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Pediatria3 agosto 2025

Agosto dourado: aleitamento materno e seus desfechos em crianças

Apesar de os aspectos positivos da amamentação e do consumo de leite materno (LM) para lactentes já serem amplamente reconhecidos, ainda existem muitas dúvidas sobre a extensão e a variabilidade dos benefícios com relação à duração, intensidade, fonte e modo do aleitamento materno (AM). Uma revisão sistemática publicada na Pediatrics sintetizou evidências atuais sobre a associação entre AM e uma série de desfechos de saúde infantil em países desenvolvidos. 

Metodologia 

Para revisar as evidências sobre a associação entre AM e desfechos de saúde infantil, pesquisadores conduziram buscas sistemáticas na literatura nas bases de dados CINAHL, Embase e MEDLINE para artigos em inglês publicados de 2006 a 14 de agosto de 2024. Foram selecionadas revisões sistemáticas existentes e estudos primários comparando diversas exposições ao AM e desfechos de saúde infantil entre lactentes nascidos a termo em países desenvolvidos, isto é, definidos como cenário “muito alto” no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2021, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Os desfechos de saúde observados em qualquer momento do curso da vida (salvo especificação em contrário), eram especificamente os seguintes: alergias, especificamente dermatite atópica, rinite alérgica e alergias alimentares; asma (idade ≥ 24 meses); doença celíaca; desenvolvimento cognitivo para idade ≥ 12 meses; câncer infantil (idade < 18 anos); desfechos de doenças cardiovasculares (idade ≥ 24 meses), especificamente incidência, prevalência, mortalidade, hiperlipidemia, hipertensão, aterosclerose e síndrome metabólica; diabetes tipo 1 e 2; doenças infecciosas, especificamente otite média, diarreia/infecção gastrointestinal; infecções do trato respiratório superior e inferior, incluindo covid-19; desfechos de saúde bucal, especificamente cáries e má oclusão; mortalidade infantil (idades <12 meses); morte súbita infantil; doença inflamatória intestinal e desfechos relacionados ao peso, especificamente ganho de peso rápido (idades ≤12 meses) e crescimento (do nascimento aos 18 anos), além de obesidade (idades ≥24 meses).  

Foram excluídos estudos com qualquer outro desfecho não especificado, incluindo os de saúde materna, conduzidos exclusivamente entre bebês prematuros (idade gestacional < 37 semanas), bebês com baixo peso ao nascer (< 2500 g) ou pequenos para a idade gestacional (PIG), mulheres com condições médicas contraindicadas para amamentação (por exemplo, HIV e câncer de mama), aplicação de LM na pele, autorrelato de um adulto relembrando o que lhe foi dito sobre seu estado de AM na infância. Também foram excluídos: estudos de intervenções de apoio ao AM sem acompanhamento observacional dos desfechos de saúde, estudos nos quais o AM foi incluído apenas como uma covariável e não como uma variável independente primária, estudos sem grupos de comparação, estudos transversais e séries de casos. 

Resultados 

Foram incluídos 145 estudos primários e 29 revisões sistemáticas prévias. Os pesquisadores descreveram que uma associação indicando um risco reduzido entre mais e menos AM foi aparente nas seguintes condições: asma, diabetes tipo 1, doença inflamatória intestinal, infecções respiratórias e gastrointestinais moderadas a graves, leucemia, má oclusão, mortalidade, otite média, pressão arterial sistólica elevada, rinite alérgica, ganho e crescimento rápidos de peso, e obesidade. No entanto, não foi observado um limite claro para a duração do AM que parecesse mais benéfico para qualquer desfecho. Além disso, havia poucos dados avaliando se as associações eram variáveis conforme a fonte de LM e o modo de AM.  

As limitações do estudo, como variabilidade na mensuração do AM, fatores de confusão e dados ausentes, restringiram a habilidade de estabelecer limiares claros ou relações dose-resposta precisas, diminuindo a certeza das associações observadas. 

Conclusão 

O estudo concluiu que o AM está associado à redução do risco de muitos desfechos adversos à saúde entre bebês e crianças. Todavia, baseados em evidências atuais, os pesquisadores descrevem a impossibilidade de se concluir sobre a duração precisa do AM necessária para alcançar benefícios potenciais, incluindo a duração do AM exclusivo. Pensando em cenários americanos, existem poucas evidências sobre como a associação entre AM e desfechos de saúde infantil pode variar com base na fonte e no modo de amamentação. Por fim, a relevância da revisão é justamente destacar a avaliação contínua dessas relações, com atenção mais detalhada à dose, fonte e modo de AM e mediante metodologias mais robustas. 

Comentários 

Essa revisão sistemática reforça os benefícios significativos do AM para a saúde infantil em países desenvolvidos, como a redução dos riscos de asma, infecções, leucemia e obesidade. Esses países enfrentam barreiras que incluem o retorno precoce ao trabalho, por exemplo. Se pensarmos em países em desenvolvimento, o AM impacta diretamente na sobrevivência, protegendo crianças contra a desnutrição e infecções respiratórias e diarreicas fatais, que continuam sendo as principais causas de mortalidade na faixa etária pediátrica. Independente do contexto, os benefícios do AM são incalculáveis e seus efeitos protetores devem ser valorizados.  

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Referências bibliográficas

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