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Pediatria3 junho 2025

Eculizumabe na síndrome hemolítica urêmica

Revisão sistemática e meta-análise verificou o impacto do eculizumabe no prognóstico neurológico de pacientes pediátricos com SHU - STEC
Por Amanda Neves

A síndrome hemolítico-urêmica (SHU) na pediatria, decorre geralmente de infecção por Escherichia coli produtora de toxina Shiga (SHU – STEC).  A morbimortalidade é acentuada em contexto de complicações extra-renais. Neste sentido, cabe ressaltar que a toxina liga-se a receptores nas células endoteliais, principalmente dos rins, mas o cérebro e outros órgãos podem ser acometidos, induzindo um estado pró-trombótico. As manifestações neurológicas determinam um pior prognóstico e incluem desde alterações cognitivas leves e irritabilidade a convulsões, estupor e coma. 

O eculizumabe demonstrou eficácia no tratamento da SHU atípica, mas os seus potenciais benefícios na SHU – STEC parecem depender do quadro clínico, sendo as evidências atuais limitadas. 

Leia também: Como abordar a SHU típica?

O estudo 

Neste contexto, foi realizado um estudo do tipo revisão sistemática e meta-análise com o objetivo de verificar o impacto do eculizumabe no prognóstico neurológico de pacientes pediátricos com SHU – STEC.   

Para a revisão, foram considerados elegíveis: estudos originais, publicados até fevereiro de 2025, realizados com pacientes com SHU – STEC, de 0 a 18 anos de idade, com complicações neurológicas evidenciadas em alguns deles e cujo tratamento tenha incluído o eculuzimabe como uma das opções terapêuticas. Revisões sistemáticas, narrativas, relatos ou série de casos e resumos de conferências foram excluídos.  

SHU – STEC foi definida pela tríade anemia hemolítica microangiopática não autoimune (Hb inferior a 10 g/dl com esquizócitos em esfregaço de sangue periférico), plaquetopenia (inferior a 150.000/mm3) e lesão renal aguda associada à infecção suspeita ou comprovada pela toxina Shiga da Escherichia coli. Já o comprometimento neurológico foi definido pelo quadro clínico, achados radiológicos em ressonância magnética cerebral e/ou alterações em eletroencefalograma, sendo os desfechos neurológicos avaliados pelo escore Pediatric Cerebral Performance Category. 

Após análise rigorosa, sete estudos foram selecionados.  

Resultados e discussão 

Dos 529 pacientes estudados, apenas 42% foram diagnosticados por critério clínico e microbiológico, sendo a maioria deles diagnosticada por critérios clínicos e laboratoriais.  

O eculizumabe foi administrado em 59 pacientes (11,1%), enquanto 470 (88,9%) não receberam tal fármaco. Complicações neurológicas foram observadas em 135 (25,5%) pacientes. Destes, 44 (32,5%) receberam eculizumabe.  

A meta-análise evidenciou que aqueles pacientes com sintomas neurológicos apresentaram maior probabilidade de receber a administração do eculizumabe em detrimento daqueles sem tal sintomatologia (OR 13,03, IC 95% 4,40–38,75). Tal achado é ratificado pela prática clínica em que tal medicação costuma ser administrada nos casos mais graves, incluso aqueles com manifestação neurológica. 

Por outro lado, a melhora neurológica foi observada em maior percentual no grupo não eculizumabe, o que pode refletir a maior gravidade dos pacientes selecionados para administração do fármaco em questão. Neste contexto, não foi identificado benefício clínico estatisticamente significativo do uso do eculizumabe em relação ao tratamento padrão  (OR 0,32, IC 95% 0,09–1,22).  

Veja mais: SHU: uma das principais causas de lesão renal aguda em pediatria

Conclusão e mensagem prática 

Os achados do estudo não fornecem subsídios para o uso rotineiro do eculizumabe com o objetivo de melhorar os desfechos neurológicos, mas reforçam a importância dos cuidados de suporte no manejo da SHU – STEC.  

Cabe destacar, entretanto, que tais achados não devem ser interpretados como evidência de ineficácia de tal medicação. Isso porque, apresentam limitações tendo em vista o desenho retrospectivo dos estudos incluídos, tamanho da amostra e falta de estudos clínicos randomizados com foco nos desfechos neurológicos. 

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Referências bibliográficas

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