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Pediatria27 setembro 2024

AAP 2024: CMV Neonatal - aspectos clínicos e de triagem

Congresso trouxe pontos sobre o diagnóstico de CMV durante o período neonatal. Infecção pode ocorrer em 1 a 2% de nascimentos vivos nos EUA.
Por Jôbert Neves

A infecção por citomegalovírus (CMV) ocorre em aproximadamente 1 a 2% de todos os nascimentos vivos nos Estados Unidos (EUA), tornando-se uma das infecções virais congênitas mais comuns. Estima-se que cerca de 20.000 a 30.000 crianças nascem anualmente com a doença congênita sintomática por CMV nos EUA. Apesar desta prevalência, cerca de até 10-15% de todos os nascimentos vivos podem estar infectados com CMV e não apresentar sintomas ao nascimento. Durante o encontro anual da Academia Americana de Pediatria (AAP 2024), foram discutidos pontos em relação ao diagnóstico de CMV durante o período neonatal.

A  Dra. Karen M. Puopolo, da Universidade da Pensilvânia, abriu a sessão de discussão trazendo a relevância epidemiológica e as implicações de saúde pública do tema, onde ainda apresentou dados de incidência no Brasil, durante 2005-2006, de cerca de 97% soroprevalência em adultos, além de dados dos EUA mostrando a variação da prevalência em diferentes regiões do país.  Um dos destaques da apresentação foi a ênfase em fatores de risco para tal infecção, tais como:  

  • Idade Materna
    Mães jovens (geralmente menores de 25 anos) têm maior probabilidade de serem infectadas pelo CMV, logo, de serem imunes durante a gestação;  
  • Baixo Status Socioeconômico
    Famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica podem ter maior exposição ao CMV; 
  • Número de Filhos
    Mães que já têm outros filhos podem ter maior risco de infecção, pois CMV é comum em crianças e pode ser transmitido a mães durante a gravidez de crianças mais velhas que possam estar infectadas;  
  • Raça/etnia materna
    Reconhecida como uma construção social derivada do racismo histórico e estrutural; 
  •  Risco por idade gestacional:
    Bebês prematuros, de muito baixo peso (PN <1500 gramas) possuem risco maior de serem infectados. 

Confira a cobertura completa do AAP 2024

Manifestações Clínicas do CMV Congênito 

  • Sintomas ao nascimento, devido a infecção intraútero 
  • Supressão da medula óssea – mais comumente trombocitopenia 
  • Hepatite
  • Microcefalia: pode estar associada a alterações de desenvolvimento cerebral
  • Icterícia/Colestase neonatal  
  • Hepatoesplenomegalia
  • Baixo peso ao nascer
  • Calcificações cerebrais  
  • Complicações a longo prazo 
  • Perda Auditiva: Pode ser a manifestação mais comum a longo prazo, afetando até 60-70% dos bebês com CMV congênito sintomático
  • Atrasos no Desenvolvimento: Pode ocorrer uma série de déficits no desenvolvimento motor e cognitivo, com algumas crianças apresentando dificuldades de aprendizagem
  • Alterações Comportamentais: Algumas crianças podem experimentar problemas de comportamento e percepção social ao longo do tempo
  • Convulsões 

 O desafio do manejo do paciente com CMV ainda é a grande dificuldade de realizar o diagnóstico, que costuma ser feito de forma atrasada. Parte deste atraso se dá pelas manifestações clínicas tardias, do ponto de vista auditivo, por exemplo, e pela falta de conscientização em relação à prevalência desta infecção.  

citomegalovírus

Vantagens e desvantagens das triagens para Infecção Congênita por CMV segundo a AAP

Triagem baseada em manifestações clínicas:  

 Triagem de recém-nascidos com critérios específicos 

  • Peso < 10 percentil 
  • Anormalidades laboratoriais (colestase, alterações de transaminases, plaquetopenia)  
  • Manifestações clínicas sugestivas de CMV

Vantagens 

 Uso direcionado de recursos para recém-nascidos

  • Potencialmente mais fácil para os pais aceitarem testes com base em achados clínicos; 
  • A identificação de bebês com doença leve permite acompanhamento auditivo e de desenvolvimento neurológico

  Desvantagens 

  • Identifica, na melhor das hipóteses, 10% dos bebês infectados
  • Identificação de bebês com indicação incerta para tratamento

Triagem baseada em potenciais alterações auditivas:   

 Bebês que se referem à triagem auditiva neonatal

  • Triagem falhada em 1 ou ambos os ouvidos
  • Triagem universal para prematuros que não triados com  <21 dias de vida

Vantagens:  

 Uso direcionado de recursos para recém-nascido

  • Identificação de bebês com perda auditiva atribuível ao CMV permite administração oportuna de terapia antiviral e acompanhamento auditivo. 

 Desvantagens:  

  • A maioria dos bebês que se referem à triagem auditiva para recém-nascidos acabam tendo audição normal
  • Identificação potencial de infecção por CMV sem indicação de tratamento

Triagem universal: para todos os recém-nascidos  

Vantagens:  

  • Identificação de TODOS os bebês com CMV; 
  • Identificação de todos os bebês que podem se beneficiar da terapia antiviral para CMV. 

Desvantagens 

  • Impacto significativo em recursos para recém-nascidos; 
  • Pelo menos 80% dos bebês identificados não têm indicação para terapia; 
  • Ansiedade dos pais em relação ao diagnóstico e impacto incerto desta condição para o futuro.  

Mensagem prática

Diferentes abordagens para triagem estão sendo defendidas e promulgadas nos EUA. É fundamental que os profissionais de saúde estejam preparados para aconselhar os pais sobre a importância da triagem para infecção congênita por citomegalovírus (CMV) no momento em que o recém-nascido é encaminhado para a triagem auditiva. Durante essa conversa, deve-se discutir com os pais o risco associado à infecção congênita por CMV e as possíveis sequelas que essa infecção pode causar. Além disso, é essencial que os profissionais compreendam o tipo de triagem de CMV que está sendo realizada em sua região, tendo em mente suas vantagens, desvantagens e senso crítico para interpretação.  

Autoria

Foto de Jôbert Neves

Jôbert Neves

Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa  de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).

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