As novas diretrizes de Suporte Avançado de Vida Pediátrico (SAVP) da American Heart Association (AHA) junto com a American Academy of Pediatrics (AAP) publicadas em outubro de 2025 na Circulation detalham cuidados após parada cardiorrespiratória (PCR), reabilitação e seguimento dos pacientes pediátricos que destacaremos neste artigo.

Cuidados após PCR
Os cuidados atuais preconizados após PCR são:
- Monitorar continuamente temperatura central (retal, esofageana ou vesical) em bebês e crianças que permanecem em coma após PCR visando evitar hipertermia (>37,5oC) e é razoável usar um tratamento de temperatura alvo (TTM) por 5 dias (primeiras 48 horas de 32 °C–34 °C seguido por 3 dias de 36 °C–37,5 °C) ou apenas TTM de 36 °C–37,5 °C;
- Monitorização cardiorrespiratória e oximetria de pulso contínua com alvo de saturação periférica de oxigênio (Spo2) de 94—99%;
- Visar nomoxemia;
- Monitorar lactato sérico, débito urinário, glicemia capilar (evitar hipoglicemia) e visar eletrólitos séricos normais;
- Monitorar com pressão arterial invasiva, tratar hipotensão arterial e manter pressão arterial média (PAM) e sistólica (PAS) > percentil 10 para a idade;
- Visar PaCO2 apropriada para a doença de base do paciente, evitando hipocapnia e hipercapnia;
- Quando disponível, fazer eletroencefalograma (EEG) contínuo para detectar crises convulsivas em pacientes com encefalopatia persistente;
- Tratar crises convulsivas incluindo estado de mal não convulsivo;
- Prevenir agitação e dor, usar sedativos, ansiolíticos e analgesia para atingir escore de sedação alvo.
Prognóstico após PCR
Atrase a avaliação do prognóstico por pelo menos 72 horas após PCR e lembre-se que tratamento de temperatura alvo pode alterar sua avaliação clínica. Considere vários fatores prognósticos em conjunto e não u de reativm fator isolado.
Considere como parte do teste multimodal para prognóstico FAVORÁVEL nos dias após PCR:
- No 1º dia:
- Nas primeiras 12 horas:
- reflexo pupilar bilateral presente;
- lactato sérico <2mmol por L;
- De 6-24 horas: presença de reatividade no EEG;
- De 12-24h: presença de fusos do sono ou estágio II do sono no EEG;
- Do 1º ao 3º dia:
- De 1-72 horas: presença de fundo de EEG contínuo ou normal;
- A partir do 3º dia (a partir de 72 horas): ter ressonância nuclear magnética (RNM) de crânio normal.
Considere como parte do teste multimodal para prognóstico DESFAVORÁVEL nos dias após PCR:
- No 1º dia (nas primeiras 24 horas): tomografia computadorizada de crânio (TCC) com perda da diferenciação da substância cinza da branca;
- No 2º e 3º dia:
- 25-48 horas: EEG com status epilepticus, padrão surto-supressão ou descargas periódicas generalizadas;
- 48-72 horas: ausência de fotorreatividade pupilar;
- Depois do 3º dia (≥72 horas): RNM de crânio mostrando área extensa de isquemia cerebral.
Existem recomendações contra usar qualquer teste isolado abaixo para prognóstico como:
- pH sérico para qualquer prognóstico;
- valor de lactato sérico para avaliar prognóstico desfavorável;
- TCC normal nas primeiras 48 horas após PCR para avaliar prognóstico favorável;
- Qualquer dos seguintes achados no EEG não embasam prognóstico neurológico desfavorável: presença de crises convulsivas clínicas ou no EEG, ausência de fusos do sono ou padrão II de sono, ausência de contínua ou normal atividade de fundo do EEG, ausência de reatividade de EEG e ausência de variabilidade no EEG;
- Qualquer dos seguintes achados no EEG não respaldam prognóstico neurológico favorável como ausência de EEG: plano, atenuado, isoelétrico, com surto-supressão ou com descargas epileptiformes periódicas generalizadas.
Há evidência insuficiente para recomendar a favor ou contra o uso de:
- Biomarcadores neuronais como S100B, enolase específica de neurônio e cadeia leve de neurofilamento;
- Dos seguintes dados eletroencefalográficos para embasar desfecho neurológico desfavorável como EEG atenuado, isoelétrico, palno ou com status epilepticus mioclônico;
- Do exame clínico como reflexo de tosse, vômito ou qualquer resposta motora para qualquer desfecho;
- Pontuação total ou motora da escala de coma de Glasgow para desfecho favorável.
Recomendações para promover melhora e reabilitação de sobreviventes de PCR
As seguintes recomendações são feitas pela AAP e AHA:
- A curtíssimo prazo:
- Expectativa: recuperação física precoce com identificação das causas subjacentes, reconhecimento de potenciais mudanças cognitivas, alto risco de ansiedade e de transtorno de estresse pós traumático (TEPT);
- Plano de ação: trabalho em equipe com Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e com a família para reabilitar com recuperação de função e força, também acompanhar com Psicologia e avaliar necessidade de encaminhar para Psiquiatria;
- A curto prazo:
- Expectativa: melhorar função cognitiva, atividades de vida diária e resiliência cardiovascular;
- Plano de ação: manter estratégias anteriores e aumentar exercício cardiovascular;
- A médio prazo:
- Expectativa: melhorar a memória e retornar para estudo, trabalho ou atividades prévias;
- Plano de ação: manter estratégias anteriores, avaliar terapias em grupo, prevenção de PCR recorrente e avaliação da saúde de membros da família;
- A longo prazo:
- Expectativa: melhorar a ansiedade, TEPT e qualidade de vida;
- Plano de ação: manter estratégias anteriores, avaliar terapias em grupo, prevenção de PCR recorrente e avaliação da saúde de membros da família.
Autoria

Renata Carneiro da Cruz
Editora médica de Pediatria da Afya ⦁ Mestre em Saúde Materno-Infantil pela UFRJ ⦁ Residência em Pediatria Geral pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Residência em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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