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Ortopedia11 agosto 2025

Estatinas e reparo do manguito rotador: aliadas ou vilãs?

Estudo investigou se o uso de estatinas e os níveis de lipídios séricos impactam a cicatrização do reparo no manguito rotador
Por Rafael Erthal

A artroscopia para o reparo do manguito rotador é um procedimento comum, mas a taxa de rerruptura pós-operatória ainda preocupa cirurgiões e pacientes. Entre os fatores investigados, o uso de estatinas e os níveis de lipídios séricos têm sido alvo de debates. Será que eles realmente impactam a cicatrização? Um estudo recente realizado no Japão e publicado na revista científica “Arthroscopy” traz respostas que podem surpreender.   

O estudo em questão   

O estudo analisou 620 pacientes submetidos ao reparo artroscópico do manguito rotador. Os pesquisadores avaliaram:   

  • Níveis lipídicos: Colesterol total (CT), LDL e triglicerídeos (TG).   
  • Uso de estatinas: Separadas em tipo 1 (naturais) e tipo 2 (sintéticas).   
  • Taxa de rerruptura: Avaliada por ressonância magnética (RM) após 1 ano, usando a classificação de Sugaya (tipos 4 e 5 indicavam rerruptura).   

Principais achados 

  1. Lipídios e Rerruptura:
  • Nenhuma associação significativa foi encontrada entre CT, LDL ou TG e o risco de rerruptura.   
  • Pacientes com hiperlipidemia não tiveram maior incidência de falha na cicatrização.   
  1. Estatinas:
  • O uso de estatinas, como um todo, não aumentou nem diminuiu o risco de rerruptura.   
  • Curiosamente, as estatinas tipo 1 mostraram tendência a um efeito protetor (OR 0,3; P = 0,061), enquanto as tipo 2 tiveram leve tendência a aumentar o risco (OR 1,4; P = 0,26), mas sem significância estatística.   
  1. Fatores de Risco Relevantes:  
  • Idade avançada: Cada ano a mais aumentou em 10% o risco de rerruptura (P < 0,0001).   
  •  Sexo masculino: Homens tiveram 1,8 vezes mais risco que mulheres (P = 0,021).   
  •  Lesões grandes/massivas: Risco 3,4 vezes maior (P < 0,0001).   
  1. Resultados Clínicos:  
  • Não houve diferença na melhora funcional (escore UCLA) ou na dor (EVA) entre usuários e não usuários de estatinas.   

Leia mais: Distúrbios degenerativos do manguito rotador

Implicações práticas 

  • Hiperlipidemia: Apesar de estudos anteriores sugerirem uma relação com pior cicatrização, este trabalho não confirmou essa associação. Isso pode indicar que o controle rigoroso dos lipídios no período perioperatório possa ser suficiente para diminuir riscos.   
  • Estatinas: Seu uso não deve ser interrompido por medo de prejudicar a reparação. Na verdade, as tipo 1 podem até oferecer algum benefício.   
  • Foco nos Fatores Modificáveis: Tamanho da lesão e idade são críticos. Estratégias como reparo dupla fileira ou protocolos de reabilitação adaptados podem ser mais relevantes.   

Limitações 

  • Tempo de Seguimento: A avaliação foi feita após 1 ano, mas rerrupturas tardias podem ocorrer.   
  • Variabilidade no Uso de Estatinas: Não foi avaliada a adesão ou ajuste de dose no pós-operatório.   
  • Amostra Homogênea: Dados de um único centro podem limitar a generalização.   

O que levar para casa? 

Esse estudo reforça que o uso de estatinas não é um vilão no reparo do manguito rotador. Pelo contrário, pacientes em tratamento para hiperlipidemia podem ser operados com segurança, desde que outros fatores de risco (como tamanho da lesão e idade) sejam considerados.   

Para os ortopedistas, a mensagem é clara: a decisão de usar ou não estatinas deve ser baseada no perfil cardiovascular do paciente, não no risco de rerruptura.  

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Referências bibliográficas

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