A lesão osteocondral do tálus é uma causa comum de dor no tornozelo e é inicialmente tratada de forma conservadora com taxa de sucesso de cerca de 50%. Para o tratamento cirúrgico existem opções como estímulo da medula óssea (BMS), transplante osteocondral autólogo, implante de condrócito autólogo ou transplante de aloenxerto osteocondral. Entretanto, os resultados pouco consistentes, morbidade do sítio doador e alto custo podem ser desvantagens desses métodos de tratamento.
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Outro possível doador seria a cartilagem autóloga destacada da própria lesão osteocondral do tálus com fixação após preparo com cola de fibrina, porém ainda sem estudos clínicos robustos. Um estudo retrospectivo foi publicado esse mês na revista Bone and Joint Open com o objetivo de avaliar a eficácia da técnica.
Novo estudo
Foram avaliados 32 pacientes operados de forma retrospectiva com a técnica entre agosto de 2020 e dezembro de 2021 com mínimo de um ano de follow-up em um hospital coreano. Foram excluídos pacientes com artrose, mau-alinhamento ou história prévia de cirurgia no tornozelo.
Radiografia e ressonância magnética foram realizadas para todos os pacientes. A artroscopia ou ressonância magnética de “second-look” foi realizada com aproximadamente um ano de pós-operatório. Os escores Magnetic Resonance Observation of Cartilage Repair Tissue (MOCART) e o da International Cartilage Repair Society (ICRS) foram usados para avaliar a qualidade da cartilagem regenerada. Os resultados clínicos foram avaliados usando a escala analógica visual da dor (VAS), índice de função do pé (FFI) e Escala de resultados de pé e tornozelo (FAOS).
Todos os pacientes tiveram lesões de cartilagem grau IV do ICRS, exceto uma (ICRS grau III). As pontuações do MOCART melhoraram significativamente de 42,5 (DP 1,53) para 63,5 (DP 22,60) (p = 0,025) em dez pacientes. Sete pacientes concordaram em se submeter à artroscopia “second-look”. Desses, 5 pacientes tiveram os escores de ICRS de grau I (normal) e dois pacientes tiveram escores de ICRs de grau II (quase normal). VAS, FFI e todas as subescalas de FAOS foram significativamente melhoradas no pós-operatório (p ≤ 0,003).
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Conclusão
A cirurgia melhorou significativamente os resultados clínicos, radiológicos e morfológicos das lesões osteocondrais do tálus. Ensaios clínicos randomizados serão necessários para gerar maior grau de evidência.
Autoria

Giovanni Vilardo Cerqueira Guedes
Editor Médico de Ortopedia da Afya ⦁ Mestre em Ciências Aplicadas ao Sistema Musculoesquelético (INTO) ⦁ Ortopedista, Cirurgião da Mão e Microcirurgião formado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad - INTO ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Fellowship em Cirurgia da Mão e Artroscopia de Punho pela International Bone Research Association - IBRA (Clínica Teknon, Barcelona, Espanha, 2022)
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