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Pediatria23 maio 2024

IACAPAP 2024: Alerta sobre suicídio e comportamentos suicidas e autolesivos

Simpósio alerta profissionais de saúde sobre comportamentos em crianças e adolescentes

Um simpósio realizado no terceiro dia do congresso anual da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP), no Rio de Janeiro, abordou o suicídio e os comportamentos suicidas e autolesivos em pediatria.

A primeira palestra, ministrada pela Dra. Isabel de Andrade Amato (São Paulo/SP), demostrou que a autolesão não suicida (ALNS) é um dos mais fortes preditores de morte por suicídio em adolescentes, aumentando em cerca de dez vezes o risco. A ALNS e o suicídio representam um continuum: a ALNS leva a pensamentos, planos e tentativas, culminando no suicídio propriamente dito.

De acordo com a psiquiatra, estudos mostram que, a cada 1.000 adolescentes com 15 a 19 anos de idade, há em média, 4 a 5 idas anuais à emergência ocasionadas por tentativas de suicídio. Essa procura teve um aumento de 92% nos últimos anos. Com base no estudo brasileiro publicado por Fogaça e colaboradores (2023), a Dra. Isabel destacou que o Brasil, infelizmente, está entre os dez países com maiores números absolutos de óbitos por suicídio (de 2006 a 2015, houve um aumento de 24% de suicídios entre adolescentes em seis grandes cidades brasileiras). Outro estudo citado pela palestrante (Guan e colaboradores, 2024) avaliou 412 adolescentes com comportamentos de ALNS em pacientes ambulatoriais, e apontou que nós funcionais da ALNS, como “lidar com a tristeza e decepção” e “aliviar o estresse ou a ansiedade” demonstraram a correlação mais forte entre ALNS, sintomas depressivos e ansiedade em adolescentes. Por fim, de todos os adolescentes com comportamentos de autolesão que dão entrada em serviços de emergência, 84,1% ocorrem por intoxicação exógena (predomínio de intoxicação medicamentosa em meninas e alcoólica em meninos) (Cloutier e colaboradores, 2010).

Fatores de risco

A Dra. Isabel citou os resultados do estudo de Fogaça e colaboradores (2023) no qual 40,9% dos adolescentes em um departamento de urgência e emergência, com tentativa de suicídio, tinham um problema de saúde mental prévio registrado em prontuário, 39% tinham história prévia de tentativa de suicídio, 39% apresentavam relatos de conflito familiar e 25% se automutilavam. Ademais, os autores descreveram que adolescentes mais jovens tinham associação estaticamente significativa com automutilação, bullying, abuso físico, conflitos familiares, vivência com pais separados e convivência com alguém próximo que tentou suicídio. Nos meninos, também tiveram significância estatística o fato de pertencerem ao grupo de LGBTQIA+ e o consumo frequente de álcool.

Guideline NICE 2022

A palestrante abordou as indicações de hospitalização em pacientes com tentativas de suicídio ou ALNS:

  • Autolesão associada a alto risco de suicídio;
  • A autolesão que coexiste com comorbidades graves que requerem tratamento hospitalar;
  • A autolesão que põe em risco a saúde física ou o funcionamento social do paciente;
  • Falha no tratamento ambulatorial.

Critérios essenciais para atendimento ambulatorial (suicídio de adolescentes)

A Dra. Isabel citou o artigo de Kennedy e colaboradores que menciona esses critérios (todos devem ser atendidos):

  1. Não há necessidade de tratamento hospitalar, incluindo delirium ou intoxicação;
  2. Não há história de tentativa de suicídio (grave ou indeterminado), transtorno psiquiátrico ou abuso de substâncias;
  3. O paciente não é ativamente suicida (não tem intenção ou plano de cometer suicídio);
  4. Deve haver um adulto na casa com quem o adolescente tem um bom relacionamento;
  5. O adulto concorda e é capaz de manter um monitoramento rigoroso do paciente até a consulta ambulatorial agendada;
  6. O adulto concorda em remover ou proteger todas as armas de fogo e medicamentos letais, drogas e álcool;
  7. Tanto o adolescente quanto o adulto devem ser informados sobre quem contatar ou retornar ao pronto-socorro se a condição do paciente piorar;
  8. Deve haver acompanhamento organizado para avaliação e tratamento adicionais;
  9. O adolescente e o adulto concordam com o plano e cumprirão as recomendações fornecidas pela equipe de cuidados.

Comportamentos da criança e do adolescente e o desejo automutilação

A palestrante expôs a temática, de grande importância não apenas para o psiquiatra, mas para todos os profissionais de saúde que lidam com crianças e adolescentes.

Desejo pequeno: 

  • Brincar com pets;
  • Ouvir e cantar músicas;
  • Escrever, desenhar, pintar;
  • Chamar um amigo;
  • Tomar um banho morno;
  • Fazer uma caminhada;
  • Contar a respiração, meditar ou praticar relaxamento.

Desejo moderado:

  • Comportamentos sensorialmente intensos ou não dolorosos que não causam sofrimento, como chupar limão, correr, andar de bicicleta, bater no travesseiro, dançar, usar caneta vermelha para marcar áreas onde possa se machucar.

Desejo intenso:

  • Estimulação moderadamente dolorosa e que não causa lesões: mastigar pimenta, tomar banho frio, colocar as mãos em água gelada, andar com grãos nos sapatos, aplicar gelo.

Tratamento

De acordo com a Dra. Isabel:

  • Não há evidências de uso de medicamentos para reduzir o comportamento autolesivo, mas a medicação pode ser indicada para tratamento de comorbidades;
  • Para adolescentes com doenças afetivas que se automutilam, os tratamentos direcionados aos sintomas depressivos, ao invés da automutilação, podem ser mais eficazes;
  • Com relação ao lítio, não há nenhum ensaio clínico randomizado, mas tem se mostrado eficaz na redução de suicídios e de automutilação em episódios de humor;
  • Inibidores da recaptação de serotonina (especialmente fluoxetina) versus terapias comportamentais para risco de suicídio: maior melhora na ideação suicida para o tratamento combinado.

 

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