Toxina botulínica no membro superior é benéfica em pacientes com PC?

A paralisia cerebral (PC) é a maior causa de disfunção na infância com incidência de 2 a 3% na população sendo o tipo espástico o mais comum. A lesão neurológica não é progressiva, entretanto o acometimento osteoarticular tende a piorar ao longo do crescimento. A injeção intramuscular de toxina botulínica é um tratamento instituído que atua bloqueando a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular com o objetivo de impedir a espasticidade. 

A utilização da toxina botulínica permite então o relaxamento da musculatura, entretanto a literatura é controversa quanto à melhora da função e atividade. Apesar do relaxamento poder ser benéfico em relação à contratura, a flacidez da musculatura pode dificultar a boa execução de atividade física.  

Assim, foi publicado recentemente no “American Journal of Physical Medicine and Rehabilitation” um estudo com o objetivo de avaliar o efeito do tratamento com toxina botulínica no membro superior de crianças com PC espástica unilateral e bilateral no nível de funções e atividades corporais, qualidade de vida relacionada à saúde e satisfação do cliente. 

Metodologia 

A revisão sistemática foi realizada nas bases de dados Cochrane, Embase, Pubmed, Scopus, Web of Science e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature. Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados que comparavam indivíduos com PC até 18 anos submetidos à injeção intramuscular de toxina botulínica no membro superior e programa de reabilitação com um placebo ou apenas programa de reabilitação. Os desfechos estudados foram função do membro superior, função corporal, qualidade de vida relacionada à saúde, tônus ​​muscular, espasticidade, conquistas individuais, dor, eventos adversos e satisfação do paciente. 

Saiba mais: Visão da fisiatria na paralisia cerebral (PC)

Resultados 

Um total de 4862 publicações foram rastreadas, sendo 14 ensaios clínicos randomizados com 621 pacientes incluídos. As análises combinadas confirmaram uma diminuição no tônus ​​muscular: diferença média da Ashworth scale wrist −0,85 (intervalo de confiança de 95% = −1,42 a −0,27). Nenhum ganho funcional significativo foi estabelecido: diferença média da avaliação de Melbourne 3,13 (intervalo de confiança de 95% = −3,13 a 9,3) e diferença média do Assisting Hand Assessment 3,84 (intervalo de confiança de 95% = −1,86 a 9,54).  

Os grupos de toxina botulínica tiveram melhor alcance de metas pessoais: diferença média nos escores T da Goal Attainment Scaling de 9,55 (intervalo de confiança de 95% = 6,05 a 13,04) e melhor satisfação do paciente: a melhora teve odds ratio de 8,44 (intervalo de confiança de 95% = 1,34 a 53,08). 

Conclusão 

O estudo demonstrou que não há dúvidas quanto à eficácia da toxina botulínica na redução da espasticidade, porém sem melhora nas medidas objetivas de função. Quando se trata de medidas subjetivas também pareceu apresentar melhores resultados que o placebo, porém o resultado pode ser decorrente de viés.  

Na prática o tratamento da PC para os membros superiores é extremamente desafiador e a toxina botulínica é uma opção para facilitar o trabalho dos profissionais de reabilitação. Além disso, a reversão de contraturas facilita a higiene em casos mais graves.