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Pediatria19 maio 2025

ESPGHAN 2025: Abordagem prática da incontinência fecal em pediatria 

Durante o congresso Europeu de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica foram debatidas as características da incontinência fecal em pediatria 
Por Jôbert Neves

A incontinência fecal na infância é uma condição frequente, mas frequentemente negligenciada, com impacto significativo na autoestima, vida social e escolar da criança. A dificuldade de diagnóstico, a variedade de causas e a abordagem terapêutica muitas vezes inconsistente tornam essencial uma visão prática e estruturada do tema. Durante o Congresso Europeu de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN 2025), foi discutida a abordagem, de forma prática, dos pacientes com esta condição.  

Entendendo o problema: Conceito, prevalência e classificação 

A incontinência fecal pode ser definida como a perda involuntária de fezes em locais inadequados após a idade esperada de controle esfincteriano. Ela pode ser classificada em funcional (com ou sem retenção fecal) e orgânica (relacionada a malformações, lesões neurológicas, cirurgias, entre outros). 

  • Mais de 80% dos casos são funcionais, com grande parte associada à constipação crônica e impactação fecal;
  • Menos de 5% têm causa orgânica claramente definida;
  • Muitos pacientes e famílias não procuram ajuda médica devido ao estigma e à normalização do problema, especialmente em adolescentes.  

A linguagem usada é fundamental: o termo “encoprese” deve ser evitado por sua conotação psiquiátrica. A terminologia mais adequada e adotada pelos critérios de Roma IV é “incontinência fecal funcional”. 

Avaliação clínica e diagnóstica: O que procurar e quando investigar? 

O primeiro passo é identificar se há retenção fecal. Para isso, deve-se avaliar a história clínica, exame físico e, se necessário, uso de exames complementares como marcadores radiopacos ou radiografia simples. 

  • Com retenção fecal: indica constipação funcional com escape fecal. O manejo segue o protocolo de desimpactação, manutenção com laxativos e reeducação evacuativa.
  • Sem retenção fecal: exige investigação mais ampla, incluindo fatores emocionais, comportamentais e possíveis causas orgânicas ocultas.  

Exames funcionais como manometria anorretal 3D, ultrassonografia endoanal e EndoFLIP podem revelar alterações mesmo quando os exames convencionais são normais, sugerindo uma possível subvalorização de disfunções esfincterianas. 

ESPGHAN 2025: Abordagem prática da incontinência fecal em pediatria 

Imagem jcomp/freepik

Estratégias de tratamento para incontinência fecal: Do manejo convencional às intervenções avançadas 

O tratamento deve ser individualizado, baseado na causa e gravidade: 

  • Casos funcionais com retenção: abordagem padrão com laxantes, modificação do comportamento, reforço positivo e suporte familiar.
  • Casos funcionais sem retenção: intervenções baseadas em terapia cognitivo-comportamental, fisioterapia do assoalho pélvico e, se necessário, psicoterapia.
  • A Farmacoterapia tem eficácia limitada nos casos sem constipação.  

Para casos refratários: 

  • Irrigação anorretal (baixa ou alta);
  • Estimulação elétrica ou neuromodulação sacral (apesar do baixo nível de evidência, pode ser considerada como terapia complementar);
  • Programas de manejo intestinal (especialmente em causas orgânicas complexas).  

Nos casos orgânicos, a conduta deve ser orientada por exames específicos, com foco em tratamento cirúrgico individualizado, avaliação da integridade esfincteriana e acompanhamento multiprofissional. 

Conclusão 

A incontinência fecal em crianças exige mais do que um tratamento clínico: demanda sensibilidade, escuta ativa e abordagem integrada. Com uma avaliação correta e abordagem prática, é possível reverter quadros complexos, restaurar a dignidade da criança e promover autonomia. O manejo bem-sucedido depende de reconhecer a condição, aplicar algoritmos clínicos claros e oferecer suporte contínuo para a criança e sua família. 

Confira os principais destaques do ESPGHAN 2025!

Autoria

Foto de Jôbert Neves

Jôbert Neves

Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa  de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).

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