O ácido tranexâmico (ATX) vem se tornando uma medicação popular utilizada como estratégia para redução na perda sanguínea em cirurgias ortopédicas. Seu uso em cirurgias de artroplastia é bem documentado na literatura. Seu papel na artroscopia do ombro ainda não é totalmente compreendido. Um estudo recentemente publicado elaborou a hipótese que a medicação poderia melhorar a visualização artroscópica e permitir a redução da pressão da bomba de infusão de soro utilizada durante o reparo artroscópico de lesões do manguito rotador.
Métodos
Trata-se de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado executado em um centro único publicado em novembro de 2022 na revista científica Journal of Shoulder and Elbow Surgery . Pacientes com lesões de espessura total do manguito rotador submetidos ao reparo cirúrgico da lesão foram incluídos. Os pacientes foram randomizados para receber ou não 1g venoso de ATX no pré-operatório. Todos os pacientes foram submetidos à artroscopia utilizando solução salina de irrigação com 3 mL de epinefrina injetada na primeira bolsa de 1000 mL de solução salina.
Foram avaliados o tempo cirúrgico total, a pressão final da bomba utilizada durante o procedimento, o número de aumentos na pressão da bomba, a quantidade total de fluido de irrigação utilizado, a pressão arterial e as intervenções médicas anestésicas para controlar a pressão arterial. A visualização das estruturas durante a artroscopia foi medida por uma escala analógica visual (VAS) preenchida pelo cirurgião ao final do caso. Os escores de dor pós-operatória (EVA) foram obtidos 24 horas após a cirurgia. O objetivo principal deste estudo foi investigar o efeito que o ATX administrado por via intravenosa tem na mudança na pressão da bomba (ΔP) durante a artroscopia do ombro. Um um ΔP de 15 mm Hg definido como um limiar para significância clínica.
Resultados
Um total de 100 pacientes foram incluídos no estudo, tendo sido alocados de modo aleatório 50 participantes no grupo no qual foi utilizado ATX e 50 no grupo controle no qual a medicação não foi utilizada.
Não foram encontradas diferenças significativas entre o grupo TXA e o grupo controle em relação a qualquer medida de pressão da bomba, incluindo a pressão final da bomba de fluido artroscópica (44,5 ± 8,1 mm Hg vs. 42,0 ± 8,08 mm Hg, P = 0,127), o ΔP médio (20,9 ± 10,5 mm Hg vs. 21,8 ± 8,5 mm Hg, P = 0,845), ou o número de vezes que uma mudança na pressão da bomba foi necessária (1,7 ± 0,9 vs. 1,7 ± 0,8, P = 0,915).
A visualização artroscópica geral não foi significativamente diferente entre o grupo TXA e o grupo controle (7,2 ± 1,8 vs. 7,4 ± 1,6, P = 0,464). Não houve diferença significativa entre os grupos TXA e controle em relação aos escores de dor pós-operatória avaliados pela escala de dor VAS (4,1 ± 2,0 vs. 4,3 ± 1,9, P = 0,519) em 24 horas após a cirurgia.
Mensagem prática
Este estudo sugere que o uso de TXA IV não demonstrou melhora mensurável na capacidade do cirurgião de manter uma pressão mais baixa da bomba durante o reparo artroscópico do manguito rotador. Além disso, não houve melhora mensurável na visualização artroscópica ou nos escores de dor precoce.
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