IACAPAP 2024: Discussões sobre a síndrome de Tourette
A síndrome de Tourette (ou “síndrome de Gilles de la Tourette”) foi um dos temas abordados no quarto dia do IACAPAP 2024 pela psiquiatra e pesquisadora Valsamma Eapen (Austrália). A Dra. Eapen mostrou resultados de alguns de seus estudos sobre o tema.
Síndrome de Tourette (Eapen et al., 2017)
A síndrome de Tourette (ST) é um transtorno do neurodesenvolvimento que surge na infância e é marcado pela presença de múltiplos tiques motores e vocais. Esses tiques geralmente aparecem antes dos 10 anos, seguem um curso variável de aumento e diminuição, e tendem a melhorar com o passar dos anos.
Em 90% dos pacientes, a ST é acompanhada por condições comórbidas ou coexistentes. Exemplos:
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
- Comportamento obsessivo-compulsivo;
- Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH);
- Transtorno do espectro do autismo (TEA), em alguns casos);
- Etiologia genética compartilhada:
- Enxaqueca — consideravelmente mais frequente na ST do que na população em geral e em várias populações de controle, com evidências interessantes de uma.
- Sem uma etiologia compartilhada:
- Depressão;
- Ansiedade não relacionada ao TOC;
- Ansiedade de separação;
- Explosões impulsivas de raiva;
- Transtornos de arrancar cabelos e cutucar a pele;
- Abuso de substâncias;
- Transtorno de conduta;
- Transtorno desafiador de oposição;
- Transtornos de personalidade;
- Transtornos de aprendizagem.
Fluxograma para o manejo da ST (Eapen et al., 2017)
Na suspeita de ST, o diagnóstico deve ser confirmado considerando outros transtornos de tiques e realizando as investigações indicadas.
- Suspeita de ST: iniciar psicoeducação;
- Se há tiques, mas sem indicação de tratamento, o paciente deve ser monitorado;
- Se há tiques e o paciente apresenta comorbidades com tratamento prioritário, estas comorbidades devem ser tratadas;
- Se há indicação para o tratamento de tiques, este deve ser feito, de preferência (e se houver disponibilidade), por terapia comportamental (terapia de reversão de hábitos, intervenção comportamental abrangente para tiques, exposição e prevenção de resposta). Se os tiques ainda estiverem com indicação de tratamento, devem ser avaliados: combinação de farmacoterapia e terapia comportamental e/ou farmacoterapia combinada com diferentes agentes. Se os tiques ainda estiverem com indicação de tratamento, deve, ser consideradas terapias alternativas em centros especializados (estimulação cerebral profunda, canabinoides e toxina botulínica, entre outros);
- Se há indicação para o tratamento de tiques, com preferência para tratamento farmacológico, a farmacoterapia deve ser iniciada.
Em suma: Se os sintomas não forem angustiantes e/ou não causarem disfunção, é recomendada a terapia de suporte, como a psicoeducação. No caso de sintomas angustiantes, devem ser aplicadas intervenções farmacológicas ou não farmacológicas. No entanto, se houver comorbidades mais incapacitantes que a ST, essas devem ser priorizadas no tratamento. Mesmo com o sucesso do tratamento, o monitoramento contínuo permanece essencial.
Tratamento (Eapen et al., 2022)
- Explicar, tranquilizar e fornecer psicoeducação aos pais, professores e colegas;
- Consultar grupos de apoio à ST;
- Tratamento não farmacológico:
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC);
- Terapia de reversão de hábitos;
- Exposição e prevenção de resposta;
- Apoio à aprendizagem e à sala de aula.
- Tratamento de comorbidades:
- TOC: TCC e inibidores seletivos de recaptação da serotonina;
- TDAH: clonidina e guanfacina podem auxiliar nos tics e no TDAH; estimulantes; atomoxetina.
- Farmacoterapia:
- Alfa-adrenérgicos (clonidina, guanfacina);
- Antipsicóticos de segunda geração (risperidona, aripiprazol);
- Benzamidas (tiaprida, sulpirida);
- Antipsicóticos de primeira geração (haloperidol, pimozida);
- Outros agentes: injeção de toxina botulínica; canabinoides;
- Tiques graves refratários: estimulação cerebral profunda.
Impacto da síndrome de Tourette na qualidade de vida dos pacientes (Eapen et al., 2017)
A ST afeta crianças, adolescentes e adultos globalmente e tem efeitos profundos na qualidade de vida (QV), juntamente com suas comorbidades, durante toda a vivência do indivíduo. A QV é acometida em diversos domínios, influenciados por tiques e outras comorbidades associadas à ST:
- Impactos psicológicos;
- Impactos obsessivos;
- Impactos físicos;
- Impactos na escola e/ou no trabalho;
- Impactos cognitivos.
Confira os destaques do IACAPAP 2024!
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