Um estudo publicado recentemente no jornal Pediatrics mostrou que os adolescentes mais jovens em risco de obesidade grave beneficiam-se da cirurgia bariátrica tanto quanto os adolescentes mais velhos, não devendo a idade ser motivo para a não realização do procedimento.
Nas últimas décadas, a obesidade vem crescendo exponencialmente, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, onerando a saúde e a economia mundiais. Nos Estados Unidos, afeta 13,7 milhões de crianças, das quais 6% atendem à definição de obesidade grave. O aumento da obesidade infantil trouxe o surgimento de doenças crônicas que só existiam na idade adulta, como hipertensão, dislipidemia e diabetes mellitus tipo 2, condições associadas a uma diminuição de cinco a vinte anos na expectativa de vida.
As cirurgias metabólica e bariátrica (CMB) têm se mostrado como tratamentos eficazes e duráveis para a obesidade e suas complicações, com a perda de peso e as melhorias na saúde superando as alcançadas com as terapias não cirúrgicas. Recentemente, as diretrizes pediátricas da American Society for Metabolic and Bariatric Surgery removeram a recomendação de se atingir a altura adulta ou maturidade puberal antes de prosseguir com a CMB, eliminando assim as restrições de idade mais jovem. A American Academy of Pediatrics defende o aumento do uso e do acesso a CMB para pacientes pediátricos e reconhece evidências insuficientes para apoiar as limitações de elegibilidade com base na idade.
O estudo sobre cirurgia bariátrica em adolescentes
Sendo assim, no período entre março de 2007 a dezembro de 2011, 242 adolescentes com idade igual ou inferior a 19 anos e que se submeteram à cirurgia bariátrica em cinco centros clínicos nos Estados Unidos, foram inscritos no estudo prospectivo e multicêntrico Teen–Longitudinal Assessment of Bariatric Surgery. Os pacientes foram divididos em dois grupos, cujos resultados foram comparados: um grupo tinha 66 adolescentes com idades entre 13 e 15 anos e o outro grupo era composto por 162 adolescentes com idades entre 16 e 19 anos. Os participantes foram avaliados posteriormente após seis meses, um ano e, em seguida, anualmente durante os quatro anos seguintes à cirurgia, completando cinco anos, sendo que 230 dos 242 participantes (95%) permaneceram ativos no estudo.
Os desfechos incluíram alteração percentual do índice de massa corpórea (IMC), comorbidades (hipertensão, dislipidemia e diabetes mellitus tipo 2), anormalidades de micronutrientes (ferritina, folato, vitamina B12, vitamina D, vitamina A e paratohormônio) e métricas de qualidade de vida durante os cinco anos após a cirurgia. Por causa do pequeno número de participantes submetidos à banda gástrica laparoscópica ajustável (n=14), apenas aqueles submetidos a derivação gástrica em Y de Roux (RYGB) (n = 161) ou gastrectomia vertical (n=67) foram analisados.
Os pesquisadores descreveram que a coorte geral era predominantemente feminina (75%) e branca (72%) e tinha um IMC inicial médio de 52,6. As características basais, exceto para a idade, entre as 2 coortes foram semelhantes. Não foram observadas diferenças significativas na frequência de remissão da hipertensão (P = 0,84) ou dislipidemia (P = 0,74) entre os grupos. A remissão do diabetes mellitus tipo 2 foi alta em ambos os grupos, embora estatisticamente maior em adolescentes mais velhos (risco relativo de 0,86; P = 0,046). A perda de peso e a qualidade de vida foram semelhantes nas duas faixas etárias. Adolescentes mais jovens eram menos propensos a desenvolver transferrina elevada (razão de prevalência 0,52; P = 0,048) e baixos níveis de vitamina D (razão de prevalência 0,8; P = 0,034).
Os achados deste estudo apoiam o uso de intervenção precoce com base na indicação clínica em vez de apenas na idade, proporcionando ao paciente uma oportunidade de atingir um IMC normal após a cirurgia, promovendo resolução das complicações da obesidade e reduzindo o número de anos obesos na vida de uma criança.
Os pesquisadores, no entanto, destacam o fato de que os pacientes mais jovens são incapazes de compreender completamente os riscos, benefícios e mudanças de estilo de vida ao longo da vida que vêm com a CMB. No entanto, o retardo em se indicar a cirurgia, pode expor os adolescentes a medicamentos insuficientemente estudados para obesidade e comorbidades, além de aumentar o risco de exposição à saúde da criança, o que pode representar um desafio ético ainda maior. Estudos mais recentes com adolescentes revelam taxas mais baixas de complicações, em comparação a adultos, e taxas de complicações comparáveis em pacientes pediátricos mais jovens e mais velhos. O envolvimento da família é mais comum e necessário nos pacientes mais jovens, para garantir a conformidade com suplementos e acesso a alimentos saudáveis. Todavia, adolescentes mais velhos correm o risco de abandono durante a transição para a idade adulta, enfatizando a necessidade de acompanhamento a longo prazo para esta população única. É possível que o início precoce dos hábitos pós-operatórios e o aumento da supervisão na coorte mais jovem levem para o padrão de deficiências nutricionais visto neste estudo e pode apoiar um papel para uma intervenção precoce.
Concluindo
A obesidade grave em crianças é uma comorbidade de risco elevado, associada a muitos problemas de saúde, mas que, infelizmente, pode não responder a tratamentos conservadores, como mudanças no estilo de vida ou uso de medicamentos. No entanto, há necessidade de mais dados, fatores familiares e psicológicos também estão envolvidos, mas talvez o encaminhamento precoce de uma cirurgia bariátrica em adolescentes com casos de falhas no tratamento conservador deva ser considerado como uma possibilidade para evitar complicações futuras.
Referência bibliográfica:
- Ogle SB, Dewberry LC, Jenkins TM, Inge TH, Kelsey M, Bruzoni M, Pratt JSA. Outcomes of Bariatric Surgery in Older Versus Younger Adolescents. Pediatrics. 2021 Feb 1:e2020024182. doi: 10.1542/peds.2020-024182. Epub ahead of print. PMID: 33526606.
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