As reações adversas alimentares na infância são um campo em constante evolução, e entre elas, a Síndrome da enterocolite induzida por proteína alimentar (FPIES) e a enterocolite por proteína do leite de vaca ganham destaque por sua apresentação atípica e potencial gravidade. A aula da Dra. Malika Gupta no AAP 2025 trouxe uma abordagem atualizada e prática sobre essas condições, com foco em diagnóstico precoce, manejo clínico e orientação familiar, aspectos essenciais para o pediatra geral que atua na linha de frente.
A FPIES é uma reação alimentar não mediada por IgE, caracterizada por sintomas gastrointestinais intensos como vômitos em jato, letargia, palidez e, em casos graves, hipotensão. Pode se apresentar de forma aguda (após ingestão isolada do alimento) ou crônica (com sintomas persistentes como diarreia aquosa, vômitos intermitentes e falha de crescimento). O diagnóstico é clínico, e os exames laboratoriais podem mostrar alterações como neutrofilia, acidose metabólica e metemoglobinemia.
A enterocolite por proteína do leite, também chamada de proctocolite alérgica, é mais comum em lactentes saudáveis e se manifesta por sangue nas fezes entre 2 e 8 semanas de vida. O manejo envolve a exclusão do leite da dieta materna (em lactentes amamentados) ou troca por fórmula hipoalergênica.
A sessão destacou a evolução dos gatilhos alimentares da FPIES, com aumento de casos relacionados a amendoim, ovo e peixe, especialmente após políticas de introdução alimentar precoce. A janela de suscetibilidade na infância torna os primeiros alimentos introduzidos os mais prováveis gatilhos.
O manejo agudo inclui hidratação, ondansetrona (≥6 meses) e, em casos graves, corticoterapia. O acompanhamento envolve evitar o alimento gatilho, fornecer uma carta de emergência e planejar a reintrodução alimentar em ambiente controlado, geralmente após 12–18 meses, com desafio oral supervisionado.
A aula também abordou fatores genéticos (como maior prevalência em crianças com Trissomia 21) e a importância de orientação nutricional para evitar deficiências como anemia ferropriva, especialmente em casos com múltiplos gatilhos ou exclusões alimentares prolongadas.
A FPIES e a enterocolite por proteína do leite de vaca são condições que exigem atenção clínica diferenciada, pois não seguem o padrão clássico das alergias alimentares mediadas por IgE. O pediatra geral deve estar atento a sinais como vômitos tardios, letargia e sangue nas fezes em lactentes, e considerar essas entidades no diagnóstico diferencial.
Mensagem prática
- Suspeite de FPIES em lactentes com vômitos intensos 1–4 horas após ingestão alimentar, especialmente leite, arroz, aveia, ovo ou amendoim.
- Não solicite testes alérgicos convencionais, o diagnóstico é clínico.
- Oriente a família sobre a natureza não-IgE da condição e forneça um plano de ação escrito.
- Evite exclusões alimentares indiscriminadas, conte com apoio nutricional para garantir crescimento adequado.
- Planeje reintroduções alimentares com segurança, preferencialmente em ambiente hospitalar com suporte para desafio oral.
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