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Pediatria17 maio 2025

ESPGHAN 2025: O que há de novo na encefalopatia hepática mínima?

Durante o congresso, a EHM, condição subdiagnosticada na pediatria, foi tema de uma sessão que trouxe os avanços na área.
Por Jôbert Neves

A encefalopatia hepática mínima (EHM) em pediatria representa uma forma sutil porém clinicamente relevante de disfunção neurológica associada à insuficiência hepática ou ao desvio portossistêmico. Embora a forma aguda e evidente de encefalopatia seja reconhecida pelos pediatras, a forma crônica e subclínica (abrangendo EHM e grau 1) permanece subdiagnosticada. Essa condição ocorre frequentemente durante períodos críticos do desenvolvimento cerebral, podendo acarretar déficits cognitivos de longo prazo.

A dificuldade em diagnosticar EHM em crianças se deve tanto à ausência de sinais clínicos claros quanto à escassez de ferramentas padronizadas de avaliação neurocognitiva para faixas etárias específicas. Durante a plenária de hepatologia do congresso da European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN 2025), os novos avanços nesse cenário foram discutidos, com ênfase em modelos animais de ligadura do ducto biliar (LDB) para estudar EHM crônica (tipo C). Os pontos-chave discutidos incluíram:

  • Diferenças relacionadas à idade: Ratos submetidos à LDB em estágios mais precoces (P15) apresentaram níveis mais altos de amônia plasmática, glutamina cerebral, lactato (indicando falência energética) e menor ascorbato (marcador de estresse oxidativo), com impacto negativo no comportamento.
  • Diferenças entre os sexos: Machos e fêmeas saudáveis mostraram diferenças metabólicas cerebrais basais. Em modelos de EHM, os machos demonstraram maior vulnerabilidade ao estresse oxidativo (maior redução de ascorbato), enquanto as fêmeas apresentaram maior redução de neurotransmissores no hipocampo.
  • Diferenças regionais no cérebro: O cerebelo foi identificado como a região mais vulnerável (maior carga de glutamina e lactato), enquanto o corpo estriado mostrou menor envolvimento e melhor capacidade compensatória.
  • Alterações na densidade de espinhas dendríticas: Animais com EHM apresentaram redução significativa no número de espinhas dendríticas, especialmente no hipocampo, o que pode comprometer a plasticidade sináptica, essencial para a memória e o aprendizado.
  • Potencial de reversibilidade: Modelos ex vivo demonstraram que, apesar da perda inicial de espinhas dendríticas sob condições que mimetizam a colestase, também ocorre o aparecimento de novas espinhas ao longo do tempo — sugerindo possível reversibilidade dos danos sinápticos.

Conclusão

Apesar das limitações no reconhecimento clínico e na caracterização de EHM em crianças, os dados emergentes de modelos animais oferecem evidências de que fatores como idade, sexo e localização cerebral influenciam a vulnerabilidade e o curso da encefalopatia. Os achados também levantam a possibilidade de reversibilidade sináptica, o que pode abrir caminhos para estratégias terapêuticas futuras.

Mensagens práticas

  • A EHM em crianças é subdiagnosticada, mas potencialmente comum em doenças hepáticas crônicas.
  • O impacto neurocognitivo pode ser silencioso e comprometer funções executivas e memória.
  • Crianças em fases precoces do desenvolvimento parecem mais vulneráveis aos efeitos da encefalopatia.
  • Diferenças entre os sexos e regiões cerebrais indicam que intervenções personalizadas podem ser necessárias.
  • A possibilidade de reversibilidade sináptica sugere que estratégias terapêuticas precoces podem ser eficazes na proteção ou recuperação da função cerebral.

Confira os principais destaques do ESPGHAN 2025!

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