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Pediatria27 março 2023

EM. PED 2023: Diagnóstico diferencial de acidente vascular cerebral em crianças na Emergência Pediátrica

No evento, a Dra. Beatriz Escórcio Emerich alertou sobre as dificuldades no diagnóstico de AVC em emergências pediátricas.

As apresentações de pôsteres do 2° Congresso Sul-Americano e 4°Congresso Paulista de Urgências e Emergências Pediátricas foram um grande sucesso, mostrando excelentes relatos de caso ocorridos no dia a dia dos prontos-socorros brasileiros. Um deles foi mostrado no trabalho intituladoAcidente vascular cerebral: um diagnóstico diferencial na emergência pediátrica”, explanado por integrantes da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) e apresentado pela Dra. Beatriz Escórcio Emerich, médica residente de pediatria da instituição.  

Conforme descrito pelos autores, o acidente vascular cerebral (AVC) é uma das enfermidades agudas menos frequentes em emergências pediátricas e cujo diagnóstico diferencial é complexo, especialmente em lactentes, em decorrência da dificuldade se de obter um exame físico direcionado. Além disso, as diferentes fases de desenvolvimento neuropsicomotor da população pediátrica também constituem obstáculos para a elucidação diagnóstica nessa faixa etária. No entanto, apesar de ser um evento incomum, os pediatras que atuam na linha de frente das emergências infantis devem estar muito atentos a possibilidade de sua ocorrência.  

Saiba mais: EM. PED 2023 – O Mel e o sucralfato em casos de ingestão de pilhas e de baterias por crianças

Relato de caso 

Bebê, cinco meses e dez dias, sexo masculino, deu entrada no Departamento de Emergência Pediátrica com contrações hemifaciais, lateralização de pescoço e enrijecimento tônico de membro superior e inferior à esquerda, com duração de cerca de dez segundos e de característica intermitente.  

O exame neurológico evidenciou um lactente acordado, ativo e reativo, com pupilas isocóricas e fotorreagentes. Além disso, o paciente demonstrava redução de tônus e de força muscular em membro superior esquerdo e em membro inferior ipsilateral depois das crises. De acordo com a mãe, o bebê não apresentou febre e havia recebido a segunda dose da vacina meningocócica C na manhã de início das manifestações clínicas.  

As seguintes hipóteses diagnósticas foram aventadas: 

  • Crise epiléptica focal, secundária à epilepsia; 
  • Meningoencefalite viral; 
  • Reação vacinal. 

Conforme descrito pelos autores, o paciente recebeu dose de ataque de fenitoína 20 mg/kg, sendo submetido, posteriormente, à tomografia computadorizada de crânio, que evidenciou hipoatenuação basal e insular à direita, bem delimitada, sem efeitos expansivos ou atróficos, de provável natureza isquêmica e duvidoso foco de hipoatenuação corticossubcortical parietal à esquerda. Já em ressonância magnética de crânio, foi identificada uma lesão em putâmen, corpo do núcleo caudado e porção central da coroa radiata à direita, provavelmente oriunda de isquemia aguda. A imagem foi ratificada em angio ressonância, que indicou hipoplasia do segmento a1 da artéria cerebral anterior à direita.  

A Dra. Beatriz finalizou a apresentação relatando que o paciente permaneceu sete dias hospitalizado, aos cuidados da equipe de neurologia pediátrica, tendo recebido fenitoína em dose de manutenção. À alta hospitalar, mantinha hemiparesia esquerda e desvio de rima labial direita, em acompanhamento ambulatorial para esclarecimento da origem do AVC.  

Veja também: Mitos sobre constipação infantil

Comentário 

Congratulo os autores pela excelente exposição do caso. Como pediatra intensivista com aperfeiçoamento em neurointensivismo, reforço que o AVC em crianças é raro, ocorrendo em dois para cada 100.000 pacientes de 29 dias a 18 anos de idade. De fato, é necessária uma grande suspeição por parte do pediatra na emergência, já que as manifestações clínicas mimetizam outras condições neurológicas, como convulsão, hemiparesia ou, até mesmo, disfagia. 

A Dra. Beatriz esclareceu que o teste do pezinho da criança era normal, sendo descartada a possibilidade de anemia falciforme, grande fator de risco para situações pediátricas de AVC. Além disso, a mãe informou que, apesar de a vacina ter sido aplicada na manhã de início do quadro clínico, a administração havia sido feita posteriormente ao surgimento da sintomatologia. Mesmo ainda não tendo sido identificada a etiologia, o paciente segue acompanhado por neurologistas e seu caso serve de alerta para a possível ocorrência de AVC em crianças e adolescentes.

Leia mais: Fatores de risco para acidente vascular encefálico (AVE) em pediatria

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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Referências bibliográficas

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