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Pediatria24 outubro 2025

Efeitos da exposição ao plástico na saúde infantil e formas de prevenção

Entenda os efeitos da exposição ao plástico na saúde infantil e veja como orientar pacientes sobre prevenção

O plástico pode ser um veículo para procedimentos que salvam vidas como para tubo orotraqueal, equipamentos de hemodiálise, componente de espaçador e bombinha de salbutamol, entretanto a proliferação de plástico não essencial aumenta a exposição pré-natal, na infância e na adolescência com diversos efeitos adversos graves. Trasande, Dordevic e Fernandez publicaram uma revisão em setembro de 2025 na revista Lancet Child Adolesc Health sobre os efeitos da exposição ao plástico na saúde infantil e oportunidades para preveni-los, cujas principais contribuições serão descritas neste artigo. 

Nas negociações que ocorreram entre 5 e 14 de agosto de 2025, mais de 120 países insistiram em um tratado ambicioso que inclui explicitamente disposições para proteger a saúde humana, incluindo subpopulações vulneráveis, como mulheres grávidas e crianças. Nesse contexto, Trasande, Dordevic e Fernandez advogam que nós profissionais de saúde pediátricos devemos defender que as nações reduzam a produção de plástico e removam produtos químicos perigosos conhecidos (por exemplo, ftalatos, bisfenóis, substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil [PFAS] e retardantes de chama) dos materiais plásticos. 

exposição ao plástico

Eventos adversos à saúde causados por plásticos 

Desde a produção até seu descarte, o plástico tem e gera produtos químicos com eventos adversos à saúde citados abaixo: 

  • Na sua produção, gera Petroquímicos (por exemplo, etileno, propileno e cloreto de vinila), plastificantes e aditivos (ex. ftalatos e estabilizantes organoestânicos) e contaminantes (por exemplo, metais pesados ​​e químicos voláteis orgânicos – COVs) com os seguintes riscos à saúde: exposição a COVs tóxicos (por exemplo, óxido de etileno) que pode ser carcinogênico, liberação acidental (por exemplo, dioxinas da queima de cloreto de vinila) e impactos climáticos relacionados ao dióxido de carbono; 
  • No uso do consumidor, tem Bisfenóis (por exemplo, bisfenol A e bisfenol S; embalagens de alimentos e papel térmico), ftalatos (por exemplo, brinquedos e embalagens), substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas (por exemplo, embalagens de alimentos e produtos antiaderentes), retardantes de chamas (por exemplo, éter difenílico polibromado e éster organofosforado; móveis e materiais de construção) e microplásticos e nanoplásticos (ou seja, produtos plásticos degradados) com os riscos à saúde de disrupção endócrina (ex. reprodutiva e metabólica), efeitos neurológicos (por exemplo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, autismo e comprometimento cognitivo), riscos de desenvolvimento (ex.  parto prematuro e baixo peso ao nascer), distúrbios metabólicos (ex. obesidade e diabetes) e distúrbios reprodutivos (por exemplo, infertilidade e puberdade alterada); 
  • Na reciclagem de plásticos, gera tereftalato de polietileno reciclado e contaminantes (por exemplo, ftalatos, bisfenóis e metais pesados ​​provenientes de contaminação cruzada) com risco de aumento da exposição a contaminantes, potencial de desregulação endócrina e riscos à saúde possivelmente anulando os benefícios da reciclagem; 
  • Na Incineração e descarte, gera dioxinas, furanos e COVs liberados durante a incineração com risco de doenças respiratórias, problemas cardiovasculares (por exemplo, aterosclerose e hipertensão arterial sistêmica), efeitos neurotóxicos e cancerígenos e contaminação ambiental (por exemplo, ar, solo e água). 

 

A seguir detalhamos os mecanismos de disrupção endócrina por derivados do plástico com seus eventos adversos à saúde: 

  • Insuficiência placentária (ex. estresse oxidativo e inflamação) e desregulação endócrina afetando os fatores de crescimento fetal (por exemplo, IGF-1) geram baixo peso ao nascer, parto prematuro, atrasos no desenvolvimento e aumento do tecido adiposo; 
  • Interrupção da tireoide durante o neurodesenvolvimento, neurotoxicidade direta e inflamação e estrutura cerebral alterada (por exemplo, substância cinzenta e diferenciação neuronal) geram prejuízo na função cognitiva, no quociente de inteligência e distúrbios comportamentais (ex. transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, autismo) 
  • Adipogênese desregulada (ex. ativação do PPARγ – =receptor γ ativado por proliferador de peroxissoma), metabolismo lipídico ou glicídico alterado e desequilíbrio hormonal (ex. resistência à insulina ou leptina) geram obesidade, diabetes e riscos cardiovasculares (ex. aterosclerose); 
  • Efeitos antiandrogênicos e antiestrogênicos durante o desenvolvimento gonadal fetal e interrupções na sinalização hormonal geram redução da fertilidade e da contagem de espermatozoides, síndrome dos ovários policísticos, alteração no tempo da puberdade e encurtamento da distância anogenital. 

 

Como reduzir a exposição das crianças e nossa exposição aos plásticos? 

Para reduzir a exposição aos plásticos, devemos: 

  • Orientar as famílias sobre disruptores endócrinos relacionados aos plásticos, promover campanhas de alerta e ter rotulagem ecológica para produtos; 
  • Fornecer educação continuada para profissionais de saúde sobre esse tema assim como torná-los apoiadores de políticas globais contra plásticos desnecessários; 
  • Substituição de suprimentos médicos de plástico por alternativas mais seguras em enfermarias pediátricas e de maternidade, incluindo tubos e embalagens; 
  • Encorajar o uso de alternativas ao plástico com recipientes de vidro ou aço inoxidável para armazenamento e reaquecimento de alimentos; 
  • Aconselhar as famílias a usar produtos de higiene pessoal sem fragrância e com rótulo ecológico para reduzir a exposição a ftalatos e outros disruptores endócrinos; 
  • Recomendar limpeza e remoção de pó frequentes para reduzir o acúmulo de microplásticos em ambientes internos e escolher móveis sem plástico. 

Destino dos plásticos 

Acumulativamente, menos de 10% do lixo plástico foi reciclado, sendo que os 90% restantes seguem um de três destinos: aterros sanitários (controlados e não controlados), queima (produzindo dioxina e outros contaminantes) e exportação. 

Grande alerta de impacto econômico para a saúde 

Muitas vezes, o valor econômico da indústria do plástico é apontado como uma barreira à prevenção, mas o gasto com saúde devido aos produtos químicos usados ​​em materiais plásticos é altíssimo (US$ 250 bilhões por ano somente nos EUA) e decorrem de doenças e deficiências em crianças. Globalmente, 349.000 mortes anuais devido a doenças cardiovasculares foram identificadas devido ao uso de plástico, sendo a maioria suportada desproporcionalmente por populações do Oriente Médio, sul da Ásia, leste da Ásia e Pacífico. Os custos sociais dessas mortes foram estimados entre US$510 bilhões e US$2,6 trilhões, superiores à receita anual de US$750 bilhões da indústria global de plásticos. 

Conclusão 

É bem aterrorizante como cidadãos, médicos e familiares lermos o tanto de eventos adversos relacionados aos plásticos, pois estamos cercados por plásticos e os rótulos dos produtos que usamos muitas vezes são de difícil compreensão mesmo para profissionais de saúde, sendo pouquíssimos os produtos com rotulagem ecológica por esses rótulos ainda não serem exigidos. Também é muito importante que no rótulo dos produtos haja um alerta para a presença de compostos nocivos. É muito importante como profissionais de saúde que nos mobilizemos junto às autoridades governamentais para que políticas públicas sejam adotadas para reduzir a produção de plástico desnecessário e que seja exigida a rotulagem ecológica de produtos.   

Autoria

Foto de Renata Carneiro da Cruz

Renata Carneiro da Cruz

Editora médica de Pediatria da Afya ⦁ Mestre em Saúde Materno-Infantil pela UFRJ ⦁ Residência em Pediatria Geral pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Residência em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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