A fratura do quadril em idosos é um evento grave com altas taxas de morbimortalidade. Embora a mortalidade tenha diminuído nos últimos anos, o risco de complicações pós-operatórias permanece elevado, impactando significativamente a recuperação e a qualidade de vida desses pacientes.
Um estudo multicêntrico prospectivo, publicado em setembro de 2025 no Bone & Joint Journal, investigou quais fatores estão associados ao desenvolvimento dessas complicações.

Qual foi o objetivo do estudo?
Pesquisadores de 77 hospitais da Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte acompanharam 24.523 pacientes com 60 anos ou mais que sofreram fratura do quadril entre 2014 e 2021. O objetivo era identificar fatores modificáveis e não modificáveis associados a complicações cirúrgicas e clínicas gerais dentro de 120 dias após a cirurgia.
Quais são os fatores de risco não modificáveis?
O estudo confirmou que certas características do paciente aumentam significativamente o risco de complicações:
- Idade avançada: Cada ano a mais de idade aumentou o risco de lesão renal aguda, necessidade de transfusão sanguínea e infecções respiratória e urinária.
- Sexo masculino: Homens tiveram maior risco de reoperação, infecção do sítio cirúrgico, lesão renal aguda e infecção respiratória.
- Comorbidades (ASA ≥ III): Pacientes com maior comprometimento sistêmico tiveram risco aumentado para diversas complicações, incluindo luxação da prótese, reoperação e infecções.
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E os fatores modificáveis? Onde podemos intervir?
Aqui reside a principal contribuição do estudo: a identificação de fatores relacionados ao tratamento que podem ser alterados para melhorar os desfechos:
- Tipo de procedimento cirúrgico:
- Artroplastia Total do Quadril (ATQ) foi associada a um risco 2,4 vezes maior de luxação da prótese em comparação com a hemiartroplastia em fraturas intracapsulares.
- Hastes cefalomedulares apresentaram risco 4 vezes maior de fratura peri-implante e risco 94% maior de reoperação em comparação com parafusos deslizantes em fraturas extracapsulares.
2. Atrasos no tratamento:
- Cirurgia tardia (> 36 horas) após a admissão aumentou o risco de infarto do miocárdio em 66%.
- Mobilização tardia (> 24 horas) no pós-operatório foi um fator crítico, elevando significativamente o risco de:
- Lesão renal aguda (68%)
- Infecção do trato respiratório inferior (96%)
- Infecção do trato urinário (52%)
- Infarto do miocárdio (105%)
- Embolia pulmonar (70%)
Qual é a mensagem prática para os profissionais de saúde?
Os resultados destacam a importância de protocolos clínicos ágeis e decisões cirúrgicas baseadas em evidências:
- Priorizar a cirurgia precoce para reduzir complicações cardíacas.
- Incentivar a mobilização no primeiro dia pós-operatório é crucial para prevenir uma cadeia de complicações clínicas.
- A escolha da técnica cirúrgica deve pesar os riscos específicos: a hemiartroplastia pode ser mais segura que a ATQ para idosos frágeis com fraturas intracapsulares, e parafusos deslizantes podem oferecer menor risco de reoperação que hastes cefalomedulares em fraturas extracapsulares.
O que podemos levar para casa?
Este amplo estudo evidencia que, além das características intrínsecas do paciente, elementos do cuidado médico – como timing cirúrgico, mobilização precoce e seleção da técnica operatória – têm impacto profundo na recuperação do idoso com fratura de quadril. A identificação desses fatores modificáveis oferece um caminho claro para reduzir complicações e melhorar a qualidade do cuidado prestado a essa população vulnerável.
Autoria

Rafael Erthal
Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁ Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁ Especialista em cirurgia de joelho ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
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