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Pediatria24 maio 2024

IACAPAP 2024: Estaria o transtorno do espectro autista muito ampliado?

Matias Irarrazaval defende que não houve ampliação do TEA, enquanto Jan Buitelaar argumenta que sim, alertando para diagnósticos excessivos e sobrecarga nos sistemas de saúde.

No congresso anual da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP), algumas palestras têm envolvido debates sobre opiniões diferentes acerca de um tema. Nesta quinta-feira, o tema abordado foi o transtorno do espectro autista (TEA). Há o questionamento entre os profissionais de saúde se o espectro foi excessivamente ampliado nos últimos manuais diagnósticos ou não.

Não há ampliação do diagnóstico ou resultados conflitantes?

Inicialmente, Matias Irarrazaval foi convidado para defender a posição do “não”. Ele apresenta dados que corroboram com um aumento do diagnóstico do transtorno, mas não acredita que isso seja excessivo. Na verdade, ele defende que os estudos sobre o assunto apresentam resultados conflitantes. Além do mais, ele defende que o diagnóstico talvez seja excessivo em algumas populações, mas não em outras, onde o subdiagnóstico predomina.

É possível também que iniciativas educativas sobre o transtorno e a maior divulgação na mídia tenham melhorado o reconhecimento por parte dos pais, dos professores e da população em geral, fazendo com que mais casos suspeitos procurem avaliação. Também deve-se considerar as mudanças nos critérios diagnósticos. Muitas dessas foram alvos de críticas, mas Matias considera que o DSM-5 passou a apresentar critérios mais restritos, enquanto a CID-11 separa as principais características do TEA dos transtornos globais do desenvolvimento. Essas mudanças teriam como objetivo aumentar a precisão dos diagnósticos e não a expansão dos critérios, em sua opinião.

Finalmente, ele ressalta a importância dos profissionais treinados na área e do uso de ferramentas que auxiliem diagnósticos, especialmente nos casos mais sutis (por exemplo, pacientes do gênero feminino). Ele conclui relembrando que o diagnóstico precoce, permite o início rápido de intervenções benéficas para os pacientes.

Sim, o espectro está muito ampliado

Em contraste, defendendo que ”sim, o espectro está muito ampliado”, encontra-se Jan Buitelaar, que começa refletindo sobre os domínios afetados no TEA segundo o DSM. A evolução do manual teria caminhado com um aumento considerável dos casos nos últimos anos. Ele também acredita que haja, de fato, um aumento da prevalência dos casos, sendo que uma boa parte pode se relacionar a casos com QI normal ou aumentado.

O que estaria também relacionado a alguns pontos citados anteriormente: maior difusão de informações sobre o transtorno, melhores diagnósticos e mais precoces, disponibilidade de serviços especializados, mudanças políticas, bem como um aumento na idade com que se tem filhos e a ocorrência de fatores perinatais.

Há que se destacar que muitos estudos sobre o transtorno provém dos EUA em comparação com outras regiões. Além disso, o TEA se caracteriza por um transtorno que apresenta diferentes níveis de gravidade, o que reflete em diferentes necessidades de suporte conforme o caso.

Confusão do diagnóstico?

Considerando isso, é possível que haja uma confusão do diagnóstico com condições leves que podem se assemelhar a um dos domínios do TEA. Este é o caso do transtorno pragmático da comunicação e da presença de traços subclínicos do transtorno, que merecem serem mais estudados. Embora a presença de traços do transtorno possa se relacionar às comorbidades e às dificuldades no funcionamento, elas ainda não são suficientes para a realização de um diagnóstico, devendo ser encarados como uma característica do indivíduo, mas que não o define (por exemplo, dificuldades na socialização).

De outra forma, patologizar e medicar esses traços, que representam um desvio na norma, têm seus perigos e vai de encontro aos movimentos de neurodiversidade. A última preocupação citada pelo palestrante é com a sobrecarga dos sistemas de saúde, citando o exemplo da Inglaterra no período pós-pandêmico, assim como a presença de ganhos secundários e a ocorrência de estigma.

Antes de concluir, o Dr. Jan fez questão de ressaltar que a divulgação feita por pacientes com o transtorno sobre como vivem sua realidade pode ser enriquecedor e contribuir para as pesquisas, mas deve-se ter cautela com o autodiagnóstico. Para ele, o espectro não deve ser ampliado por ser confuso, desnecessário e criar novos problemas ao invés de resolver os anteriores.

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