As malformações anorretais (MAR) representam um espectro de anomalias congênitas complexas que afetam o trato gastrointestinal distal e o sistema urogenital, com incidência estimada de 1 em cada 5.000 nascidos vivos. A correção cirúrgica dessas anomalias visa otimizar os resultados funcionais a longo prazo, especialmente a continência. A cirurgia robótica tem emergido como uma alternativa promissora à abordagem laparoscópica convencional, oferecendo vantagens como visualização tridimensional, maior precisão e ergonomia superiores, especialmente em dissecções pélvicas profundas.
Para melhor elucidar esse tópico, foi realizada uma revisão sistemática registrada no PROSPERO (CRD420251029545), seguindo as diretrizes PRISMA. As bases de dados PubMed, Web of Science e Cochrane Library foram pesquisadas para estudos publicados entre 2000 e 2025, envolvendo pacientes pediátricos (<18 anos) submetidos à cirurgia robótica para MAR. Foram incluídos estudos comparativos e não comparativos, excluindo-se editoriais, resumos sem dados completos e revisões. Veja os resultados de forma objetiva abaixo:
Resultados
Número de estudos e pacientes incluídos:
- Oito estudos retrospectivos foram incluídos, totalizando 39 pacientes pediátricos submetidos à anorrectoplastia assistida por robô (RAARP).
Perfil dos pacientes:
- Razão masculino:feminino de 15:1.
- Idade mediana no momento da cirurgia: 6,9 meses (variação: 2,8–24 meses).
- Peso mediano: 7,6 kg (variação: 5,6–10,3 kg).
Tipos de malformações anorretais:
- Fístula reto-bulbar: 14 casos.
- Fístula reto-prostática: 7 casos.
- Fístula reto-vesical: 6 casos.
- Fístula reto-vaginal: 1 caso.
- Em 11 pacientes, a localização da fístula não foi especificada.
Técnica cirúrgica:
- Todos os procedimentos utilizaram o sistema robótico Da Vinci®.
- A técnica de Georgeson adaptada à plataforma robótica foi descrita em metade dos estudos.
- O posicionamento dos trocares variou, com uso de 2 a 3 portas de trabalho, geralmente nos flancos inferiores.
Tempo cirúrgico e internação:
- Tempo operatório mediano: 226,3 minutos (variação: 100–349 minutos).
- Tempo de internação mediano: 5,5 dias (variação: 3–14 dias).
Complicações:
- Nenhuma conversão para cirurgia aberta foi necessária.
- Não houve complicações intraoperatórias ou pós-operatórias imediatas significativas.
- Complicações tardias ocorreram em 18% dos pacientes (7/39), incluindo:
- Prolapso retal (2 casos, um com necessidade de ressecção).
- Estenose anal (2 casos, tratados com dilatações).
- Dermatite perineal (2 casos).
- Epididimorquite associada a divertículo uretral (1 caso).
Resultados funcionais (seguimento mediano de 18,8 meses):
- Continência satisfatória na maioria dos casos.
- Incontinência fecal em 4 de 33 pacientes (12%).
- Constipação em 3 de 33 pacientes (9%).
Estudo comparativo:
- Apenas um estudo comparou RAARP com PSARP convencional.
- Resultados sugerem melhor continência (escores de Kelly mais altos) e menor taxa de constipação (escores de Krickenbeck mais baixos) no grupo robótico.
Conclusão
A anorrectoplastia assistida por robótica (RAARP) é uma abordagem segura e viável para pacientes pediátricos selecionados com MAR, especialmente em casos de anatomia pélvica complexa. A técnica oferece vantagens técnicas relevantes, como melhor visualização e preservação nervosa. No entanto, a evidência atual é limitada por amostras pequenas, ausência de padronização e seguimento de curto prazo.
A cirurgia robótica representa uma alternativa tecnicamente vantajosa para o tratamento de MAR complexas em crianças, com potencial para melhores resultados funcionais. Contudo, são necessários estudos prospectivos, comparativos e com seguimento prolongado para consolidar seu papel na prática clínica.
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