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Pediatria29 setembro 2025

AAP 2025 - Evidências para prevenção de alergias alimentares

Aula realizada durante o AAP 2025, trouxe uma abordagem clara e atualizada para pediatras que desejam atuar na prevenção de alergias alimentares na infância
Por Jôbert Neves

A prevenção de alergias alimentares na infância é uma das áreas mais transformadas pela medicina baseada em evidências nos últimos anos. A aula “Feeding the Future”, apresentada pelo Dr. David Stukus durante o Congresso da Academia Americana de Pediatria (AAP 2025), em Denver/EUA, trouxe uma abordagem clara, atualizada e altamente aplicável para pediatras que desejam atuar de forma preventiva e eficaz junto às famílias. 

A trajetória das recomendações sobre introdução alimentar passou por mudanças radicais. De uma era de restrição total nos anos 2000, avançamos para uma era de incentivo à introdução precoce e regular de alimentos alergênicos, como amendoim, ovo e leite, entre 4 e 6 meses de idade, nas diretrizes da Academia Americana de Pediatria.  

Apesar disso, muitos pais ainda desconhecem ou têm receio de seguir essas orientações. Cerca de metade dos responsáveis não acredita que a introdução precoce seja segura, e muitos nunca receberam essa orientação do pediatra. A aula destacou que a maioria das reações alérgicas em bebês são leves, como urticária ou vômito, e que a anafilaxia é extremamente rara na primeira exposição. 

Mitos como “espaçar alimentos novos”, “testar na pele antes de oferecer” ou “esperar por testes antes de introduzir” foram desmistificados. A introdução precoce, frequente e em doses adequadas é a melhor estratégia para prevenção. Além disso, o papel da dermatite atópica como marcador precoce de risco foi discutido, mas com ênfase de que mesmo bebês sem fatores de risco podem se beneficiar da prevenção. 

A aula também abordou o impacto emocional dos pais, que muitas vezes tomam decisões baseadas em medo e não em risco real. O pediatra deve atuar como educador e facilitador, oferecendo segurança e orientação clara. A introdução pode ser feita em casa ou, em casos de maior ansiedade, no consultório. 

Conclusão e mensagem prática 

A prevenção de alergias alimentares é uma oportunidade concreta de promover saúde desde os primeiros meses de vida. A introdução precoce e regular de alimentos alergênicos, aliada à educação cuidadosa dos pais, pode reduzir significativamente o risco de alergias. O pediatra tem um papel central nesse processo, não apenas como técnico, mas como agente de confiança e transformação. 

No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio do Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos, orienta iniciar a alimentação complementar aos 6 meses, sem detalhar estratégias específicas para prevenção de alergias alimentares. O foco é em alimentos in natura e minimamente processados, respeitando os sinais de prontidão do bebê.  

Já a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em conjunto com a ASBAI, publicou em 2025 um posicionamento atualizado que reconhece os benefícios da introdução controlada de alimentos alergênicos entre 4 e 6 meses, especialmente em lactentes com dermatite atópica ou histórico familiar. O documento também desencoraja testes prévios de alergia antes da introdução alimentar, exceto em casos específicos 

Ficam algumas sugestões para a prática clínica:  

  • Converse com todas as famílias sobre prevenção de alergias alimentares durante as consultas de rotina. 
  • Oriente sobre a introdução de alimentos alergênicos entre 4 e 6 meses, com ingestão frequente (pelo menos 3 vezes por semana). 
  • Reforce que a maioria das reações é leve e que a anafilaxia é rara na primeira exposição. 
  • Evite testes antes da introdução, a menos que sejam necessários para tranquilizar os pais. 
  • Ofereça introdução supervisionada no consultório para famílias mais ansiosas. 
  • Use linguagem acessível, forneça materiais escritos e incorpore orientações no prontuário eletrônico. 
  • Envolva alergistas locais e mantenha-se atualizado com as diretrizes mais recentes. 

 Confira os destaques do Congresso da American Academy of Pediatrics 

 

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