Mais de 12,8 milhões de casos de covid-19 em crianças foram relatados nos Estados Unidos, representando 19% de todos os casos no país. No entanto, relatórios inconsistentes de desfechos de gravidade em crianças obscurecem o impacto da doença em pediatria e as taxas de vacinação infantil variam amplamente entre os estados americanos.
Para avaliar os efeitos da vacinação e fatores clínicos e demográficos em desfechos graves em crianças com covid-19, pesquisadores da University of Texas Southwestern Medical Center conduziram o estudo Identifying Risk Factors for Severe Clinical Outcomes in Pediatric COVID-19 Patients In a National Electronic Health Record Repository, apresentado em 09 de outubro no 2022 AAP Experience.
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Metodologia
O estudo, observacional retrospectivo, avaliou fatores clínicos, demográficos e vacinação nos desfechos da covid-19 entre pacientes pediátricos com menos de 18 anos usando o pipeline de dados de baixa latência Optum® COVID-19 (Optum Inc, Eden Prairie, MN). Foram incluídos pacientes com teste positivo para covid-19 por reação em cadeia da polimerase ou antígeno no período entre 12 de março de 2020 a 20 de janeiro de 2022.
O desfecho primário foi a gravidade da doença (não hospitalização, hospitalização, necessidade de Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica [UTIP] ou desfecho pior). Uma regressão logística multivariável (R versão 4.1.2; α = 0,05) foi utilizada, considerando idade, índice de massa corporal (IMC), pontuação do índice de comorbidade pediátrica (ICP) validado indicando comorbidades pré-teste, raça e etnia, sexo, região e variante da covid-19 predominante no momento do diagnóstico para a região geográfica do paciente.
Ressalta-se que três modelos foram desenvolvidos agrupando crianças por faixa etária (0-2, 3-10 e 11-18 anos) devido a diferenças clínicas entre as idades, limitações de codificação do conjunto de dados e elegibilidade da vacina (IMC excluído por 0-2 anos, estado de vacinação incluído para 11-18 anos).
Resultados
Os pesquisadores observaram que, entre os pacientes pediátricos, 218.759 (18,7%) testaram positivo para covid-19, sendo que 8.717 (4%) foram hospitalizados, necessitaram de cuidados de UTIP ou ventilação mecânica ou evoluíram para óbito. Os preditores mais fortes desses desfechos graves em todos os grupos foram uma pontuação mais alta no índice de comorbidade pediátrica, com odds ratio [OR] de 2,27, 4,21 e 5,33, respectivamente — ou residência no sul dos Estados Unidos.
Em todos os grupos, o “status de seguro desconhecido“, a variante alfa e a raça negra foram preditores estatisticamente significativos e limítrofes clinicamente significativos de desfecho grave (p < 0,0001). Os pesquisadores enfatizaram que a razão de chances de doença grave comparando pelo menos uma vacinação com nenhuma vacinação conhecida é de 0,55 na coorte elegível para a imunização.
Considerações
Esse estudo concluiu que a presença de doença pré-existente foi o preditor independente mais forte de desfechos graves de covid-19 entre pacientes pediátricos e que a vacinação foi significativamente protetora. A utilização de um pipeline de dados nacionais americanos em larga escala permitiu a avaliação centralizada e atualizada dos desfechos em uma população diversificada de pacientes, revelando disparidades de saúde persistentes em linhas raciais e geográficas durante a pandemia. Os pesquisadores descrevem que muitos parâmetros facilmente avaliados podem prever com segurança desfechos adversos da covid-19 em pediatria, indicando populações que precisam de alcance para vacinação e outros esforços preventivos.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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