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Pediatria9 outubro 2024

Ensaio avaliou os efeitos de simbióticos na enterocolite necrosante em neonatos

A enterocolite necrosante é uma doença multifatorial que afeta, principalmente, recém-nascidos (RN) com muito baixo peso ao nascer (MBPN).

A enterocolite necrosante (necrotizing enterocolitis – NEC) é uma doença multifatorial que afeta, principalmente, recém-nascidos (RN) com muito baixo peso ao nascer (MBPN) e a literatura tem mostrado que sua patogênese está associada à colonização bacteriana anormal. Sabe-se que suplementos alimentares contendo prebióticos (alimentos não digeríveis) e probióticos (bactérias benéficas) são conhecidos como simbióticos e podem alterar o microbioma intestinal.  

Diante do exposto, pesquisadores conduziram um ensaio clínico no Hospital Imam Reza em Kermanshah, Irã, visando avaliar a eficácia do simbiótico multicepas PediLact® em parâmetros nutricionais e na taxa de NEC em neonatos MBPN. 

Metodologia 

O estudo foi conduzido de outubro de 2018 a outubro de 2019. Um total de 118 RN com MBPN hospitalizados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) foram alocados aleatoriamente em uma proporção de 1:1 (59 RN em cada grupo) para receber um placebo (“grupo controle” – GC) ou um simbiótico (“grupo intervenção” – GI). Entretanto, um lactente foi perdido no acompanhamento devido a óbito relacionado à prematuridade (hemorragia intraventricular) no GI (ficando o GI com n=58). 

Foram incluídos neonatos MBPN com peso ao nascer (PN) inferior a 1500g e idade gestacional (IG) inferior a 34 semanas (prematuro precoce). Os critérios de exclusão foram:  

  • PN < 1000g (devido ao aumento da mortalidade) ou > 1500g;  
  • IG ≥ 34 semanas; 
  • Idade pós-natal > 28 dias (isto é, pacientes fora do período neonatal);  
  • RN com diagnóstico de asfixia grau 2 ou 3; cardiopatia congênita, gastrosquise, obstrução gastrointestinal ou sepse; 
  • RN de mães adictas; 
  • RN com histórico familiar de imunodeficiência em parentes de primeiro grau que receberam fórmula infantil ou um simbiótico antes da admissão. 

O placebo foi preparado em embalagens com o mesmo formato e cor do simbiótico. O PediLact® foi fabricado pela Zist Takhmir Pharmaceutical Company (República Islâmica do Irã). Cada gota (0,05 cc.) continha: 

  • Compostos prebióticos incluindo 3% de frutooligossacarídeos e outros ingredientes, como óleo de girassol, triglicerídeo de cadeia média, dióxido de silício;  
  • Composto probiótico (Lactobacillus reuteri, Lactobacillus rhamnosus e Bifidobacterium infantis na quantidade de 109 unidades formadoras de colônias [UFC]); 
  • Aroma natural.  

A administração simbiótica continuou até que o bebê estivesse recebendo nutrição enteral plena. Os desfechos primários foram a ocorrência de NEC e o número de dias necessários para atingir a dieta proposta. 

Resultados 

Dos 118 RN incluídos no estudo, foram observadas as seguintes características demográficas: 

  • GC: Meninos: 36/59 (61%); parto vaginal 12/59 (20%); PN: 1.277,3 (desvio-padrão [DP] 146,0) gramas; IG com mediana de 31,0 semanas (intervalo interquartílico [IIQ] 30,0-32,0); 
  • GI: Meninos: 25/58 (43%); parto vaginal 4/58 (7%); PN 1.267,9 (DP 148,6) gramas; IG com mediana de 31,0 semanas (IIQ 29,0-31,0). 

O PN e a IG não apresentaram diferença considerável entre os grupos. Todavia, houve diferença significativa no sexo e no tipo de parto (mais de 10% de diferença). 

Os resultados observados foram: 

  • Incidência de NEC: diminuiu significativamente no GI (razão de riscos ajustada [aRR] = 0,22, intervalo de confiança de 95% [IC 95%]: 0,07–0,72, P = 0,01; diferença de risco ajustada [aRD] = −0,22, IC 95%: −0,33 a −0,12, P < 0,001; número necessário para tratar [NNT] = 5); 
  • Intolerância alimentar: menos frequente no GI (aRR ajustado = 0,27, IC 95%: 0,14–0,51, P < 0,001; NNT = 3); 
  • GI: O consumo do simbiótico foi associado a ganho de peso significativo (aproximadamente 40g) em bebês (diferença média padronizada ajustada [aSMD]= 0,63; IC95%: 0,26–1,00, P < 0,001); 
  • GI: A duração da hospitalização e o tempo necessário para atingir a alimentação enteral completa foram significativamente menores (por aproximadamente 3 dias); 
  • Nenhum efeito colateral sério foi relatado. 

Conclusão 

O estudo mostrou que a prescrição de simbiótico multicepas reduziu a incidência de NEC em bebês MBPN. Benefícios observados pelo uso do simbiótico incluíram melhor tolerância à dieta, aumento da taxa de ganho de peso e redução da duração da internação hospitalar para esses pacientes. Portanto, o uso de simbióticos pode ser considerado em RN com MBPN. No entanto, os pesquisadores destacam a necessidade de pesquisas adicionais para avaliar completamente a eficácia e segurança dos simbióticos antes de implementá-los amplamente para a prevenção de NEC, além de investigar os mecanismos de ação específicos de cada componente. 

Comentário 

Achei o estudo muito interessante e observei pontos de robustez. O fato de ser um ensaio clínico duplo-cego, randomizado e controlado já é bastante fortalecedor à metodologia, proporcionando maior rigor na análise dos efeitos do simbiótico. Além disso, acaba diminuindo a possibilidade de vieses. Considero relevantes também a randomização 1:1, sendo que a perda de um participante no GI foi bem explicada, sem comprometimento da análise dos dados. O uso de placebo com características semelhantes aos do simbiótico e os critérios de inclusão e exclusão bem explicados consolidam os desfechos observados pelos pesquisadores. Contudo, gostaria de apontar que o tamanho da amostra, apesar de razoável, pode ser ampliado. Destaco, portanto, que a metodologia é sólida, mas que, de fato, estudos adicionais com amostras maiores são recomendados. 

Com relação ao simbiótico (no caso, o PediLact®), conforme os desfechos mostrados pelos pesquisadores, me parece ser uma estratégia promissora na prática clínica para prevenção da NEC em UTIN em RN com MBPN, por melhorar a tolerância alimentar e acelerar o ganho de peso, o que pode reduzir complicações graves e diminuir também o tempo de internação na unidade. Contudo, é interessante que a indicação dos simbióticos seja feita de forma individualizada na prática, considerando a necessidade de mais evidências acerca do tema.  

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