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Pediatria3 outubro 2025

Estudo avalia parada cardíaca súbita em crianças com epilepsia e apneia do sono 

Sabe-se que tanto a apneia do sono quanto a epilepsia estão independentemente associadas a um risco aumentado de parada cardíaca súbita (PCS).

Sabe-se que tanto a apneia do sono (AS) quanto a epilepsia estão independentemente associadas a um risco aumentado de parada cardíaca súbita (PCS). Como principais contribuintes para esse risco, estão a epilepsia refratária e a disfunção autonômica, sendo que a AS agrava ainda mais a probabilidade de eventos cardíacos. Um estudo publicado na Pediatrics avaliou a incidência e o risco de PCS e disritmia cardíaca em pacientes pediátricos com epilepsia e AS. 

parada cardíaca súbita em crianças

Metodologia 

Os pesquisadores utilizaram, para a coleta de dados, a rede global de pesquisa TriNetX, uma rede autorizada de registros eletrônicos de saúde anônimos e vinculados de mais de 141 organizações de saúde em mais de 18 países, englobando Alemanha, Austrália, Brasil, Bulgária, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Geórgia, Itália, Japão, Lituânia, Malásia, Polônia, Reino Unido, Singapura e Taiwan.  

Foram incluídos pacientes pediátricos (com menos de 18 anos) diagnosticados com epilepsia entre janeiro de 2000 e março de 2025 e, dessa forma, foram obtidas duas coortes, uma composta por pacientes com epilepsia com AS  e outra por pacientes com epilepsia sem AS. Ambas foram pareadas por meio de escores de propensão. A PCS e a disritmia cardíaca foram avaliadas ao longo de períodos de acompanhamento de 5 e 10 anos. A AS foi identificada utilizando os códigos da Classificação Internacional de Doenças, Décima Revisão, Modificação Clínica (CID-10-MC) e registros de polissonografia.  

Veja também: Como agir quando chega uma criança em parada cardiorrespiratória na emergência?

Resultados 

Antes do pareamento, as coortes consistiram em: 

  • Epilepsia com AS: 10.120 indivíduos; 
  • Epilepsia sem AS: 165.789 pacientes.  

Após o pareamento, a distribuição por etnia e sexo foi equilibrada entre ambas as coortes, embora a coorte com epilepsia com AS apresentasse uma média de idade ligeiramente menor. Além disso, vários fatores de confusão entre as coortes foram pareados para eliminar potenciais causas de PCS ou disritmia cardíaca que pudessem explicar os desfechos: anticonvulsivantes, comorbidades neurológicas, doença cardiovascular,   malformações congênitas e trauma. 

Os pesquisadores descreveram que a incidência de PCS foi maior em pacientes com epilepsia com AS (50,5 por 10.000 pessoas-ano) do que em pacientes com epilepsia isolada (20,0 por 10.000) ou com AS isolada (9,0 por 10.000). Além disso, pacientes com epilepsia com AS apresentaram risco aumentado de PCS (razão de risco [RR] de 5 anos: 1,99; RR de 10 anos: 1,74; ambos P < 0,001) e disritmia cardíaca (RR de 10 anos: 2,06; P < 0,001). A epilepsia refratária aumentou o risco de PCS (razão de chance [RC]: 1,74; intervalo de confiança de 95% [IC 95%]: 1,25–2,42). Por fim, a terapia com pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) de longo prazo foi associada ao aumento do risco de PCS (odds ratio [OR]: 3,41; IC de 95%: 2,27–5,11), enquanto a adenotonsilectomia reduziu esse risco (OR: 0,40; IC de 95%: 0,27–0,60). 

Conclusão 

O estudo mostrou que a AS aumenta o risco de PCS em crianças e adolescentes com epilepsia, em especial naqueles com epilepsia refratária, tanto no curto quanto no longo prazo. O uso do CPAP (particularmente em longo prazo) pode aumentar esse risco, enquanto a adenotonsilectomia parece mitigá-lo. Portanto, os resultados chamam a atenção para a importância de estratégias de tratamento individualizadas em pacientes pediátricos com epilepsia e AS para reduzir o risco de PCS. 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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