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Pediatria11 julho 2025

Aleitamento materno e anemia ferropriva em bebês: qual a relação?

Estudo relaciona leite de vaca exclusivo à anemia ferropriva em lactentes e reforça a importância da educação nutricional dos pais.

A anemia por deficiência de ferro (ADF) consiste em uma questão relevante de saúde pública globalmente e o tipo mais frequente de deficiência de micronutrientes. Conforme dados de 2012, afeta aproximadamente 1,6 bilhão de pessoas em todo o planeta. Trata-se de um enorme desafio em pediatria, devido a seu impacto potencial no crescimento, na função imunológica e no desenvolvimento cognitivo em longo prazo, caso o paciente não seja tratado adequadamente. 

A amamentação com leite de vaca (LV) traz um maior risco de ADF, devido ao seu menor teor de ferro, à possibilidade de perda sanguínea intestinal oculta associada ao seu consumo na infância e à redução da absorção de ferro não-heme provocada por componentes como caseína e cálcio.  

Em países em desenvolvimento, a ADF é uma grande preocupação. No Paquistão, por exemplo, a taxa de mortalidade infantil é elevada. Muitas crianças sofrem de ADF no país e é comum apresentarem crescimento prejudicado, atrasos cognitivos e redução da atividade física. O presente texto traz os resultados de um estudo muito interessante publicado no periódico Cureus e que avaliou a prevalência de ADF em lactentes paquistaneses, onde as taxas crescentes de ADF e a limitada conscientização sobre práticas ideais de amamentação ressaltam a necessidade de uma investigação direcionada. 

materno

Metodologia 

Trata-se de um estudo transversal conduzido no Departamento de Pediatria do Hospital Lady Reading, em Peshawar, de outubro de 2024 a fevereiro de 2025. O objetivo foi avaliar a prevalência de anemia falciforme (AF) em lactentes de até 12 meses de vida, em aleitamento materno exclusivo (AME) ou em alimentação exclusiva com leite de vaca (AELV). Os pacientes com hemoglobina <9,5 g/dL e volume corpuscular médio (VCM) <70 fL foram rotulados como portadores de ADF. Foram excluídos bebês prematuros, com doenças crônicas e os que estavam recebendo suplementação de ferro. 

Resultados 

O estudo incluiu 340 lactentes com média de idade de 3,71 meses (± 1,84 meses). Destes 340, 196 (57,6%) receberam AME e 144 (42,4%) receberam AELV. O diagnóstico de ADF foi feito em 127/340 lactentes (37,4%), sendo que, entre eles, 92/127 (72,44%) receberam AELV, com associação significativa entre ambos, ADF e AELV (p < 0,001). Os pesquisadores não observaram associação significativa entre a frequência de consultas pediátricas e a prevalência de ADF. Ademais, descreveram que a confiança dos pais em compreender as necessidades nutricionais de seus bebês foi significativamente relacionada à ocorrência de ADF (p = 0,05). 

Conclusão 

Esses resultados destacam o impacto significativo das práticas alimentares sobre o estado de ferro em lactentes de até 1 ano de vida e estão em consonância com estudos prévios que indicam que o LV possui baixo teor de ferro e pode inibir sua absorção, contribuindo para o desenvolvimento de anemia nessa faixa etária. Em contraste, a frequência das consultas pediátricas não demonstrou correlação significativa com a prevalência de ADF, o que sugere que, embora as visitas médicas regulares sejam essenciais para o monitoramento geral da saúde, elas podem não influenciar diretamente o estado de ferro. Por fim, a associação significativa entre a confiança dos pais em compreender as necessidades nutricionais de seus lactentes e a ocorrência de ADF ressalta a importância de aprimorar a educação parental sobre a nutrição adequada na infância para prevenir a sua ocorrência. Diante dessas conclusões, os pesquisadores enfatizam o papel crítico das práticas alimentares adequadas e a necessidade de programas direcionados de educação nutricional para pais, a fim de mitigar o risco de ADF na população pediátrica, em especial de lactentes.  

Comentários 

O Brasil conseguiu um marco na redução da ADF em crianças menores de 5 anos: dados do Ministério da Saúde mostram uma diminuição de 20,9% de prevalência em 2006 para 10,0% em 2019. Se formos considerar a prevalência conforme as regiões do país, temos ainda um número elevado na região Norte (30,3%), seguida pelas regiões Centro-Oeste (19,2%), Nordeste (18,8%), Sudeste (17,6%) e Sul (13,8%). Portanto, ainda há muitos desafios relacionados à ADF, apesar das políticas públicas de incentivo ao AME até os seis meses e ao uso de fórmulas infantis fortificadas quando a amamentação não é possível. 

Veja também: Anemia ferropriva na gestação

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