As fraturas do platô tibial representam cerca de 1% de todas as fraturas. Tem uma apresentação bimodal acometendo adultos jovens nos traumas de alta energia e idosos em fraturas decorrentes da fragilidade óssea. Principalmente nas fraturas de mais alta energia, existe uma chance de complicação grave como a síndrome compartimental.
Para o tratamento, a redução aberta e fixação interna é o padrão, podendo ser realizada por um ou dois acessos dependendo do grau da fratura na classificação de Schatzker. O cuidado com a redução da articulação é mandatório nesses pacientes e, pensando nisso, na década de 80, pela primeira vez, tentou-se a redução artroscópica desse tipo de fratura, visando diminuir a dissecção de partes moles.
Apesar de bem avaliada em alguns estudos, há dúvida sobre o benefício da abordagem artroscópica nas fraturas dos tipos 4-6 de Schatzker pela possibilidade de maior extravasamento de líquido e síndrome compartimental.
Nesse contexto, foi publicado recentemente na revista “BMC Musculoskeletal Disorders” um estudo com o objetivo de comparar os resultados da redução assistida por artroscopia e fixação interna (ARIF) com os da redução aberta e fixação interna (ORIF) no tratamento de fraturas do planalto tibial. A revisão sistemática foi conduzida nas bases de dados Medline, PubMed, Cochrane Library e Embase até agosto de 2023.
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O estudo
Foram incluídos estudos comparativos apresentando dados sobre a função da articulação do joelho e pontuações clínicas após redução aberta e fixação interna (ORIF) versus redução assistida por artroscopia e fixação interna (ARIF) ou ARIF isoladamente para tratamento de fratura do platô tibial. Foram excluídos relatos de casos ou séries com menos de cinco pacientes, estudos com animais ou cadáveres e estudos sem resultados relatados.
Foram incluídos 15 estudos (apenas um ensaio clínico randomizado) neste, compreendendo um total de 969 participantes (548 no grupo ARIF e 421 no grupo ORIF). Embora os pacientes no grupo ARIF tenham mostrado uma tendência para melhores resultados funcionais em comparação ao grupo ORIF, a diferença não foi estatisticamente significativa (Hospital for special surgery score, diferença média (MD) = 5,13, intervalo de confiança (IC) de 95% = -1,67 a 11,92, I² = 83%; Knee Society Score, MD = 5,84, IC de 95% = -1,18 a 12,86, I² = 74%).
Não foram observadas diferenças significativas em infecção, rigidez, TVP e complicações gerais entre os 2 grupos. O grupo ARIF incluiu 10 estudos de séries de casos com um total de 302 pacientes.
Conclusão
O estudo não sugeriu diferença significativa nos resultados clínicos e taxas de complicações entre ARIF e ORIF e, além disso, demonstrou que a taxa de complicações para pacientes submetidos a ARIF cai dentro das faixas relatadas anteriormente (Schatzker 4-6).
Dessa forma, a técnica artroscópica poderia ser utilizada mesmo em casos envolvendo trauma de alta energia. Levando isso em consideração, os cirurgiões que se sentem melhor utilizando a técnica artroscópica poderiam ficar mais à vontade até nos casos de fraturas mais graves.
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