A dermatite atópica (DA) é uma das doenças crônicas mais comuns na infância e representa um desafio constante para os pediatras. Durante o Congresso da Academia Americana de Pediatria (AAP 2025), a Dra. Miriam Weinstein trouxe uma abordagem prática e atualizada sobre como manejar a DA com mais eficácia, focando em estratégias que podem ser aplicadas diretamente no consultório. A aula teve como objetivo ajudar os profissionais a superar barreiras ao tratamento, escolher os medicamentos tópicos mais adequados e saber quando é hora de escalar a terapia.
A Dra. Weinstein começou destacando que a DA é uma condição multifatorial, envolvendo genética, barreira cutânea, microbioma e fatores ambientais. Um ponto importante foi o papel do Staphylococcus aureus, frequentemente presente na pele dos pacientes com DA, mesmo sem sinais de infecção. Essa colonização pode perpetuar a inflamação e dificultar o controle da doença. O uso de antibióticos tópicos ou sistêmicos deve ser reservado para casos com sinais clínicos claros de infecção, como crostas melicéricas, erosões friáveis ou pus.
Outro destaque foi a importância de reconhecer que o prurido, mesmo sem lesão visível, é sinal de doença ativa. Muitos pacientes são subtratados ou não tratados, o que leva a consequências como dor, distúrbios do sono, infecções recorrentes, isolamento social e impacto profundo na qualidade de vida. Estudos mostram que o impacto da DA moderada na vida das crianças pode ser maior que o do diabetes tipo 1 e comparável ao da paralisia cerebral.
A aula também abordou a escolha dos tratamentos tópicos. Os corticoides continuam sendo a base do tratamento, com eficácia comprovada e baixo risco de efeitos adversos quando usados corretamente. A Dra. Weinstein apresentou evidências de que o uso apropriado não leva à atrofia cutânea em crianças, desmistificando o medo comum entre pais e profissionais. Além dos corticoides, foram discutidas opções não esteroidais, cada um com indicações específicas conforme idade, gravidade e área corporal acometida.
A escalada para terapias sistêmicas deve ser considerada em três situações principais: quando há falha ao tratamento tópico otimizado, quando o paciente precisa de uso contínuo para manter o controle ou quando há dificuldade de implementar o plano tópico por barreiras sociais, educacionais ou emocionais.
Por fim, a aula trouxe estratégias de comunicação com as famílias, como o uso de planos escritos, demonstrações visuais, entrevistas motivacionais e simplificação das orientações. Essas abordagens aumentam a adesão ao tratamento e melhoram os resultados clínicos.
Conclusão
A dermatite atópica exige uma abordagem contínua e personalizada. O pediatra geral tem papel essencial na identificação precoce da doença ativa, mesmo em formas leves, e na implementação de um plano terapêutico eficaz. O controle da DA não depende apenas de medicamentos, mas também de educação, empatia e acompanhamento regular.
É fundamental que o tratamento não seja iniciado apenas quando a doença está em estado grave. O ideal é começar no início da crise e manter o tratamento até a resolução completa. A manutenção do controle pode exigir ajustes, mas evita flutuações que comprometem a qualidade de vida da criança e da família.
Mensagem prática
- Não subestime o prurido: mesmo sem lesão visível, ela indica atividade inflamatória.
- Eduque as famílias: explique que o objetivo é controle, não cura, e que o tratamento deve ser contínuo.
- Use corticoides sem medo: quando bem indicados e aplicados corretamente, são seguros e eficazes.
- Considere alternativas não esteroidais: especialmente em áreas de pele fina ou em pacientes com hesitação ao uso de corticoides.
- Reforce o plano com demonstrações visuais e instruções escritas: isso aumenta a adesão e melhora os resultados.
- Avalie impacto na qualidade de vida: sono, autoestima, socialização e atividades devem ser monitoradas.
- Escalone quando necessário: não hesite em encaminhar para dermatologia/alergista ou iniciar terapias sistêmicas em casos refratários, se sentir seguro.
Confira os destaques do Congresso da American Academy of Pediatrics
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