Crianças com diagnóstico de infecção do trato urinário (ITU) recebem, em geral, dez dias de antibioticoterapia, diferentemente de pacientes adultos cujo tratamento dura cerca de três a sete. De fato, há uma escassez de dados comparativos específicos para a pediatria para orientar a duração das recomendações do tempo de antibióticos nesses pacientes.
Para comparar a eficácia da terapia padrão versus a terapia de curta duração em crianças com ITU, pesquisadores dos Estados Unidos conduziram o estudo Short Course Therapy for Urinary Tract Infections (SCOUT), publicado recentemente no JAMA Pediatrics.
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Metodologia
O SCOUT foi um ensaio clínico randomizado de não inferioridade realizado em ambulatórios e departamentos de emergência de dois hospitais infantis americanos (The Children’s Hospital of Philadelphia e UPMC Children’s Hospital of Pittsburgh) no período de maio de 2012 a agosto de 2019. Os dados foram analisados de janeiro de 2020 a fevereiro de 2023.
Foram incluídas crianças de 2 meses a 10 anos de idade com ITU apresentando melhora clínica após cinco dias de antimicrobianos. Os pacientes foram divididos em dois grupos: o grupo de “tratamento padrão” recebeu mais cinco dias de antibioticoterapia e o grupo “curso curto” recebeu cinco dias de placebo.
O desfecho primário (falha do tratamento) foi definido como ITU sintomática na primeira visita de acompanhamento ou antes dela (dias 11 a 14). Já os desfechos secundários incluíram ITU após a primeira visita de acompanhamento, bacteriúria assintomática, urocultura positiva e colonização gastrointestinal com organismos resistentes.
Resultados
Foram incluídas 664 crianças: 328 no grupo “tratamento padrão” e 336 no grupo “curso curto”, sendo 639 meninas (96%) com idade média de 4 anos. Entre as crianças avaliáveis para o desfecho primário, 2 de 328 designadas para o curso padrão (0,6%) e 14 de 336 designadas para o curso curto (4,2%) tiveram falha no tratamento (diferença absoluta de 3,6%). As crianças que receberam terapia de curta duração foram mais propensas a ter bacteriúria assintomática ou cultura de urina positiva na primeira consulta de acompanhamento ou na primeira visita. Não houve diferenças entre os grupos nas taxas de ITU após a primeira visita de acompanhamento, incidência de eventos adversos ou incidência de colonização gastrointestinal com organismos resistentes.
Conclusão
O SCOUT concluiu que as crianças do grupo “tratamento padrão” tiveram taxas mais baixas de falha terapêutica do que as crianças do grupo de curta duração. No entanto, os pesquisadores destacaram que a baixa taxa de insucesso da terapia de curta duração sugere que ela pode ser considerada uma opção razoável para crianças que apresentam melhora clínica após cinco dias de tratamento antimicrobiano.
Comentários
Em sua última atualização sobre ITU, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) descreve que, segundo as diretrizes inglesa (NICE), italiana (ISPN) e australiana (KHA-Cari), o tempo de tratamento com antibiótico é de 10 dias na ITU febril, e que as diretrizes canadense e americana (AAP) propõem sete a 14 dias de antibioticoterapia. A SBP também destaca que a Colaboração Cochrane afirma serem necessários novos estudos para definir o tempo total de terapia antimicrobiana da ITU em pacientes pediátricos.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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