As fraturas do rádio distal são umas das mais prevalentes na população mundial e, apesar do avanço na tecnologia de implantes, as complicações ainda seguem aparecendo em alguns casos. A infecção é uma complicação importante pois pode levar à pseudoartrose e necessidade de reoperação, entretanto, está pouco esmiuçada nos estudos até hoje com muitos não diferenciando infecções superficiais com as profundas.
A grande maioria dos estudos sobre fraturas do rádio distal focam nos resultados funcionais e deixam a infecção como complicação e objetivo secundário. Diante disso, foi publicado recentemente na revista “Archives of Orthopaedic and Trauma Surgery” um estudo com o objetivo de reunir e resumir as evidências disponíveis sobre a epidemiologia e o manejo de infecções cirúrgicas após cirurgia de fixação distal do rádio, estratificadas por técnica de fixação, a fim de identificar padrões e orientar a prática clínica.
Metodologia
O estudo foi uma revisão sistemática onde foram pesquisadas as bases de dados PubMed/MEDLINE e Cochrane até junho de 2024. Os estudos elegíveis foram estudos longitudinais prospectivos ou retrospectivos publicados em inglês que relataram infecção após tratamento cirúrgico de fraturas do rádio distal. Relatos de caso, metanálises, estudos em animais e estudos não relacionados à fixação cirúrgica ou a desfechos de infecção foram excluídos.
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Resultados
Cinquenta e cinco estudos atenderam aos critérios de inclusão, abrangendo 6499 pacientes e 6451 procedimentos. Um total de 341 infecções foram relatadas (5,3%). Infecções superficiais do sítio cirúrgico representaram 22,6% dos casos, infecções profundas 12,0% e infecções do orifício 61,0%. As taxas de infecção diferiram de acordo com o método de fixação: aproximadamente 2,0% para redução aberta e fixação interna, 12,0% para fixação com fio de Kirschner e 13,9% para fixação externa.
A confirmação microbiológica foi relatada apenas em uma minoria dos estudos e, quando disponível, Staphylococcus aureus foi o organismo mais frequentemente isolado. As estratégias de tratamento variaram de antibióticos orais e cuidados locais com a ferida para infecções superficiais a antibióticos intravenosos com desbridamento e remoção do material de síntese para casos graves.
Mensagem prática
Na prática, sabemos que seria importante separar as lesões expostas das fechadas, por essas possuírem maior chance de contaminação. Além disso, os casos tratados com fixador externo e fios de Kirschner que não são sepultados estão mais predispostos à infecção pelo contato do interior com o meio externo. Quando possível e necessária a fixação com fios de Kirschner por tempo prolongado (sem definição na literatura, entretanto) é prudente o sepultamento dos fios mesmo que represente a necessidade de outro procedimento para remoção.
Autoria

Giovanni Vilardo Cerqueira Guedes
Editor Médico de Ortopedia da Afya ⦁ Mestre em Ciências Aplicadas ao Sistema Musculoesquelético (INTO) ⦁ Ortopedista, Cirurgião da Mão e Microcirurgião formado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad - INTO ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Fellowship em Cirurgia da Mão e Artroscopia de Punho pela International Bone Research Association - IBRA (Clínica Teknon, Barcelona, Espanha, 2022)
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