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Pediatria28 setembro 2024

AAP 2024: Conjuntivites - O que o pediatra precisa saber?

As doenças oftalmológicas são prevalentes na pediatria e tópicos relacionados ao tema foram discutidos no AAP 2024.
Por Jôbert Neves

As doenças oftalmológicas são prevalentes na pediatria e fazem parte da rotina do pediatra. O diagnóstico correto e o manejo assertivo dessas condições são essenciais para a boa condução e evolução clínica. Devido à relevância do tema, tópicos relacionados foram discutidos no encontro anual da Academia Americana de Pediatria (AAP 2024), realizado em Orlando, nos Estados Unidos. A sessão foi ministrada pelo Dr. Mitchell Strominger, da Universidade de Nevada. 

O Dr. Strominger apresentou dados epidemiológicos sobre as condições oftalmológicas mais frequentes na pediatria, com foco nas conjuntivites e seus diagnósticos diferenciais. Um dado surpreendente compartilhado durante a aula foi a etiologia das conjuntivites agudas em pediatria. Ao contrário do que a maioria da plateia imaginava, os dados evidenciam uma maior prevalência de etiologia bacteriana, conforme a distribuição abaixo: 

  • Infecção bacteriana: 78%; 
  • Infecção viral: 13%; 
  • Alergia: 4%; 
  • Outros: 5%. 

Na conjuntivite bacteriana, o Dr. Strominger destacou aspectos importantes, como a possibilidade de ser bilateral e a presença de secreção mucopurulenta com adesão, que são sinais marcantes que podem ajudar no diagnóstico. Além disso, devido à sua natureza contagiosa, enfatizou a necessidade de conscientização em saúde pública e medidas preventivas, especialmente em ambientes escolares e creches. 

Confira a cobertura completa do AAP 2024

Conjuntivite infantil

Conduta Expectante para Conjuntivite Bacteriana 

O Dr. Mitchell esclareceu que a conduta expectante não é válida para a conjuntivite bacteriana. Ele considerou vários pontos em relação à evolução natural dessa condição, discutindo a importância do tratamento correto, levando em conta o risco de doença mais grave, a relação com baixo desempenho escolar e o impacto na qualidade de vida. A escolha adequada do antibiótico é essencial. 

O tratamento com antibiótico tópico não é tão simples, exigindo um raciocínio clínico e a consideração do perfil de resistência antimicrobiana da região. O Dr. Strominger apresentou estudos que confirmaram o aumento da resistência a antibióticos na conjuntivite bacteriana, com dados relacionados ao H. influenza: 

  • 80% de resistência à ampicilina; 
  • 18% de resistência à amoxicilina-clavulanato; 
  • 11% de resistência às cefalosporinas de 2ª e 3ª geração. 

Antibióticos Oftálmicos Disponíveis 

Combinação Polimixina: 

  • Polimixina B e Trimetoprima; 
  • Polimixina B e Neomicina. 

Aminoglicosídeos: 

  • Gentamicina; 
  • Tobramicina. 

Macrolídeos: 

  • Azitromicina; 
  • Eritromicina. 

Fluoroquinolonas: 

  • Ciprofloxacino; 
  • Ofloxacino; 
  • Levofloxacino; 
  • Moxifloxacino; 
  • Besifloxacino; 
  • Gatifloxacino. 

Atenção ao uso dos antibióticos bacteriostáticos 

É crucial seguir as diretrizes de dosagem para evitar o aumento da resistência. Por exemplo, a pomada de eritromicina deve ser aplicada duas vezes ao dia por 7 dias, e as gotas de Polimixina B/Trimetoprima são usadas a cada 3 horas por 7 a 10 dias. Muitas vezes, o uso dos antibióticos  tópicos em oftalmologia é incorreto, acarretando em tratamento adequado, maior resistência antimicrobiana e um desfecho ocular desfavorável.  

Antibióticos Bactericidas 

Fluoroquinolonas são recomendadas por possuírem menor resistência e serem eficazes contra Chlamydia trachomatis e Moraxella. A orientação específica por idade é de usar acima de 1 ano por 7 dias, com moxifloxacino aplicado de 2 a 3 vezes ao dia por 7 dias 

 

E o que foi falado sobre as conjuntivites não bacterianas?   

Conjuntivite Viral:  

  • Em sua grande maioria é causada por adenovírus; 
  • Frequentemente está associada a outros achados, como: faringite, adenopatia pré-auricular e secreção mucoide esbranquiçada. 

Quais as características que preciso lembrar?  

  • Ela é altamente contagiosa (taxa de transmissão de 10-50%).
  • Período de incubação de 5-12 dias.
  • Transmissibilidade de 10-14 dias. 

Atenção ao tratamento: 

  • Principalmente de suporte (compressas frias, medidas de higiene). 
  • Ceratoconjuntivite Epidêmica (EKC) 

Infecção grave por adenovírus. 

Características

  • Pode causar infiltrados subepiteliais na córnea.
  • Pode levar à diminuição da visão e cicatrização permanente. 

Tratamento

  • Requer manejo cuidadoso com corticosteroides – deve ser realizado sob supervisão e orientação oftalmológica
  • Conjuntivite Alérgica

Caracterizada classicamente por: 

  • Prurido. 
  • Lacrimejamento. 
  • Secreção viscosa. 

Tipos

Conjuntivite Alérgica Sazonal/Perene: 

  • Comum em crianças com histórico de febre do feno (reação alérgica ao pólen), rinite, asma ou eczema. 
  • Relacionada ao pólen, mofo ou ácaros. 

Ceratoconjuntivite Vernal (VKC): 

  • Sintomas mais graves, como secreção viscosa e danos na córnea; 

Conjuntivite Papilar Gigante (GPC): 

  • Comumente associada ao uso de lentes de contato. 
  • Caracterizada por grandes papilas na conjuntiva. 

Tratamento 

  • Abordagem personalizada, variando de cuidados de suporte para tipos virais até tratamentos anti-inflamatórios ou anti-histamínicos específicos para casos alérgicos. 

Mensagem prática
As conjuntivites são frequentes nos pacientes pediátricos e o pediatra tem papel crucial  no manejo de boa parte delas, especialmente em locais onde o acesso ao oftalmologista não é universal. Atuando no reconhecimento e na diferenciação entre as etiologias.  Devemos também atentar para os seguintes pontos:  

  • A conjuntivite bacteriana é prevalente em pediatria, representando 78% dos casos, seguida por infecções virais (13%) e alérgicas (4%) em um dos estudos apresentados;  
  • O tratamento adequado é crucial para evitar complicações e melhorar a qualidade de vida das crianças afetadas; 
  • Resistência Antimicrobiana: O aumento da resistência a antibióticos na conjuntivite bacteriana é alarmante – tenha atenção em relação a posologia e tempo de uso, parte importante dos pacientes fazem o uso incorreto; 
  • As conjuntivites podem ser virais, alérgicas ou bacterianas, cada uma com características e tratamentos específicos, sendo a conjuntivite viral altamente contagiosa e a alérgica variando de acordo com os gatilhos ambientais. 
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