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Pediatria29 junho 2025

Diagnóstico da pancreatite pediátrica com teste de urina

Teste urinário de tripsinogênio-2 mostra alta precisão para diagnóstico precoce de pancreatite aguda em crianças.
Por Jôbert Neves

A pancreatite aguda (PA) em crianças é uma condição inflamatória do pâncreas com incidência crescente nas últimas décadas e de causa multifatorial. Embora menos comum do que em adultos, sua apresentação clínica pode ser inespecífica, dificultando o diagnóstico precoce e assertivo. Os critérios diagnósticos do consórcio INSPPIRE exigem pelo menos dois dos seguintes: dor abdominal típica, elevação de amilase/lipase ≥3x o limite superior da normalidade, ou achados de imagem compatíveis com PA. 

Contudo, os exames laboratoriais tradicionais são invasivos e podem ser desconfortáveis, especialmente em crianças pequenas. O teste de urina com dipstick de tripsinogênio-2 (UTDT), já validado em adultos, surge como uma alternativa promissora por ser rápido, não invasivo e de fácil aplicação.  Para melhor elucidar esse potencial ferramenta diagnóstica, foi conduzido um estudo prospectivo conduzido entre novembro de 2022 e outubro de 2024 em um hospital terciário em Israel., com cerca de 28 pacientes pediátricos (0–19 anos), totalizando 31 episódios de dor abdominal aguda. Critérios de inclusão incluíram dor abdominal superior ou central e ausência de suspeita de gastroenterite. Casos com dor abdominal crônica ou sintomas gastrointestinais inespecíficos foram excluídos. 

O diagnóstico de PA foi estabelecido baseado nos critérios INSPPIRE. Amostras de urina foram coletadas nas primeiras 24 horas ou posteriormente durante a internação.Para o teste UTDT, utilizou-se o Actim® Pancreatitis (Medix Biochemica), com limite de detecção de 50 µg/L. O teste foi considerado positivo com duas faixas azuis (teste e controle). Os resultados foram os seguintes:  

 

  • Diagnóstico: 19 dos 31 episódios (61%) foram confirmados como PA. 
  • Desempenho do UTDT: 
  • Sensibilidade geral: 68,4% 
  • Especificidade: 100% 
  • Sensibilidade nas primeiras 24h: 87,5% 
  • Sensibilidade após 24h: 54,5% 
  • VPP: 100% 
  • VPN: 66,7% 
  • Etiologias da PA: 
  • Pancreatite hereditária: 25% (mutação PRSS1 ou CFTR) 
  • Doença biliar: 12% 
  • Malformações pancreáticas: 6% 
  • Infecção: 6% 
  • Complicações de gastrostomia: 13% 
  • Idiopática: 25% 
  • Casos não-PA: Incluíram gastroenterite, linfadenite mesentérica, colangite, infecção por C. difficile e parotidite. Todos apresentaram UTDT negativo. 

urina

Discussão 

O UTDT demonstrou alta especificidade e sensibilidade especialmente quando realizado precocemente, o que reforça seu potencial como ferramenta diagnóstica inicial. A liberação de tripsinogênio-2 na urina é um marcador mais específico de lesão pancreática do que amilase ou lipase, que podem estar elevadas em outras condições (ex.: insuficiência renal, parotidite). 

Vale ressaltar que a coleta de urina é menos invasiva, mais rápida e mais confortável para crianças, especialmente em contextos de dor abdominal recorrente. Além disso, o UTDT pode ser útil em triagens domiciliares, reduzindo visitas desnecessárias ao pronto-socorro. 

Conclusão 

O UTDT é uma ferramenta promissora para o diagnóstico precoce de PA pediátrica. Sua alta especificidade, facilidade de uso e caráter não invasivo o tornam uma alternativa viável aos exames laboratoriais tradicionais. Estudos futuros com amostras maiores são essenciais para confirmar sua aplicabilidade clínica e potencial integração em protocolos de atendimento pediátrico. 

Veja mais: Manejo da pancreatite aguda na pediatria

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Referências bibliográficas

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