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Pediatria5 novembro 2024

Encefalopatia neonatal: uma revisão sistemática dos resultados dos tratamentos 

Artigo buscou identificar os desfechos relatados em estudos e revisões sobre novos tratamentos para encefalopatia neonatal
Por Jôbert Neves

A encefalopatia neonatal (EN) é uma síndrome neurológica que afeta recém-nascidos, podendo resultar em paralisia cerebral, distúrbios convulsivos, déficits cognitivos e até morte. Suas causas incluem lesões hipóxicas-isquêmicas, distúrbios metabólicos e fatores genéticos, com uma incidência estimada de 3 a 8,5 casos por 1.000 nascimentos.  

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A terapia com hipotermia terapêutica é a prática padrão em muitos países desenvolvidos e demonstrou reduzir o risco de morte e graves alterações do neurodesenvolvimento em 25%. Contudo, sua eficácia é válida apenas em uma janela terapêutica de 6 horas após o nascimento, exigindo diagnóstico precoce e uma equipe treinada e preparada para esse manejo. Veja os critérios de indicação da hipotermia terapêutica em pacientes com, conforme orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): 

Preencher os critérios de asfixia perinatal e de encefalopatia hipóxico-isquêmica antes das 6 primeiras horas de vida pós-natal: 

  • Evidência de asfixia perinatal:
    • Gasometria arterial de sangue de cordão ou na primeira hora de vida com pH < 7,0 ou BE ≤ -15, ou 
    • História de evento agudo perinatal, ou 
    • Escore de Apgar de 5 ou menos no 10º minuto, ou 
    • Necessidade de ventilação com pressão positiva além do décimo minuto de vida, e 
  • Evidência de encefalopatia hipóxico-isquêmica moderada ou grave antes de 6 horas de vida pós-natal: 
    • O RN deve ser avaliado a cada hora nas primeiras 6 horas de vida pelo médico neonatologista e equipe de interconsultores, com registro da avaliação em prontuário médico. São avaliados: presença de convulsão, nível de consciência, atividade espontânea, postura, tônus, reflexos e sistema autonômico.  

Esta revisão sistemática abrangeu 62 ensaios randomizados, 10 revisões sistemáticas, 6 revisões sistemáticas e meta-análises, 6 meta-análises e 1 revisão de revisões sistemáticas. Os tratamentos investigados incluíram hipoterapia terapêutica sozinha, adjuvantes e alternativas à hipoterapia, como melatonina, alopurinol e restrição de fluidos. 

Nos estudos revisados, alguns desfechos foram relatados com mais frequência: lesões cerebrais em imagens (29 estudos), sobrevida (80 estudos) e habilidade motora (43 estudos). Em contraste, desfechos como a necessidade de tratamento cirúrgico para refluxo gastroesofágico e custos de saúde apareceram em apenas um estudo, ou seja, resultados muito heterogêneos. 

Encefalopatia neonatal: uma revisão sistemática dos resultados dos tratamentos 

Discussão e críticas a esta revisão sobre encefalopatia neonatal 

Esta revisão sistemática analisou 85 estudos sobre o tratamento de asfixia neonatal, evidenciando a heterogeneidade nos desfechos medidos e reportados, com nenhum desfecho comum a todos os estudos e 11 desfechos registrados apenas uma vez. Essa variabilidade representa um desperdício significativo de pesquisa e dificulta a comparação de intervenções. A revisão identificou que, em entrevistas com 25 pais, na tentativa de busca por melhores resultados, 21 desfechos importantes não foram refletidos nos ensaios — reforçando a importância de um desenho adequado e um registro e coleta padronizada de dados nos serviços de neonatologia e/ou nas unidades de terapia intensiva neonatal neurológica 

Conclusão  

Esta revisão sistemática levanta uma discussão sobre a importância de desenvolver um conjunto de desfechos comuns (COS) que inclua a perspectiva de pacientes, pais e cuidadores, visto que esses grupos consideram diferentes desfechos como relevantes. A necessidade de um COS é reforçada para garantir consistência e relevância nos resultados dos ensaios sobre asfixia neonatal. 

Saiba mais: Artigo relata caso de síndrome de encefalopatia posterior reversível

Autoria

Foto de Jôbert Neves

Jôbert Neves

Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa  de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).

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