Gonartrose: saiba qual é o tratamento clínico baseado em evidências
A gonartrose (artrose dos joelhos) é a artrose mais comum. Tem causa principalmente primária e afeta mais mulheres após a meia idade. Veja como tratar.
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A gonartrose (artrose dos joelhos) é a artrose mais comum. Tem causa principalmente primária e afeta mais mulheres após a meia idade. Classicamente, inicia-se pelo compartimento medial, o que suporta mais carga, não raro evoluindo para uma deformidade em varo dos joelhos que chama bastante a atenção.
O diagnóstico pode ser iminentemente clínico, com sintomas como dor protocinética, rigidez matinal, deformidade e aumento articular. A utilização de radiografias auxilia na investigação, embora haja uma disparidade clínico-radiográfica: pacientes com poucas alterações muitas vezes apresentam sintomas paradoxalmente maiores.
Os achados radiográficos predominantes são:
- diminuição do espaço articular;
- esclerose subcondral;
- cistos ósseos;
- osteofitose.
Exames mais complexos pouco auxiliam no diagnóstico. Ultrassonografia não presta qualquer auxílio. Ressonância nuclear magnética é mais indicada quando se suspeita de fraturas subcondrais ou condromalácia patelar. Tomografia computadorizada não é mais fidedigna do que a radiografia simples no diagnóstico, graduação da gravidade ou conduta na gonartrose.
Tratamento da gonartrose
A seguir, apresentamos as recomendações do tratamento clínico demonstradas no guideline mais recente do OARSI (Osteoarthritis and Cartilage, 2014;22:363-88.)
Tabela 1: orientações do guideline da OARSI (Sociedade Internacional de Estudo da Osteoartrose)
Medicamento/Intervenção |
Recomendação |
Observação |
Condroitina/Glicosamina (alívio da dor) |
Incerto |
Bom nível de evidência |
Condroitina/Glicosamina (modificação da doença) |
Não recomendado |
Bom nível de evidência |
Ácido hialurônico intra-articular |
Incerto |
Bom nível de evidência |
Proteína de abacate |
Incerto |
Melhora da dor: 1-76%. |
Diacereína |
Incerto |
Bom nível de evidência. Melhora da dor: 8-39% Melhora da função: 3-25%. |
AINE:
|
|
Bom nível de evidência. Pouca utilidade na prática clínica, uma vez que praticamente todos os pacientes têm comorbidades. |
Corticoide intra-articular |
Apropriado |
Bom nível de evidência. Oral não é indicado. |
Paracetamol:
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|
BMJ, 2015:350:h1225 Estudo mostrando que paracetamol não melhora a dor na gonartrose. |
Opioides |
Incerto |
Bom nível de evidência. Amplo espectro de melhora da dor (de 1 a 100%), com média entre 22 e 36%. |
Órtese valgizante |
Apropriada |
Qualidade moderada de evidência |
Bengala |
Apropriada |
Melhora função, algum alívio de dor. |
Exercícios em terra |
Apropriados |
Efeito: melhora de 34% a 69% na dor. |
Exercícios em água |
Apropriados |
Sem cálculo de efeito. Notar que não tem impacto articular, porém tem menor fortalecimento muscular. |
Fortalecimento muscular |
Apropriado |
Melhora da dor: 23-54% Melhora da função: 17-66% |
Perda de peso |
Apropriado |
0,25% do peso por semana, focando em 5% em 20 semanas. Melhora da dor: 0-39% Melhora da função: 4-42% |
Colágenos hidrolisados X não hidrolisados: alguns estudos demonstram que os colágenos não hidrolisados são equivalentes a glucosamina e condroitina – que, como evidências recentes demonstram, não apresentam efeitos. Outros estudos, por outro lado, mostram que os colágenos hidrolisados são melhores do que os não hidrolisados.
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Take-home message
Em resumo: temos evidências científicas de que as medicações têm muito pouco efeito no tratamento da gonartrose. Temos o viés da dipirona, que, embora na prática tenha bom efeito no controle da dor, não faz parte da maioria dos guidelines, pois não é estudada nos EUA. Técnicas de fortalecimento muscular, por outro lado, vêm ganhando cada vez mais espaço no tratamento conservador da gonartrose e se mostram superiores às medicações.
Sendo assim, fica a minha recomendação de tratamento para gonartrose:
1. Perda de peso.
2. Fortalecimento muscular com musculação (fortalecimento global e equilibrado dos membros inferiores, assoalho pélvico, quadris e core abdominal, com proteção do ângulo de movimento da patela – nunca ultrapassar 90 graus de flexão).
3. Atividades aeróbicas, de solo e na água.
4. Analgesia simples com dipirona em dose adequada (1 a 2 gramas 6/6h).
5. Inclusão de opioides no caso de crises de agudização.
6. Uso parcimonioso dos AINE nas crises de agudização, na menor dose e pelo menor tempo possível.
7. Suplementação empírica com colágeno hidrolisado; se não houver melhora, trocar por ou associar a diacereína; e/ou proteína de abacate.
Estritamente, não há apoio científico ao uso destes suplementos, mas empiricamente alguns pacientes demonstram melhora clínica importante, valendo a opção de tentar, quando disponível, visto que os efeitos colaterais são ínfimos.
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Referências:
- Osteoarthritis and Cartilage, 2014;22:363-88
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