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Pediatria27 junho 2025

Anormalidades espinhais em crianças com constipação refratária

Anormalidades espinhais ocultas não alteram os desfechos clínicos em crianças com constipação refratária, segundo estudo.
Por Jôbert Neves

A constipação crônica é uma das queixas mais comuns na prática pediátrica, sendo responsável por até 25% das consultas em gastroenterologia pediátrica. Embora a maioria dos casos seja funcional, cerca de 20% a 30% das crianças apresentam sintomas refratários ao tratamento convencional, o que requer uma avaliação mais minuciosa. A possível associação entre constipação refratária (CR) e anormalidades espinhais ocultas (AEOs) permanece controversa. Este estudo teve como objetivo avaliar o impacto das AEOs nos desfechos clínicos de longo prazo em crianças com CR, por meio da análise de exames de ressonância magnética (RM) da coluna vertebral. 

Para melhor elucidar esse ponto, um estudo retrospectivo com análise de prontuários de crianças submetidas à RM da coluna entre janeiro de 2021 e dezembro de 2023 para investigação de CR foi conduzido. Foram excluídas crianças com causas orgânicas conhecidas de constipação, anormalidades neurológicas evidentes ou exame neurológico alterado. A CR foi definida como constipação sem resposta ao tratamento convencional por pelo menos 3 meses. Foram coletados dados demográficos, clínicos, resultados de exames, tratamentos realizados e evolução clínica. A resolução da constipação foi definida com ≥3 evacuações semanais e incontinência fecal <1 vez por semana por pelo menos 4 semanas. Veja os resultados mais relevantes:  

Foram incluídas 54 crianças (29 do sexo masculino), com idade mediana de 9 anos (1–17 anos) e início dos sintomas aos 1,5 anos (0,1–11 anos). Destas, 17 (31,4%) apresentavam comorbidades, como transtorno do espectro autista (n = 15), epilepsia (n = 1) e paralisia cerebral (n = 1). 

  • Achados neurológicos: 76% apresentavam incontinência fecal, 37% incontinência urinária e 16% ausência do reflexo anal/cremasteriano. 
  • RM anormal foi identificada em 13 crianças (24%), com os seguintes achados: 
  • Siringomielia (n = 8) 
  • Cisto meníngeo do canal sacral (n = 2) 
  • Lipoma de filum terminale (n = 1) 
  • Espinha bífida oculta (n = 1) 
  • Nódulo de Schmorl (n = 1) 

A ausência do reflexo anal/cremasteriano foi significativamente mais comum no grupo com AEOs (4/13 vs. 4/41; p = 0,02). Não houve diferença significativa entre os grupos quanto à presença de incontinência urinária (p = 0,34) ou fecal (p = 0,44). 

  • Intervenções: Apenas um paciente com malformação de Chiari e siringomielia foi submetido à neurocirurgia, sem melhora dos sintomas. 
  • Seguimento: Mediana de 677 dias (181–1240). A resolução da constipação ocorreu em 48% dos pacientes (n = 26), sem diferença significativa entre os grupos com e sem OSAb (p = 0,94). 
  • Tratamentos adicionais: 
  • 22 pacientes realizaram cintilografia de trânsito colônico, incluindo 3 com AEOs. 
  • 9 pacientes utilizaram estimulação elétrica transabdominal (TESIT), com melhora em 3 (1 com AEOs). 
  • 13 crianças necessitaram de cirurgia (enema colônico anterógrado ou ressecção), sem diferença entre os grupos. 

Não houve diferença significativa na dose de laxantes, tempo até resolução, hospitalizações ou necessidade de cirurgia entre os grupos com e sem AEOs. 

Conclusão 

A presença de anormalidades espinhais ocultas em crianças com constipação refratária não influenciou os desfechos clínicos de longo prazo, incluindo resposta ao tratamento, necessidade de laxantes, tempo até resolução ou necessidade de cirurgia. Esses achados sugerem que a identificação de AEOs por RM não deve, por si só, modificar a abordagem terapêutica, sendo útil principalmente para fins prognósticos e de orientação familiar. 

Veja também: Mitos sobre constipação infantil

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Referências bibliográficas

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