Encefalopatia neonatal: uma revisão sistemática dos resultados dos tratamentos
A encefalopatia neonatal (EN) é uma síndrome neurológica que afeta recém-nascidos, podendo resultar em paralisia cerebral, distúrbios convulsivos, déficits cognitivos e até morte. Suas causas incluem lesões hipóxicas-isquêmicas, distúrbios metabólicos e fatores genéticos, com uma incidência estimada de 3 a 8,5 casos por 1.000 nascimentos.
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A terapia com hipotermia terapêutica é a prática padrão em muitos países desenvolvidos e demonstrou reduzir o risco de morte e graves alterações do neurodesenvolvimento em 25%. Contudo, sua eficácia é válida apenas em uma janela terapêutica de 6 horas após o nascimento, exigindo diagnóstico precoce e uma equipe treinada e preparada para esse manejo. Veja os critérios de indicação da hipotermia terapêutica em pacientes com, conforme orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP):
Preencher os critérios de asfixia perinatal e de encefalopatia hipóxico-isquêmica antes das 6 primeiras horas de vida pós-natal:
- Evidência de asfixia perinatal:
- Gasometria arterial de sangue de cordão ou na primeira hora de vida com pH < 7,0 ou BE ≤ -15, ou
- História de evento agudo perinatal, ou
- Escore de Apgar de 5 ou menos no 10º minuto, ou
- Necessidade de ventilação com pressão positiva além do décimo minuto de vida, e
- Evidência de encefalopatia hipóxico-isquêmica moderada ou grave antes de 6 horas de vida pós-natal:
- O RN deve ser avaliado a cada hora nas primeiras 6 horas de vida pelo médico neonatologista e equipe de interconsultores, com registro da avaliação em prontuário médico. São avaliados: presença de convulsão, nível de consciência, atividade espontânea, postura, tônus, reflexos e sistema autonômico.
Esta revisão sistemática abrangeu 62 ensaios randomizados, 10 revisões sistemáticas, 6 revisões sistemáticas e meta-análises, 6 meta-análises e 1 revisão de revisões sistemáticas. Os tratamentos investigados incluíram hipoterapia terapêutica sozinha, adjuvantes e alternativas à hipoterapia, como melatonina, alopurinol e restrição de fluidos.
Nos estudos revisados, alguns desfechos foram relatados com mais frequência: lesões cerebrais em imagens (29 estudos), sobrevida (80 estudos) e habilidade motora (43 estudos). Em contraste, desfechos como a necessidade de tratamento cirúrgico para refluxo gastroesofágico e custos de saúde apareceram em apenas um estudo, ou seja, resultados muito heterogêneos.
Discussão e críticas a esta revisão sobre encefalopatia neonatal
Esta revisão sistemática analisou 85 estudos sobre o tratamento de asfixia neonatal, evidenciando a heterogeneidade nos desfechos medidos e reportados, com nenhum desfecho comum a todos os estudos e 11 desfechos registrados apenas uma vez. Essa variabilidade representa um desperdício significativo de pesquisa e dificulta a comparação de intervenções. A revisão identificou que, em entrevistas com 25 pais, na tentativa de busca por melhores resultados, 21 desfechos importantes não foram refletidos nos ensaios — reforçando a importância de um desenho adequado e um registro e coleta padronizada de dados nos serviços de neonatologia e/ou nas unidades de terapia intensiva neonatal neurológica
Conclusão
Esta revisão sistemática levanta uma discussão sobre a importância de desenvolver um conjunto de desfechos comuns (COS) que inclua a perspectiva de pacientes, pais e cuidadores, visto que esses grupos consideram diferentes desfechos como relevantes. A necessidade de um COS é reforçada para garantir consistência e relevância nos resultados dos ensaios sobre asfixia neonatal.
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