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Ortopedia23 outubro 2025

Fatores de risco para complicações após fratura do quadril em idosos

Estudo investigou quais fatores estão associados ao desenvolvimento de complicações pós-operatórias de fraturas de quadril em idosos
Por Rafael Erthal

A fratura do quadril em idosos é um evento grave com altas taxas de morbimortalidade. Embora a mortalidade tenha diminuído nos últimos anos, o risco de complicações pós-operatórias permanece elevado, impactando significativamente a recuperação e a qualidade de vida desses pacientes.  

Um estudo multicêntrico prospectivo, publicado em setembro de 2025 no Bone & Joint Journal, investigou quais fatores estão associados ao desenvolvimento dessas complicações. 

Qual foi o objetivo do estudo? 

Pesquisadores de 77 hospitais da Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte acompanharam 24.523 pacientes com 60 anos ou mais que sofreram fratura do quadril entre 2014 e 2021. O objetivo era identificar fatores modificáveis e não modificáveis associados a complicações cirúrgicas e clínicas gerais dentro de 120 dias após a cirurgia. 

Quais são os fatores de risco não modificáveis? 

O estudo confirmou que certas características do paciente aumentam significativamente o risco de complicações: 

  • Idade avançada: Cada ano a mais de idade aumentou o risco de lesão renal aguda, necessidade de transfusão sanguínea e infecções respiratória e urinária. 
  • Sexo masculino: Homens tiveram maior risco de reoperação, infecção do sítio cirúrgico, lesão renal aguda e infecção respiratória. 
  • Comorbidades (ASA ≥ III): Pacientes com maior comprometimento sistêmico tiveram risco aumentado para diversas complicações, incluindo luxação da prótese, reoperação e infecções. 

Leia mais: Cirurgia precoce nas fraturas do quadril e sobrevida em pacientes anticoagulados

E os fatores modificáveis? Onde podemos intervir? 

Aqui reside a principal contribuição do estudo: a identificação de fatores relacionados ao tratamento que podem ser alterados para melhorar os desfechos: 

  1. Tipo de procedimento cirúrgico: 
  • Artroplastia Total do Quadril (ATQ) foi associada a um risco 2,4 vezes maior de luxação da prótese em comparação com a hemiartroplastia em fraturas intracapsulares. 
  • Hastes cefalomedulares apresentaram risco 4 vezes maior de fratura peri-implante e risco 94% maior de reoperação em comparação com parafusos deslizantes em fraturas extracapsulares. 

2. Atrasos no tratamento: 

  • Cirurgia tardia (> 36 horas) após a admissão aumentou o risco de infarto do miocárdio em 66%. 
  • Mobilização tardia (> 24 horas) no pós-operatório foi um fator crítico, elevando significativamente o risco de: 
  • Lesão renal aguda (68%) 
  • Infecção do trato respiratório inferior (96%) 
  • Infecção do trato urinário (52%) 
  • Infarto do miocárdio (105%) 
  • Embolia pulmonar (70%) 

Qual é a mensagem prática para os profissionais de saúde? 

Os resultados destacam a importância de protocolos clínicos ágeis e decisões cirúrgicas baseadas em evidências: 

  • Priorizar a cirurgia precoce para reduzir complicações cardíacas. 
  • Incentivar a mobilização no primeiro dia pós-operatório é crucial para prevenir uma cadeia de complicações clínicas. 
  • A escolha da técnica cirúrgica deve pesar os riscos específicos: a hemiartroplastia pode ser mais segura que a ATQ para idosos frágeis com fraturas intracapsulares, e parafusos deslizantes podem oferecer menor risco de reoperação que hastes cefalomedulares em fraturas extracapsulares. 

O que podemos levar para casa? 

Este amplo estudo evidencia que, além das características intrínsecas do paciente, elementos do cuidado médico – como timing cirúrgico, mobilização precoce e seleção da técnica operatória – têm impacto profundo na recuperação do idoso com fratura de quadril. A identificação desses fatores modificáveis oferece um caminho claro para reduzir complicações e melhorar a qualidade do cuidado prestado a essa população vulnerável. 

Autoria

Foto de Rafael Erthal

Rafael Erthal

Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁  Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁  Especialista em cirurgia de joelho ⦁  Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

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