Dexmedetomidina e síndrome de abstinência em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica
Um estudo concluiu que o uso de dexmedetomidina suplementar não teve efeito preventivo sobre a síndrome de abstinência iatrogênica (SAI).
Um estudo realizado na Holanda concluiu que o uso de dexmedetomidina suplementar não teve efeito preventivo sobre a síndrome de abstinência iatrogênica (SAI) em pacientes recebendo sedativos em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). O artigo Dexmedetomidine and Iatrogenic Withdrawal Syndrome in Critically Ill Children foi publicado no jornal Critical Care Nurse.
A SAI é um conhecido efeito adverso de sedativos e analgésicos comumente usados em pacientes em ventilação mecânica (VM) em UTIP, com incidência de até 64,6%. Em muitas situações, a dexmedetomidina é associada ao esquema analgosedativo. No entanto, o efeito da dexmedetomidina suplementar na SAI não é claro. Dessa forma, o objetivo do estudo foi explorar o efeito potencialmente preventivo da dexmedetomidina, usada como suplemento aos regimes padrão de morfina e midazolam, no desenvolvimento da SAI em pacientes pediátricos submetidos à VM.
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Metodologia
Os pesquisadores conduziram o estudo em uma UTIP terciária de um único hospital universitário em Amsterdam. Essa UTIP geral possui 10 leitos e atende cerca de 550 pacientes por ano, desde recém-nascidos (RN) a pacientes de 18 anos.
Foram incluídos todos os pacientes internados na unidade entre 1º de janeiro de 2016 e 6 de dezembro de 2018, que foram submetidos à VM e receberam tratamento sedativo com morfina e midazolam por pelo menos 48 horas continuamente.
Midazolam e morfina foram administrados e os ajustes de dose foram feitos de acordo com um protocolo que fazia parte do tratamento padrão do paciente. O midazolam e a morfina foram iniciados em infusão contínua baixa e, quando necessário, aumentados para a dosagem contínua máxima de 0,3 mg/kg/h de midazolam e 30 μg/kg/h de morfina. Se os níveis de sedação permanecessem insatisfatórios, a dexmedetomidina era iniciada como tratamento adjuvante. A dose de infusão contínua de dexmedetomidina foi ajustada para atingir o nível ideal de sedação, para uma dosagem máxima de 1,5 μg/kg/h. Nenhuma dose de ataque foi administrada quando a dexmedetomidina foi iniciada. Os níveis de sedação foram avaliados por meio da escala comportamental COMFORT. Quando o paciente era considerado pronto para extubação, o tratamento analgésico e sedativo era gradualmente desmamado e interrompido seguindo um protocolo que especifica uma redução na dosagem contínua de midazolam de 0,05 mg/kg/h a cada 8 horas e uma redução de morfina de 5 μg/kg/h a cada 8 horas. A dose de dexmedetomidina foi reduzida em 0,2 μg/kg/h a cada 8 horas.
O desfecho primário foi a incidência de SAI, medida usando a Sophia Observation withdrawal Symptoms-scale, após a administração de sedativo contínuo e tratamento analgésico por um mínimo de 48 horas.
Resultados
Em uma amostra de 102 pacientes, 56 (54,9%) receberam dexmedetomidina suplementar. A mediana de idade foi de 6,5 meses, 57 pacientes (55,9%) eram do sexo masculino e a duração mediana da VM foi de 6 dias. No total, 63 (61,2%) pacientes desenvolveram SAI.
Os pesquisadores descreveram que a dose cumulativa de dexmedetomidina não teve efeito preventivo sobre o desenvolvimento da SAI (P = 0,19). Após ajuste nas características basais entre os pacientes que receberam e não receberam dexmedetomidina, a dose cumulativa de midazolam foi considerada um fator de risco significativo para SAI (P <0,03).
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Conclusão
Os resultados deste estudo indicam que o uso de dexmedetomidina como suplemento ao regime de drogas sedativas convencionalmente usado na UTIP não tem efeito preventivo sobre o desenvolvimento de SAI. Entretanto, estudos prospectivos futuros são necessários. A dexmedetomidina pode ter um lugar de destaque nos regimes sedativos de crianças graves, mas deve ser usada com cautela. É importante destacar que os pesquisadores observaram que a dose cumulativa de midazolam é um fator de risco independente significativo para o desenvolvimento de SAI.
Comentário
A dexmedetomidina tem sido usada já há alguns anos em UTIP e, inicialmente, era um medicamento para uso em curto prazo (a aprovação de início pelo fabricante era para uso em 24 horas). Na prática clínica, a dexmedetomidina tem sido usada por períodos bem mais longos. A literatura descreve que o uso prolongado de qualquer sedativo levanta a questão da retirada do medicamento, e a dexmedetomidina não pode estar de fora. Inclusive, já existem relatos de abstinência com seu uso prolongado. Portanto, o uso da dexmedetomidina deve ser mais criterioso e o uso de medidas não farmacológicas para analgesia e sedação deve ser cada vez mais incentivado.
Referências bibliográficas
- Geven BM, Maaskant JM, Ward CS, van Woensel JBM. Dexmedetomidine and Iatrogenic Withdrawal Syndrome in Critically Ill Children. Crit Care Nurse. 2021;41(1):e17-e23. doi:10.4037/ccn2021462
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