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Pediatria22 maio 2024

IACAPAP 2024: Atualidades na abordagem do TEA em pediatria

Neste simpósio, o médico turco Hakan Öğütlü abordou o diagnóstico clínico do transtorno do espectro autista (TEA). 

O congresso anual da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP) está sendo realizado no Rio de Janeiro de 20 a 24 de maio de 2024 e seu lema é “Child development, mental health challenges, and the future of nations“. Um dos grandes destaques foi o simpósio “Comprehensive insights into Autism Spectrum Disorder: clinical features, genetic etiology, and contemporary treatment approaches”, conduzido por um grupo da Turquia. Neste simpósio, o médico turco  Hakan Öğütlü abordou o diagnóstico clínico do transtorno do espectro autista (TEA).  

O Dr. Ogutlu enfatizou a necessidade de rastreio precoce através da avaliação dos marcos de desenvolvimento infantil nas consultas de puericultura, especialmente nos primeiros três anos de vida, período onde manifestações clínicas precoces surgem: 

0 a 1 ano

  • Não se vira quando chamado pelo nome; 
  • Contato visual limitado; 
  • Resposta limitada ao sorriso; 
  • Arrulhos e balbucios raros ou ausentes; 
  • Não desenvolve palavras isoladas com um ano de idade; 
  • Não apresenta ansiedade de separação; 
  • O desenvolvimento motor é geralmente normal. 

2 a 3 anos 

  • Idade mais comum de diagnóstico; 
  • Prefere ficar sozinho; 
  • Não desenvolve um sorriso social; 
  • Não tenta atrair a atenção dos adultos; 
  • Relutante em brincar com colegas; 
  • Contato visual limitado; 
  • Não olha quando chamado; 
  • Nenhuma expressão de emoção;
  • Indiferente às emoções dos outros; 
  • Fala atrasada, vocabulário limitado; 
  • Comportamentos estereotipados como andar na ponta dos pés, bater as mãos, girar; 
  • Interesses especiais: objetos giratórios, dispositivos eletrônicos, etiquetas; 
  • Objetos usados de maneira não funcional: cheirando, lambendo, etc. 

4 a 5 anos 

  • Gestos e expressões faciais limitados; 
  • Não brinca com colegas nem constrói relacionamentos; 
  • Não desenvolve brincadeiras imaginativas; 
  • Não consegue compreender as emoções dos outros e não consegue expressar as suas próprias emoções; 
  • A maioria ainda não consegue falar; alguns começam a falar com palavras isoladas ou frases curtas; observam-se neologismos; 
  • Estereótipos; 
  • Interesses especiais; 
  • Rituais (brincar com os mesmos brinquedos, alinhar brinquedos). 

Diagnóstico clínico 

Baseado em: 

  • Entrevista com os pais para obtenção de uma história detalhada do desenvolvimento; 
  • Observação da criança, incluindo avaliações presenciais e o auxílio de vídeos; 
  • Aplicação de testes clínicos, como o Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS), Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-R) e Developmental, Dimensional and Diagnostic Interview (3DI);
  • Aplicação das escalas Childhood Autism Rating Scale (CARS) e Autism Spectrum Screening Questionnaire (ASSQ); 
  • Exame físico; 
  • Avaliação genética; 
  • Avaliação de comorbidades. 

Em todo exame psiquiátrico, devem ser avaliados: 

  • Cognitivo; 
  • Socioemocional; 
  • Linguagem-comunicativa; 
  • Comportamento; 
  • Funções adaptativas; 
  • Autocuidados; 
  • Questões adicionais de psiquiatria/clínicas. 

O palestrante mostrou os resultados de um estudo que contou com sua participação, publicado no periódico Autism Research em 2022  (A new model for recognition, referral, and follow-up of autism spectrum disorder: A nationwide program – Dursun et al.) Os pesquisadores apresentaram um modelo nacional turco para o reconhecimento e encaminhamento voltado à identificação precoce do TEA. O modelo mais recomendado para o rastreio do autismo é o baseado em escala (scale-based screening – SBS). No entanto, a maioria dos países não consegue implementar esse modelo em seus sistemas de saúde. Os resultados deste estudo, que abrange a maior amostra até agora, sugerem que a SBS pode não ser a única maneira de triagem do TEA e que métodos alternativos devem ser explorados, uma vez que há uma clara necessidade de abordagens exploratórias. 

Fatores associados a bom prognóstico do TEA 

  • Desenvolvimento da atenção conjunta antes dos 4 anos; 
  • Desenvolvimento funcional da linguagem antes dos 5 anos; 
  • Habilidades funcionais de jogo; 
  • Alto nível intelectual (QI > 70);
  • Baixa gravidade dos sintomas de TEA; 
  • Diagnóstico e intervenção precoce. 

Comorbidades 

Indivíduos com TEA apresentam condições médicas ou psiquiátricas concomitantes. As comorbidades comuns complicam o quadro clínico e influenciam o manejo e os desfechos do TEA: 

  • Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); 
  • Depressão; 
  • Transtornos de ansiedade; 
  • Transtorno bipolar; 
  • Síndrome de Tourette e transtornos de tiques; 
  • Esquizofrenia de início na infância. 

TDAH e transtornos de tiques  

  • 30 a 50% dos indivíduos com TEA têm TDAH;  
  • 66% das pessoas com TDAH apresentam características de TEA; 
  • Ambos os distúrbios têm predisposições genéticas, são mais comuns em meninos e frequentemente diagnosticados durante os anos pré-escolares; 
  • Os transtornos de tiques são mais elevados no TEA do que na população em geral; 
  • O transtorno bipolar é comum e surge frequentemente durante a adolescência em pacientes com TEA. 

Ansiedade e depressão 

  • Até 80% das crianças com TEA apresentam um ou mais transtornos de ansiedade, incluindo transtorno de ansiedade de separação (TAS), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e fobia social; 
  • A ansiedade exacerba os sintomas do TEA, levando ao aumento da evitação social, problemas de sono e dificuldades nas atividades escolares; 
  • 10-50% dos pacientes jovens com TEA apresentam depressão, que muitas vezes é mais grave e duradoura, em comparação com indivíduos sem TEA. 

Em suma…

O tema abordado pelo Dr. Hakan Öğütlü é de grande relevância para pediatras, pais e profissionais de saúde em geral, destacando a importância de uma vigilância atenta e das abordagens diagnósticas para o TEA. A conscientização e o conhecimento sobre esses aspectos podem contribuir para melhorar os desfechos de saúde e o bem-estar das crianças com autismo e suas famílias. 

Fique por dentro dos destaques do IACAPAP 2024!

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