Logotipo Afya
Anúncio
Pediatria11 outubro 2022

AAP 2022: Diferenças de raças é tema abordado em congresso

Sessão durante AAP Experience 2022 discutiu se raça ainda deve ser usada em consideração na análise clínica.

No último dia do AAP Experience 2022 (AAP 2022) em Anaheim, Califórnia, a palestra “Eliminating Race-Based Medicine, ministrada pela Dra. Tiffani Johnson (UC Davis) abordou as recentes recomendações em maio da American Academy of Pediatrics (AAP) sobre uma autoavaliação crítica e mudanças fundamentais na prática da medicina para acabar com as desigualdades raciais de longa data.  

Os efeitos do racismo, além de determinarem medidas válidas de determinantes sociais da saúde, requerem consideração em ferramentas de tomada de decisão clínica de forma que sejam informadas por evidências e não inadequadamente confundidas com o fenótipo limitante da categorização de raça. A Dra. Johnson mencionou uma das medidas tomadas pela AAP que foi a retirada do artigo “Urinary Tract Infection: Clinical Practice Guideline for the Diagnosis and Management of the Initial Urinary Tract Infection (UTI) in Febrile Infants and Children 2 to 24 months.”

AAP 2022

Por que raça foi usada como fator de risco?

As diretrizes foram escrutinadas quando os autores Kowalsky et al. questionaram os cuidados diferenciais sistemáticos recomendados para infecção do trato urinário (ITU) em crianças negras ou não brancas. A inclusão da raça como fator de tomada de decisão no algoritmo clínico foi baseada em um menor risco teórico de ITU em crianças de cor. A revisão das referências citadas na diretriz revela que o risco não é apenas teórico, mas é baseado em uma hipótese de adesão de células uroepiteliais ligadas ao antígeno do grupo sanguíneo que os autores do estudo afirmam “requerer estudo adicional para fundamentar ou refutar”.

Uma avaliação mais aprofundada da literatura sobre a hipótese de adesão encontra algumas evidências de fenotipagem de grupo sanguíneo como um potencial biomarcador para risco de ITU, mas nada que alinha especificamente esse risco com identificação racial subjetiva. Nesse caso, a raça foi inserida inadequadamente como proxy biológico padrão em vez de observação epidemiológica incompletamente explicada. Conforme as recomendações da AAP, uma abordagem justa consiste em conferir cuidados equitativos a todas as crianças pequenas, independentemente da raça. 

Recomendações oficiais da AAP

Em publicação de mesmo nome da palestra, a AAP faz as seguintes recomendações:

  1. Todas as organizações profissionais e sociedades de especialidades médicas devem identificar e analisar criticamente as políticas organizacionais e diretrizes de prática que possam incorporar raça ou etnia como variáveis ​​independentes ou fatores modificadores. A AAP defenderá, por meio de sua liderança eleita e nomeada, em todo o cenário da saúde, a eliminação da medicina baseada em raça em qualquer forma;
  2. A AAP alavancará seus relacionamentos com escolas de medicina, sistemas acadêmicos de saúde e órgãos de credenciamento para garantir conteúdo curricular de equidade em saúde, incluindo um foco específico na eliminação da medicina baseada em raça. Procurará reformular proativamente os determinantes sociais apropriados das medidas de saúde;
  3. A AAP avaliará criticamente, desconstruirá, aposentará (se necessário), e revisará todas as diretrizes e/ou políticas de prática que incluem a atribuição de raça como parte da tomada de decisão clínica;
  4. A AAP aproveitará seu documento Words Matter, para garantir que todos os autores, editores, apresentadores, porta-vozes da mídia e outros contribuidores de conteúdo reconheçam a raça apenas como uma construção social e desistam de qualquer uso, ou sua referência, como um proxy biológico. 

 

Considerações

Conforme mostrado pela Dra. Johnson na palestra e abordado nas recomendações da AAP, o racismo se infiltrou e impactou a prestação de cuidados e desfechos de saúde nos Estados Unidos por mais de 400 anos. A inclusão da raça em algoritmos e diretrizes que direcionam a prática clínica reconhece explicitamente essa conexão.

Mensagem prática

Embora continue a ser importante coletar dados clínicos desagregados por raça e etnia para ajudar a caracterizar as experiências diferenciadas dos pacientes, a palestrante destacou a necessidade de se desfazer as raízes da medicina baseada em raça com medidas legítimas do impacto do racismo e dos determinantes sociais sobre os desfechos da saúde.  

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Pediatria