IACAPAP 2024: Atualidades na abordagem do TEA em pediatria
O congresso anual da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP) está sendo realizado no Rio de Janeiro de 20 a 24 de maio de 2024 e seu lema é “Child development, mental health challenges, and the future of nations“. Um dos grandes destaques foi o simpósio “Comprehensive insights into Autism Spectrum Disorder: clinical features, genetic etiology, and contemporary treatment approaches”, conduzido por um grupo da Turquia. Neste simpósio, o médico turco Hakan Öğütlü abordou o diagnóstico clínico do transtorno do espectro autista (TEA).
O Dr. Ogutlu enfatizou a necessidade de rastreio precoce através da avaliação dos marcos de desenvolvimento infantil nas consultas de puericultura, especialmente nos primeiros três anos de vida, período onde manifestações clínicas precoces surgem:
0 a 1 ano
- Não se vira quando chamado pelo nome;
- Contato visual limitado;
- Resposta limitada ao sorriso;
- Arrulhos e balbucios raros ou ausentes;
- Não desenvolve palavras isoladas com um ano de idade;
- Não apresenta ansiedade de separação;
- O desenvolvimento motor é geralmente normal.
2 a 3 anos
- Idade mais comum de diagnóstico;
- Prefere ficar sozinho;
- Não desenvolve um sorriso social;
- Não tenta atrair a atenção dos adultos;
- Relutante em brincar com colegas;
- Contato visual limitado;
- Não olha quando chamado;
- Nenhuma expressão de emoção;
- Indiferente às emoções dos outros;
- Fala atrasada, vocabulário limitado;
- Comportamentos estereotipados como andar na ponta dos pés, bater as mãos, girar;
- Interesses especiais: objetos giratórios, dispositivos eletrônicos, etiquetas;
- Objetos usados de maneira não funcional: cheirando, lambendo, etc.
4 a 5 anos
- Gestos e expressões faciais limitados;
- Não brinca com colegas nem constrói relacionamentos;
- Não desenvolve brincadeiras imaginativas;
- Não consegue compreender as emoções dos outros e não consegue expressar as suas próprias emoções;
- A maioria ainda não consegue falar; alguns começam a falar com palavras isoladas ou frases curtas; observam-se neologismos;
- Estereótipos;
- Interesses especiais;
- Rituais (brincar com os mesmos brinquedos, alinhar brinquedos).
Diagnóstico clínico
Baseado em:
- Entrevista com os pais para obtenção de uma história detalhada do desenvolvimento;
- Observação da criança, incluindo avaliações presenciais e o auxílio de vídeos;
- Aplicação de testes clínicos, como o Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS), Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-R) e Developmental, Dimensional and Diagnostic Interview (3DI);
- Aplicação das escalas Childhood Autism Rating Scale (CARS) e Autism Spectrum Screening Questionnaire (ASSQ);
- Exame físico;
- Avaliação genética;
- Avaliação de comorbidades.
Em todo exame psiquiátrico, devem ser avaliados:
- Cognitivo;
- Socioemocional;
- Linguagem-comunicativa;
- Comportamento;
- Funções adaptativas;
- Autocuidados;
- Questões adicionais de psiquiatria/clínicas.
O palestrante mostrou os resultados de um estudo que contou com sua participação, publicado no periódico Autism Research em 2022 (A new model for recognition, referral, and follow-up of autism spectrum disorder: A nationwide program – Dursun et al.) Os pesquisadores apresentaram um modelo nacional turco para o reconhecimento e encaminhamento voltado à identificação precoce do TEA. O modelo mais recomendado para o rastreio do autismo é o baseado em escala (scale-based screening – SBS). No entanto, a maioria dos países não consegue implementar esse modelo em seus sistemas de saúde. Os resultados deste estudo, que abrange a maior amostra até agora, sugerem que a SBS pode não ser a única maneira de triagem do TEA e que métodos alternativos devem ser explorados, uma vez que há uma clara necessidade de abordagens exploratórias.
Fatores associados a bom prognóstico do TEA
- Desenvolvimento da atenção conjunta antes dos 4 anos;
- Desenvolvimento funcional da linguagem antes dos 5 anos;
- Habilidades funcionais de jogo;
- Alto nível intelectual (QI > 70);
- Baixa gravidade dos sintomas de TEA;
- Diagnóstico e intervenção precoce.
Comorbidades
Indivíduos com TEA apresentam condições médicas ou psiquiátricas concomitantes. As comorbidades comuns complicam o quadro clínico e influenciam o manejo e os desfechos do TEA:
- Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH);
- Depressão;
- Transtornos de ansiedade;
- Transtorno bipolar;
- Síndrome de Tourette e transtornos de tiques;
- Esquizofrenia de início na infância.
TDAH e transtornos de tiques
- 30 a 50% dos indivíduos com TEA têm TDAH;
- 66% das pessoas com TDAH apresentam características de TEA;
- Ambos os distúrbios têm predisposições genéticas, são mais comuns em meninos e frequentemente diagnosticados durante os anos pré-escolares;
- Os transtornos de tiques são mais elevados no TEA do que na população em geral;
- O transtorno bipolar é comum e surge frequentemente durante a adolescência em pacientes com TEA.
Ansiedade e depressão
- Até 80% das crianças com TEA apresentam um ou mais transtornos de ansiedade, incluindo transtorno de ansiedade de separação (TAS), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e fobia social;
- A ansiedade exacerba os sintomas do TEA, levando ao aumento da evitação social, problemas de sono e dificuldades nas atividades escolares;
- 10-50% dos pacientes jovens com TEA apresentam depressão, que muitas vezes é mais grave e duradoura, em comparação com indivíduos sem TEA.
Em suma…
O tema abordado pelo Dr. Hakan Öğütlü é de grande relevância para pediatras, pais e profissionais de saúde em geral, destacando a importância de uma vigilância atenta e das abordagens diagnósticas para o TEA. A conscientização e o conhecimento sobre esses aspectos podem contribuir para melhorar os desfechos de saúde e o bem-estar das crianças com autismo e suas famílias.
Fique por dentro dos destaques do IACAPAP 2024!
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