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Pediatria22 março 2025

Eventração diafragmática congênita: devemos manter o tratamento cirúrgico?

Estudo teve como objetivo descrever as características de crianças com eventração diafragmática congênita e comparar os resultados entre tratamento cirúrgico e conservador

A eventração diafragmática consiste na elevação anormal do diafragma, que pode ser congênita ou adquirida, ocorrendo devido à paralisia ou à fraqueza dessa musculatura. 

O quadro clínico apresenta um espectro amplo, incluindo desde pacientes assintomáticos até pacientes com quadros graves de insuficiência respiratória. Os pacientes assintomáticos são a maioria, sendo diagnosticados, na maioria das vezes, de forma incidental, através de exames de imagem realizados por outros motivos. 

Os pacientes sintomáticos geralmente são recém-nascidos que apresentam graus variados de alteração respiratória. 

A conduta nos casos de eventração diafragmática vem sendo cada vez mais discutida, principalmente em relação ao manejo dos casos assintomáticos e oligossintomáticos.  A abordagem conservadora diante desses casos está sendo cada vez mais adotada. 

Um estudo recente, de 2025, realizado na França teve como objetivo descrever as características de crianças com eventração diafragmática congênita e comparar os resultados do tratamento cirúrgico e do tratamento conservador. 

Métodos e discussão 

Foi realizado um estudo de coorte multicêntrico retrospectivo, com dados de 22 departamentos de cirurgia pediátrica, incluindo pacientes menores de 16 anos com diagnóstico de eventração diafragmática congênita no período entre 2010 e 2021. 

Foram excluídos do estudo os pacientes com diagnóstico de hérnia diafragmática (conforme descrição cirúrgica) e os pacientes com eventração de causa adquirida (secundária a cirurgias, trauma obstétrico ou etiologia oncológica). 

Os dados coletados incluíram sexo, idade ao diagnóstico e tratamento, doenças associadas, quadro clínico, lateralidade e resultado de exames de imagem. 

Os sintomas respiratórios e digestivos relevantes ou potencialmente associados à eventração diafragmática congênita foram considerados. 

O diagnóstico de pacientes acima de 12 meses de vida foi definido como diagnóstico tardio. Foram comparados os pacientes submetidos a tratamento cirúrgico primário (pacientes não elegíveis para tratamento conservador) e secundário (pacientes com indicação de cirurgia após tratamento conservador inicial), e a tratamento conservador. 

Os dados de manejo incluíram a indicação e o tipo de tratamento adotado (cirúrgico ou conservador), assim como a presença de complicações intraoperatórias e pós-operatórias precoces. 

Além disso, foram coletados dados do seguimento, tais como resultados de exame clínico, presença de sintomas, nível da cúpula diafragmática em exames de imagem, complicações pós-operatórias, necessidade de reinternação e reoperação. 

O tratamento conservador foi definido como seguimento clínico e radiológico, sem intervenção cirúrgica. 

A falha do tratamento conservador foi definida como a necessidade de procedimento cirúrgico. O sucesso do tratamento foi definido como melhora ou resolução dos sintomas.  

Os dados coletados foram submetidos a análise estatística. 

Resultados 

No total, 175 pacientes foram identificados com dignóstico de eventração diafragmática. Desses, 36 foram excluídos por serem de origem adquirida. Dos 139 pacientes incluídos, a maioria era do sexo masculino (68,3%) e nascidos a termo. 

Em relação à lateralidade, o lado esquerdo representou 33,1%, com apenas 1 caso de bilateralidade. 

As doenças associadas foram identificadas em 34,5% dos pacientes. A idade mediana de diagnóstico foi de 8 meses, com 28,1% de diagnósticos tardios (após 12 meses) e 5 pacientes com suspeita no período pré-natal. Os pacientes sintomáticos representaram 64,7% dos casos. 

Os exames radiológicos evidenciaram que não houve diferença no nível da cúpula diafragmática e a presença de anormalidades pulmonares entre pacientes sintomáticos e assintomáticos. 

O tratamento inicial conservador foi indicado em 37,5% dos casos, com mediana de acompanhamento de 9 meses, obtendo sucesso em 52% dos pacientes. Houve falha desse tratamento em 48% dos casos. 

O tratamento inicial foi cirúrgico em 62,6% dos pacientes, com 19,6% com complicações cirúrgicas. 

O tempo médio de seguimento de toda a coorte foi de 23,5 meses. Houve óbito em 7 casos, sendo 4 não relacionados à eventração diafragmática congênita. 

No grupo dos pacientes sintomáticos, 25,3% mantiveram sintomas persistentes no último acompanhamento, enquanto 65 pacientes apresentaram resolução completa dos sintomas. 

A comparação entre os tratamentos evidenciou que 80,5% foram submetidos a procedimento cirúrgico e 19,5% foram tratados conservadoramente. Ambos os grupos eram semelhantes em relação à idade, comorbidades associadas e lateralidade. 

Baseado nos dados de indicação cirúrgica e presença de sintomas, o critério composto de “presença de sintomas e/ou cúpula diafragmática igual ou acima do sexto espaço intercostal” pareceu ser o melhor preditor de indicação cirúrgica, porém com especificidade baixa. 

Após o tempo total de seguimento 79% dos pacientes pareceram estar clinicamente estabilizados, independentemente do tipo de tratamento adotado. 

O estudo concluiu que a indicação cirúrgica deve ser cautelosa, visto que a taxa de complicações é de 28%, além da taxa de recorrência de 7%. Além disso, 27% dos casos podem apresentar resolução espontânea. 

O que levar para casa? 

 Embora a cirurgia seja necessária em casos de sintomas respiratórios e digestivos, ela parece estar mais associada à melhora radiológica do abaulamento diafragmático do que com a resolução dos sintomas. 

Sendo assim, diante de um estudo que, apesar do viés de seleção por ser multicênctrico e retrospectivo, consiste em uma das maiores séries de casos de eventração diafragmática publicada, ratificamos a necessidade de ter critérios para a indicação do tratamento cirúrgico, mantendo o entendimento que os casos assintomáticos apresentam benefício no tratamento conservador inicial. 

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Referências bibliográficas

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