As rupturas do manguito rotador são lesões frequentes que geram impacto funcional significativo e afetam a qualidade de vida, especialmente em adultos e idosos ativos. O tratamento pode variar desde a fisioterapia até o reparo cirúrgico, dependendo de fatores como o tamanho da lesão, a idade e as demandas funcionais do paciente. Apesar de estudos que demonstram bons resultados para ambas as abordagens a curto prazo, poucos dados avaliam o impacto dessas estratégias com maior tempo de seguimento.
Um estudo recente publicado no “Journal of Bone and Joint Surgery” investigou exatamente isso: os desfechos funcionais e clínicos de longo prazo entre pacientes tratados com reparo primário do tendão e aqueles submetidos exclusivamente à fisioterapia, com ou sem conversão para cirurgia.
O estudo
O estudo incluiu 103 pacientes com rupturas completas do manguito rotador, classificadas como pequenas a médias (≤3 cm). Os participantes foram randomizados para dois grupos: tratamento inicial com reparo cirúrgico ou fisioterapia. No grupo de fisioterapia, foi permitida a conversão para cirurgia em casos de falha clínica. Os principais desfechos analisados incluíram o escore Constant (uma medida validada de função do ombro), dor, amplitude de movimento, força, qualidade de vida e satisfação do paciente.
Ao longo de 15 anos, 81 pacientes (78%) completaram o seguimento. Dos 51 pacientes tratados inicialmente com fisioterapia, 15 (29%) precisaram de cirurgia secundária devido a piora dos sintomas ou progressão da lesão.
Resultados
O reparo primário demonstrou resultados significativamente superiores nos escores de função (Constant: 79,9 versus 68,5 pontos, p < 0,001) e dor. Além disso, pacientes submetidos ao reparo inicial apresentaram maior amplitude de movimento e força, especialmente em elevação e abdução sem dor.
No grupo da fisioterapia, foi observado um aumento médio no tamanho das rupturas ao longo do tempo (de 16,2 mm para 31,6 mm na direção ântero-posterior), associado à piora funcional. Embora a conversão para cirurgia tenha proporcionado alguma melhora, os resultados não atingiram o mesmo nível do reparo inicial.
Não foram encontradas diferenças significativas nos desfechos de qualidade de vida (SF-36), sugerindo que o impacto funcional prevalece sobre os efeitos sistêmicos a longo prazo.
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Discussão
Os resultados desse estudo reforçam que o reparo do tendão é a melhor opção para pacientes com rupturas pequenas a médias do manguito rotador que buscam preservar a função e evitar a progressão da lesão. Por outro lado, a fisioterapia pode ser uma alternativa válida para aqueles que desejam evitar a cirurgia, embora envolva maior risco de progressão das lesões e comprometimento funcional.
Além disso, o estudo destaca que a cirurgia secundária, apesar de eficaz, não recupera plenamente o potencial funcional perdido, reforçando a importância de uma abordagem precoce e planejada.
Mensagem prática
O estudo de 15 anos em questão oferece evidências robustas que favorecem o reparo inicial para rupturas do manguito rotador de pequeno a médio porte, demonstrando melhores resultados funcionais e menor risco de progressão da lesão. Para pacientes que optam por fisioterapia, é essencial um acompanhamento rigoroso para monitorar a evolução clínica e ajustar o plano de tratamento conforme necessário.
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