A dermatite atópica (DA) geralmente começa entre 3 e 6 meses de idade, com uma maioria significativa (60%) desenvolvendo-a no primeiro ano de vida e 90% até os 5 anos de idade. Durante o encontro anual da Academia Americana de Pediatria (AAP 2024), a Dra. Marissa J. Perman, professora de Pediatria Clínica e Dermatologia do Children ‘s Hospital of Philadelphia apresentou as principais “dicas” para condução de casos de DA.
Antes de trazer os aspectos relacionados ao tratamento, a Dra Perman apresentou informações sobre os mecanismos fisiopatológicos, enfatizando que estes devem ser lembrados sempre que estamos diante de um paciente com DA, segue:
- Disfunção da barreira epidérmica: Refere-se a uma barreira cutânea comprometida, permitindo que alérgenos e irritantes entrem na pele;
- Fatores genéticos: Certos genes estão associados a um risco maior de desenvolver DA;
- Desregulação imunológica: A resposta do sistema imunológico é frequentemente exagerada na DA, levando à inflamação;
- Alterações no microbioma da pele: Mudanças na composição das bactérias naturais da pele podem influenciar a DA;
- Gatilhos ambientais: Fatores como ácaros da poeira, pólen e irritantes podem desencadear crises de DA.
- Deficiência de filagrina: Uma proteína crucial para a função da barreira cutânea. Sua deficiência está associada a um início precoce, formas mais severas e persistentes da DA.
Ouça também: Highlights – AAP 2024 [podcast]
Quais as “dicas” para tratamento da dermatite atópica?
O tratamento base para DÁ está mantido e o pediatra precisa orientá-los com precisão, são eles:
- Emolientes:
- Hidratantes usados diariamente para hidratar a pele e melhorar a função da barreira.
- Sabão suave:
- Recomenda-se escolher sabões com irritantes mínimos.
- Evitar fragrâncias:
- Fragrâncias em sabões, roupas e detergentes podem agravar a DA.
- Roupas 100% algodão:
- O algodão é mais respirável e menos propenso a causar irritação.
- Banhos curtos:
- Banhos prolongados podem remover os óleos naturais da pele.
- Antibióticos tópicos e/ou Orais:
- Usados para infecções bacterianas que podem complicar a DA.
- Corticosteroides tópicos:
- Cremes anti-inflamatórios usados para crises, com diversas potências;
- Tratamento continuado
- Corticosteroides tópicos de potência moderada para o corpo por 2-3 semanas, conforme necessário:
- Pomada de fluocinolona 0,025%
- Pomada de Triancinolona 0,1%
- Pomada de Mometasona 0,1%
- Cremes anti-inflamatórios usados para crises, com diversas potências;
Atenção para o rosto: usar potências mais brandas por 1-2 semanas, conforme necessário:
- Acetato de hidrocortisona 2,5%
- Pomada de Triamcinolona 0,025%
Cremes podem ser utilizados se houver tendência a acne ou se o paciente recusar o uso de pomadas.
- Manutenção
- Terapia Intermitente Proativa:
- Usar a medicação de tratamento uma ou duas vezes por semana.
- Terapia Contínua Proativa:
- Pomada de hidrocortisona 2,5% misturado 1:1 com petrolato.
- Inibidores de calcineurina Tópicos:
- Medicamentos não esteroides como pimecrolimus (Elidel) e tacrolimus (Protopic), usados para manutenção e crises.
- Aplicar duas vezes ao dia inicialmente, reduzindo para duas vezes por semana conforme tolerado.
- Medicamentos não esteroides como pimecrolimus (Elidel) e tacrolimus (Protopic), usados para manutenção e crises.
Veja a abordagem mais detalhada das infecções secundárias
Pacientes com dermatite atópica apresentam um risco significativamente elevado de infecções cutâneas devido à disfunção da barreira cutânea e à alteração da resposta imunológica. A integridade da barreira epitelial é comprometida, favorecendo a colonização por patógenos e a suscetibilidade a processos infecciosos, como:
Infecções Bacterianas:
- Staphylococcus aureus: Este patógeno é frequentemente isolado em pacientes com DA, incluindo tanto cepas sensíveis à meticilina quanto cepas resistentes à meticilina (MRSA).
- Streptococcus pyogenes: Embora menos prevalente que S. aureus, também é observado em pacientes com DA.
Qual a estratégia terapêutica atual?
- Antibióticos tópicos: O tratamento pode incluir o uso de antibióticos tópicos, como bacitracina, mupirocina, retapamulina e ozenoxacina, que atuam diretamente na lesão cutânea para erradicar a infecção.
- Antibióticos orais: Para infecções mais severas ou disseminadas, antibióticos orais como cefalexina e clindamicina são frequentemente utilizados, levando em consideração os padrões locais de resistência bacteriana.
- Medidas antibacterianas: A aplicação de soluções diluídas de hipoclorito de sódio para banhos e lavagens com clorexidina pode ser benéfica na redução da carga bacteriana da pele.
Infecções Virais:
As infecções virais mais frequentemente associadas à dermatite atópica incluem herpes simplex, molusco contagioso, verruga vulgar, vírus coxsackie e varíola.
Abordagem Terapêutica:
- Herpes Simplex: O tratamento geralmente envolve o uso de antivirais como Aciclovir ou Valaciclovir, que são eficazes na redução da replicação viral e na aceleração da cicatrização das lesões.
- Outras Infecções Virais: O manejo de outras infecções virais será específico para a etiologia, com a escolha do tratamento baseado no vírus envolvido e na gravidade da infecção.
Novas terapias tópicas: Presente e futuro da dermatite atópica
Inibidores de PDE-4: Estes são novos medicamentos que bloqueiam a enzima PDE-4, que desempenha um papel na inflamação:
- Crisaborole (Eucrisa): Aprovado para idades a partir de 3 meses, aplicado duas vezes ao dia.
- Roflumilaste (Zoryve): Aprovado para DA leve a moderada em idades a partir de 6 anos, aplicado uma vez ao dia.
Inibidores de JAK: Estes atuam sobre a Janus Quinase, uma enzima envolvida nas vias inflamatórias:
- Creme de Ruxolitinibe: Aprovado para idades a partir de 12 anos, aplicado duas vezes ao dia.
- Inibidores de JAK orais (Upadacitinibe e Abrocitinibe): Aprovados para idades a partir de 12 anos, tomados oralmente uma vez ao dia.
Terapias Sistêmicas:
- Prednisona: Um corticosteroide tomado oralmente, usado para crises severas ou quando os tratamentos tópicos não são eficazes.
- Metotrexato, Azatioprina, Micofenolato e Ciclosporina: Estes são imunossupressores usados para DA mais severa, muitas vezes em combinação com terapias tópicas.
- Imunoglobulina intravenosa, terapia imunológica que pode ser usada em casos de DA severa, especialmente com infecções secundárias.
Anticorpos Monoclonais:
- Dupilumabe (Dupixent): Este é um medicamento biológico direcionado administrado por injeção a cada 2-4 semanas. Bloqueia IL-4 e IL-13, mediadores chaves na via Th2, reduzindo a inflamação.
- Tralokinumabe (Adbry): Outro medicamento biológico direcionado administrado por injeção a cada duas semanas. Bloqueia IL-13, reduzindo a inflamação.
- Lebrikizumabe (Ebglyss): Um novo inibidor de IL-13, aprovado pelo FDA em 2024, administrado por injeção mensal após uma fase inicial de carga de 16 semanas.
Mudanças para a sua prática clínica:
- Ajustar a quantidade de terapia tópica fornecida para apoiar as crises agudas e as necessidades de manutenção crônica.
- Se atentar para as possibilidades de infecções secundárias e iniciar de imediato o tratamento;
- Retornar os pacientes em 6-8 semanas após o início de um regime tópico para avaliar a resposta ao tratamento, a adesão e eventuais preocupações.
- Para famílias com fobia de corticosteroides tópicos, considerar oferecer opções não esteroides para crises e manutenção.
Confira os destaques do AAP 2024!
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.