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Pediatria25 agosto 2025

Estudo avalia associações de sono familiar com as rotinas de sono em lactentes

Estudo explorou as rotinas para a hora de dormir e de cochilos em lactentes e sua associação com os desfechos do sono, tanto dos bebês quanto dos pais.

Estudos mostram que ter rotinas para a hora de dormir, como banho relaxante, escovar os dentes e ler, estão associadas a melhores desfechos de sono em lactentes e crianças pequenas. Esses desfechos incluem horários de dormir mais cedo, menos despertares noturnos, maior duração do sono e redução de problemas de sono. A consistência nessas rotinas aumenta sua eficácia. Além do sono, rotinas regulares para a hora de dormir também estão associadas a um melhor desenvolvimento socioemocional, melhor regulação emocional e menos problemas comportamentais na primeira infância. Um estudo publicado na Sleep Health explorou a prevalência de rotinas para a hora de dormir e de cochilos em lactentes e sua associação com os desfechos do sono, tanto dos bebês quanto dos pais. 

Leia mais: Relação entre duração do sono materno e infantil nos primeiros 2 anos do bebê

mamãe e bebê dormindo

Metodologia 

Participaram deste estudo pais de lactentes com idades entre 1 e 15 semanas de vida do Reino Unido e dos Estados Unidos. Os critérios de inclusão foram: cuidador de um bebê (até 15 semanas), falante de inglês, com o bebê morando na casa por pelo menos a última semana.  

 Os pais responderam a um questionário online sobre rotinas e padrões de sono infantil (Brief Infant Sleep Questionnaire Revised), bem como sobre o sono dos pais (PROMIS Sleep Disturbance Scale; Sleep-related Impairment Scale). 

Resultados 

Foram incluídos 135 pais (66,7% mães, 33,3% pais) de 135 bebês, com média de idade de 8,2 semanas, sendo que 54,8% eram meninos. Com relação ao país, 70,7% dos pais eram do Reino Unido e 29,3% dos Estados Unidos.  

A idade dos pais variou de 19 a 42 anos, com média de 32,1. No geral, 90,4% deles se identificaram como brancos, e 3,0% se identificaram como latinos/hispânicos. A maioria possuía diploma universitário ou pós-graduação (67,7%), com 55,6% trabalhando em período integral ou parcial e 33,8% em licença parental. Quase todos os bebês nasceram a termo (37 semanas ou mais; 92,7%), com dois terços (63%) de parto vaginal. Menos da metade dos bebês eram filhos únicos (44%). 

Os bebês dormiam, em média, 8,54 horas durante a noite (das 18h às 6h), com uma média de 3,19 despertares por noite. Durante o dia, os bebês cochilavam 3,96 vezes por dia, e a duração total média foi de 5,67 horas (5 horas e 40 minutos). Além disso, 75 (55,6%) dos pais consideravam que seus bebês tinham um horário de dormir à noite e 104 (77%) referiram um horário de acordar pela manhã. 

Uma rotina para a hora de dormir foi relatada por 83 (61,9%) dos pais e 27 (20,1%) disseram ter uma rotina para a hora do cochilo para seus bebês pequenos. Os lactentes cujos pais seguiam uma rotina para a hora de dormir tinham menos probabilidade de serem carregados para dormir, dormiam por períodos mais longos durante a noite e tinham despertares noturnos mais curtos, com esses pais apresentando menos distúrbios do sono. Esses pais acreditavam que a rotina os ajudava a adormecer e a permanecer dormindo mais do que aqueles sem rotina, e eram mais propensos a acreditar que isso os ajudava a criar laços com seus filhos. Já os pais que relataram uma rotina para a hora do cochilo relataram gostar dela e acreditavam que o que faziam ajudava seus bebês a dormir mais do que aqueles sem uma rotina, sem quaisquer outras associações com padrões de sono diurno. 

Conclusão 

O estudo é um dos pioneiros a avaliar a prevalência de rotinas para a hora de dormir e de cochilos em bebês pequenos, os benefícios percebidos pelos pais e sua relação com os desfechos do sono em ambos. As rotinas se mostraram apreciadas pelos pais e estão associadas ao aumento da consolidação do sono nessa faixa etária de 1 a 15 semanas de vida e à redução de distúrbios do sono nos pais. Além disso, os pais percebem que as rotinas para a hora de dormir e de cochilos os ajudaram a criar vínculos com seus bebês.  

Comentário 

Sem dúvida, dificuldades no sono são queixas recorrentes que recebo no consultório e, ao mesmo tempo, uma das mais complexas de conduzir. Lactentes e crianças, de modo geral, exigem uma rotina estruturada. Eles precisam se sentir amparados com a previsibilidade dos acontecimentos do cotidiano, pois é nela que encontram segurança. Por sua vez, dormir é uma necessidade biológica fundamental para todos nós e, no caso de crianças, é nítido que, quando essa demanda não é respeitada, tornam-se mais irritados e os relatos de sono pelos pais são de noites mal dormidas, nas quais o descanso parece não existir para todos na casa. A chegada de um bebê impõe uma reconfiguração da dinâmica familiar, sendo crucial que o núcleo se ajuste às necessidades do novo integrante, e não o contrário. Teoricamente, essa afirmação parece simples, mas sua concretização na prática diária é profundamente desafiadora para a família, uma vez que envolve a ruptura de padrões arraigados e a reestruturação de hábitos. Dessa forma, é imprescindível que os pais sejam acolhidos com empatia e orientação no momento em que decidirem, com convicção, implementar essas mudanças tão necessárias. 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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