adversos.
Estudos mostrados pelo Dr. Vitiello
- King et al., 2009: O uso de citalopram não mostrou evidências para o tratamento de comportamento repetitivo em crianças e adolescentes com TEA. Análise secundária de Simonoff et al., 2022: O mesmo fármaco não melhorou significativamente a ansiedade em crianças com TEA;
- Locher et al., 2017: Em comparação com o placebo, os ISRS e os ISRSN são mais eficazes em crianças e adolescentes. Entretanto, o benefício é modesto e varia conforme o distúrbio, sendo maior para o transtorno de ansiedade do que para outras condições. A resposta ao placebo é considerável, especialmente na depressão. Eventos adversos graves ocorrem com mais frequência com ISRS e IRSN do que com placebo;
- Politte et al., 2018: A guanfacina de liberação prolongada não foi superior ao placebo para ansiedade;
- Mills e Strawn, 2020: Em crianças com TOC e transtornos de ansiedade, os ISRS, em comparação ao placebo, estão associados a eventos adversos específicos e a uma maior descontinuação devido a esses eventos, embora sua tolerabilidade seja semelhante entre transtornos de ansiedade e TOC. Os ISRS têm mais chances de causar ativação do que os ISRSN;
- Beversdorf et al., 2024: O propranolol não teve impacto nas medidas de interação social ou na linguagem, mas parece ter de um efeito benéfico no manejo da ansiedade em crianças e adultos jovens com TEA;
- Silva Júnior et al., 2024: O extrato de cannabis rico em canabidiol melhora a interação social no TEA e de outras características que, frequentemente, coexistem (reduz a ansiedade e aumenta a interação social). Ademais, possui poucos efeitos adversos graves.
Mensagens finais do palestrante
- ISRS e ISRSN permanecem os únicos fármacos com eficácia comprovada;
- Benzodiazepínicos e quetiapina são usados de forma off-label, mas sem evidências em estudos controlados;
- Há uma necessidade de se desenvolver um tratamento efetivo da ansiedade no contexto de certas condições específicas como o TEA, mutismo seletivo e síndrome de Tourette.
Confira os destaques do IACAPAP 2024!
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