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Pediatria9 setembro 2022

Brometo de tiotrópio é eficaz no tratamento da sibilância episódica na infância?

Um estudo avaliou a eficácia do tratamento intermitente com brometo de tiotrópio na sibilância episódica na primeira infância.

O brometo de tiotrópio (ou tiotrópio) é um fármaco anticolinérgico seletivo de ação prolongada que produz uma leve broncodilatação e diminui a secreção de muco das glândulas submucosas, impedindo a função da acetilcolina. Possui um papel estabelecido como um controlador adicional da asma em adultos e foi comprovado ser seguro e eficaz em adolescentes e crianças como terapia adjuvante da asma. No entanto, não há publicações anteriores avaliando-o como tratamento independente da sibilância episódica.  

Em pediatria, as opções para tratar e prevenir a sibilância episódica são escassas. Dessa forma, o objetivo do estudo Intermittent Tiotropium Bromide for Episodic Wheezing: A Randomized Trial foi avaliar a eficácia do tratamento intermitente com brometo de tiotrópio na sibilância episódica na primeira infância. Os resultados foram publicados no jornal Pediatrics da Academia Americana de Pediatria.  

sibilância episódica

Metodologia

O estudo, randomizado, aberto, controlado e de grupos paralelos, foi conduzido em quatro hospitais da Finlândia. Foram consideradas elegíveis crianças de 6 a 35 meses de idade com história de dois a quatro episódios de sibilos e/ou dispneia confirmados por médico.  

Foram excluídas crianças com suspeita ou diagnóstico de doença pulmonar parenquimatosa crônica ou defeito estrutural das vias aéreas, ou história de toracotomia com ressecção pulmonar; história de doença cardíaca congênita ou adquirida, incluindo qualquer arritmia cardíaca instável ou com risco de vida; constipação com necessidade de medicação regular ou defeito estrutural diagnosticado ou suspeito no trato gastrointestinal; história de malignidade ou outra doença crônica ou distúrbio significativo, incluindo necessidade de medicamento regular para controle da asma. 

A população do estudo incluiu 80 crianças que foram alocadas aleatoriamente para receber um de três tratamentos:  

  • Brometo de tiotrópio, 5 mcg, uma vez ao dia, por sete a 14 dias, durante infecções do trato respiratório e sulfato de albuterol 0,2 mg conforme necessário (n = 27); OU;
  • Propionato de fluticasona 125 mcg, duas vezes ao dia, por sete a 14 dias, durante infecções do trato respiratório e sulfato de albuterol 0,2 mg conforme necessário (n = 25); OU;
  • Sulfato de albuterol 0,2 mg, isolado, conforme necessário (n = 28).  

Os participantes foram acompanhados por 48 semanas.  

Resultados

A proporção de dias sem episódios foi maior naqueles que receberam brometo de tiotrópio intermitente (mediana de 97%) do que naqueles que receberam propionato de fluticasona intermitente (87%, P = 0,002), ou apenas com sulfato de albuterol conforme necessário (88%, P = 0,003). Como desfecho secundário, o sulfato de albuterol isolado, conforme necessário, teve uma proporção maior de pacientes que descontinuaram o tratamento devido a sintomas respiratórios incômodos em comparação com o brometo de tiotrópio intermitente (razão de risco [RR] 0,26, P = 0,004), mas não comparado ao tratamento intermitente com propionato de fluticasona. 

O ajuste com sensibilização alérgica, o número inicial de episódios confirmados de sibilos e/ou dispneia, ou tratamento de curta duração com glicocorticoides nas duas semanas prévias à entrada no estudo não afetaram o resultado. Eventos adversos relacionados à intervenção não foram observados. 

Conclusão 

Conforme descrito pelos pesquisadores, esse estudo pode afetar as perspectivas futuras no tratamento de uma criança com sinais precoces de sibilância, pois o tratamento intermitente com brometo de tiotrópio pode ser uma alternativa eficaz às terapias atuais. No entanto, o estudo é limitado por seu pequeno tamanho de amostra (n=80) e provavelmente tem pouca capacidade para detectar eventos adversos raros. Dessa forma, mais estudos do tipo duplo-cego e um tamanho de amostra maior são necessários para validar ainda mais esses achados antes da implementação prática.

Leia também: Revisão avalia se há definição clara da expressão “dor de crescimento” na literatura médica

Comentários 

Conforme documento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 2018, no Brasil, o uso do tiotrópio Respimat® (5 mcg /dia) em crianças a partir dos seis anos com asma moderada não controlada com corticoide inalatório (CI) ou grave não controlada com CI + LABA (agente beta2-agonistas de duração longa), respectivamente. De acordo com a recomendação da ASBAI e SBP, o tiotrópio deve ser considerado uma opção de tratamento coadjuvante ao CI ou CI+LABA para tratamento de asma grave em crianças a partir de seis anos nas doses de 2,5 a 5 mcg/dia, uma vez ao dia (o dispositivo Respimat®, quando indicado, pode ser adaptado ao espaçador).

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