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Pediatria3 junho 2022

Estudo avaliou a sensibilidade do escore pSOFA em emergências pediátricas

Pesquisadores demonstraram que pacientes pediátricos com escores crescentes do instrumento pSOFA apresentaram risco aumentado de óbito.

Em um relevante estudo publicado no JAMA Pediatrics, pesquisadores demonstraram que pacientes pediátricos com escores crescentes do instrumento pediatric Sequential Organ Failure Assessment (pSOFA) apresentaram risco aumentado de óbito; no entanto, no mesmo estudo, o pSOFA não se mostrou adequadamente sensível para funcionar como uma ferramenta de triagem para infecção, sepse ou choque séptico em emergências infantis.

Leia também: Sepse em pediatria: como identificar a partir dos dados de rotina clínica?

As definições de sepse pediátrica evoluíram, e alguns estudiosos propuseram o uso da mesma medida usada em adultos para quantificar a disfunção orgânica: um escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) de 2 ou mais no cenário de suspeita de infecção. A adaptação denominada pSOFA mostrou excelente discriminação para mortalidade em crianças em estado crítico, mas não havia sido avaliada no setor de emergência pediátrica. Diante dessa necessidade de avaliação, os objetivos do estudo consistiram em delinear as características do pSOFA para prever a mortalidade hospitalar entre todos os pacientes e em pacientes com suspeita de infecção tratados em emergências de pediatria.

Estudo avaliou a sensibilidade do escore pSOFA em emergências pediátricas

Metodologia

Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo, utilizando a estratégia STROBE (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology). Os dados foram colhidos em nove hospitais infantis dos Estados Unidos incluídos no Pediatric Emergency Care Applied Research Network (PECARN) Registry e corresponderam ao período de 1º de janeiro de 2012 a 31 de janeiro de 2020. Esses dados foram analisados de 1º de fevereiro de 2020 a 18 de abril de 2022. Foram incluídas todas as consultas de emergência efetuadas em pacientes menores de 18 anos de idade.

A pontuação pSOFA foi atribuída pela soma dos componentes máximos de disfunção orgânica durante a permanência na emergência (0 a 4 pontos cada). No subgrupo com suspeita de infecção, foram identificados os seguintes critérios:

  • Sepse – suspeita de infecção com pontuação pSOFA de 2 ou mais;
  • Choque séptico – suspeita de infecção com infusão vasoativa e nível de lactato sérico acima de 18 mg/dL.

Os principais desfechos e medidas consistiram em escores de pSOFA de 2 ou mais durante a internação na emergência para mortalidade hospitalar.

Resultados

Foram incluídas 3.999.528 consultas de emergência no período do estudo, sendo 47,3% pacientes do sexo feminino.

As pontuações de pSOFA variaram de 0 a 16, com 126.250 visitas (3,2%) com pontuação de pSOFA de 2 ou mais. Escores de pSOFA de 2 ou mais tiveram sensibilidade de 0,65 e especificidade de 0,97, com valor preditivo negativo de 1,0 na previsão de mortalidade hospitalar.

Dos 642.868 pacientes com suspeita de infecção (16,1%), 42.992 (6,7%) preencheram os critérios para sepse e 374 (0,1%) preencheram os critérios para choque séptico. As taxas de mortalidade hospitalar por suspeita de infecção (599.502), sepse (42.992) e choque séptico (374) foram de 0,0%, 0,9% e 8,0%, respectivamente.

O escore pSOFA teve discriminação semelhante para mortalidade hospitalar em todas as visitas ao pronto-socorro (área sob a curva ROC, 0,81) e no subconjunto com suspeita de infecção (área sob a curva ROC, 0,82).

Em suma, trata-se de um grande estudo de coorte que incluiu quase 4 milhões de atendimentos pediátricos de emergência. Os resultados mostraram que os escores de pSOFA de 2 ou mais eram incomuns, mas associados ao aumento da mortalidade hospitalar. Por outro lado, crianças com escores de pSOFA inferiores a 2 apresentaram risco muito baixo de morte, com alta especificidade e valor preditivo negativo.

Saiba mais: Estudo mostra que as prevalências de sepse e de choque séptico em crianças no Brasil são elevadas

Conclusões

Os pesquisadores efetuaram uma notável avaliação multicêntrica do escore pSOFA em emergências pediátricas, demonstrando risco aumentado de óbito hospitalar com valores crescentes do instrumento e identificando uma população de crianças com sepse e choque séptico usando definições do “Sepse-3” que associaram risco aumentado de mortalidade intra-hospitalar e internações prolongadas. Todavia, os resultados também indicam que o pSOFA não é adequadamente sensível para funcionar como uma ferramenta de triagem em pronto-socorro infantil. Mais estudos, no entanto, são necessários para se avaliar a capacidade preditiva do escore.

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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