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Pediatria3 dezembro 2025

Fatores de risco para Hemorragia Intraventricular em prematuros

Revisão sistemática identifica principais fatores de risco para hemorragia intraventricular em prematuros, destacando peso ao nascer, Apgar baixo e ventilação mecânica.
Por Amanda Neves

A hemorragia intraventricular (HIV) representa uma das principais causas de morbidade e mortalidade entre recém-nascidos prematuros. 

O desenvolvimento do leito vascular cerebral depende da idade gestacional. Nesse contexto, em função da imaturidade do sistema nervoso central e das estruturas vasculares, os vasos da matriz germinativa em neonatos pré-termo apresentam maior fragilidade, tornando-se mais propensos à ruptura. Consequentemente, a hemorragia pode se estender aos ventrículos laterais, caracterizando a hemorragia intraventricular. A maioria dos casos ocorre nas primeiras 72 horas de vida. 

Essa condição está associada a desfechos neurológicos adversos, incluindo convulsões, paralisia cerebral e comprometimento cognitivo. 

Metodologia 

Neste contexto, foi conduzida uma revisão sistemática com meta-análise, com a finalidade de identificar os fatores de risco associados à ocorrência de hemorragia intraventricular em recém-nascidos prematuros, considerando tanto condições clínicas maternas e neonatais como intervenções terapêuticas empregadas no período perinatal. 

O presente estudo foi desenvolvido em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo PRISMA 2020. A análise dos dados foi realizada por meio do cálculo de riscos relativos agrupados e da avaliação da heterogeneidade entre os estudos incluídos. 

Foram selecionados estudos observacionais do tipo caso-controle ou coorte que investigassem fatores de risco para hemorragia intraventricular em pré-termos como desfecho primário. Os critérios de inclusão compreenderam publicações disponíveis até setembro de 2024, com amostras compostas por no mínimo 80 participantes, todos prematuros (idade gestacional inferior a 37 semanas). A busca bibliográfica foi realizada em bases de dados científicas como PubMed, Web of Science e Scopus. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade e análise metodológica, 30 estudos foram incluídos na meta-análise, sendo 24 do tipo coorte e 6 do tipo caso-controle. 

Resultados e discussão 

No que concerne aos resultados, entre os fatores de risco relacionados à mãe, o parto cesáreo apresentou associação estatisticamente significativa com a ocorrência de hemorragia intraventricular (RR combinado: 1,19; IC de 95% 1,08–1,30). Isso indica que o nascimento por cesariana pode aumentar a chance dessa condição nos recém-nascidos, possivelmente em razão do estresse provocado pelo procedimento cirúrgico ou por diferenças nos cuidados pós-parto adotados nesse tipo de parto.   

Por outro lado, condições maternas como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, corioamnionite e descolamento prematuro da placenta não apresentaram associação estatisticamente significativa com o desfecho em questão. 

Em relação às características neonatais, o peso ao nascer inferior ou igual a 1000 gramas esteve associado a um aumento de 94% no risco de hemorragia intraventricular (RR combinado: 1,94; IC 95%: 1,38–2,73). Em contraste, neonatos com peso superior a 1000 gramas apresentaram risco significativamente menor (RR combinado: 0,41; IC 95%: 0,29–0,57), sugerindo uma relação inversa entre o peso ao nascer e a ocorrência de hemorragia intraventricular, o que reforça a maior vulnerabilidade de recém-nascidos com extremo baixo peso. 

Adicionalmente, variáveis clínicas como escore de Apgar ≤ 5 ou 7, asfixia, plaquetopenia, doença da membrana hialina e síndrome do desconforto respiratório foram significativamente associadas ao aumento do risco de hemorragia intraventricular. Esses achados apontam para uma interação multifatorial, na qual condições sistêmicas e/ou os tratamentos aplicados podem interferir negativamente no fluxo sanguíneo cerebral e na integridade da vasculatura, favorecendo o desenvolvimento de hemorragia. 

Em contrapartida, não foi observada associação estatisticamente significativa com condições como pneumotórax (RR combinado: 2,15; IC 95%: 1,73–2,66) e sepse (RR combinado: 1,65; IC 95%: 1,31–2,07). 

No que tange às intervenções terapêuticas, a administração de corticoide no período pré-natal demonstrou efeito protetor, estando associada à redução do risco de hemorragia intraventricular (RR combinado: 0,79; IC 95%: 0,70–0,89). Esse efeito pode ser atribuído à capacidade do corticoide de auxiliar na maturação pulmonar, modular a resposta inflamatória e fortalecer a integridade da vasculatura cerebral, além de reduzir a necessidade de suporte ventilatório invasivo. 

Entretanto, intervenções como ventilação mecânica, administração de catecolaminas e uso de surfactantes mostraram-se significativamente associadas ao aumento do risco de hemorragia intraventricular. A ventilação mecânica apresentou um RR combinado de 3,27 (IC 95%: 2,77–3,86) e o uso de surfactante, um RR de 2,32 (IC 95%: 1,61–3,35). A ventilação mecânica, especialmente quando prolongada, pode provocar alterações no fluxo sanguíneo cerebral em função da liberação de citocinas inflamatórias, o que contribui para a elevação do risco de hemorragia. 

Conclusão 

Em conclusão, este estudo identifica fatores clínicos e assistenciais associados ao risco de hemorragia intraventricular em prematuros. A identificação desses fatores de risco auxilia não apenas na capacidade de predição de casos com maior probabilidade de desenvolver hemorragia intraventricular, mas também favorece o reconhecimento precoce e a implementação de estratégias direcionadas à mitigação de desfechos neurológicos adversos. 

Autoria

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Amanda Neves

Editora médica assistente da Afya ⦁ Residência de Pediatria pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ⦁ Graduação em Medicina pela UFPE

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