A epiglotite consiste na inflamação das estruturas supraglóticas da laringe e afeta predominantemente a epiglote, com risco de obstrução das vias aéreas e consequente dificuldade respiratória. Geralmente é causada por infecção bacteriana, mas causas não infecciosas, apesar de pouco comuns, são etiologias possíveis. Dentre elas: lesões térmicas, traumáticas e químicas. Aspiração de água ou leite quentes, corpo estranho e organofosforados são alguns exemplos.
Acredita-se que a população pediátrica possa ter um risco maior de desfechos graves devido o menor calibre de suas vias aéreas e respostas imunológicas em desenvolvimento.
Desenho do estudo
Neste contexto, um estudo do tipo meta-análise comparou as diferenças nas características clínicas e demográficas entre crianças e adultos acometidos por epiglotite não infecciosa, bem como no manejo e nos desfechos como intubação, complicações e internamento em unidade de terapia intensiva (UTI).
Estudos de coorte, relatos e séries de casos foram fontes de pesquisa, sendo analisados os publicados de janeiro a 22 de dezembro de 2023. A categorização dos pacientes se deu por faixa etária, sendo considerados crianças aqueles com idade até 18 anos e adultos, os maiores de 18 anos.
Após avaliação rigorosa dos estudos obtidos pela pesquisa bibliográfica, foram incluídos registros de 57 pacientes contidos em 40 estudos (33 do tipo relato de caso individual e 7 séries de casos) na análise. Foram descartados aqueles que não fornecessem dados sobre a idade, etiologia e abordagem diagnóstica da epiglotite ou os desfechos dos pacientes.
Resultados
Dos 57 pacientes analisados, 23 eram crianças e 34 adultos. Ao se comparar os dois grupos, foi observado que as crianças eram mais suscetíveis a apresentar estridor (56,52% vs. 14,7%), salivação (56,52% vs. 26,47%), cianose (17,39% vs. 0%) e dispneia (13,04% vs. 0%) que os adultos, enquanto estes tinham mais odinofagia (13,04% vs. 41.17%) quando em curso da epiglotite não infecciosa.
Lesão térmica por fluidos ou alimentos quentes foi identificada como a etiologia mais comum da epiglotite não infecciosa (28%), seguida de ingestão de corpo estranho (26,31%), lesão cáustica (14%) e tabagismo (10,52%).
No que concerne às complicações, estas foram mais comuns nas crianças (47,82% vs. 14,70%), sendo estas também mais submetidas a administração de adrenalina (34,78% vs. 8,82%), intubação orotraqueal (82,60% vs. 20,58%) e internação em unidade de terapia intensiva (56,52% vs. 17,64%). Dentre as complicações, as mais frequentes foram: dispneia, edema pulmonar e parada respiratória.
Foi observado ainda que 59,64% dos pacientes receberam corticoides e 63,15%, antibióticos apesar da etiologia não infecciosa. Ademais, 45,61% foi submetido a algum tipo de intervenção nas vias aéreas, sendo a ingestão de corpo estranho associada a um aumento significativo no risco de intubação em 7,19 vezes.
Discussão
A maior incidência do estridor nas crianças sugere o comprometimento mais acentuado das vias aéreas superiores nessa faixa etária, o que pode ser resultado das suas características anatômicas e justificar o maior uso de adrenalina na terapêutica.
Ademais, as taxas de intubação maiores na pediatria remetem a uma apresentação mais aguda e grave nas crianças. Sabe-se, neste sentido, que o menor calibre das suas vias aéreas as tornam mais suscetíveis à obstrução, enquanto que os adultos apresentam vias aéreas superiores mais rígidas e largas.
Conclusão e Mensagem prática
A epiglotite não infecciosa é uma situação de emergência e implica a necessidade de manter vigilância rigorosa e cuidados com as vias aéreas, tendo em vista o potencial de desfechos desfavoráveis. Os achados do estudo evidenciaram que tal quadro se manifesta de forma mais grave nas crianças e requer um manejo mais contundente. Logo, reconhecer as particularidades entre os diferentes grupos etários auxilia na assistência oferecida e na sua qualidade.
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