A osteoartrose de joelho (OA) apresenta um arsenal extenso de tratamentos, sendo esses agrupados em modalidades conservadora e cirúrgica. Dentre as opções de tratamento não cirúrgico, há o tratamento medicamentoso, encabeçado pelos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs).
Um ativo que se destaca nesta classe é a diacereína, da classe das antraquinonasários, demonstrando importante ação anti-inflamatória e condroprotetora. Considerando esse potencial, vários estudos comprovaram sua eficácia no tratamento da OA.
Apesar da recente disponibilização da diacereína genérica em vários países, a evidência construída com esse princípio ativo foi gerada com o produto de marca. Sendo assim, há ainda uma limitação de conhecimento sobre a eficácia da diacereína genérica versus a de marca para o tratamento da OA do joelho.
A diacereína, referida como medicamento sintomático de ação lenta para osteoartrose, estimula a produção de fatores de crescimento da cartilagem e retarda a degradação da cartilagem, resultando em alívio da dor e edema.
Ela inibe principalmente o sistema de interleucina-1β (IL-1β) reduzindo a ativação da IL-1β, diminuindo os níveis do receptor de IL-1 nos condrócitos, o que aumenta a produção do antagonista do receptor de IL-1 e inibe a ativação do NF-κB, finalmente regulando negativamente a IL-1 no fluido sinovial de pacientes com OA de joelho.
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Sua popularização veio com o embasamento de estudos em modelos animais e ensaios clínicos, especialmente na osteoartrose do joelho.
Teoricamente, medicamentos genéricos devem possuir as mesmas características, ação farmacológica e concentração de ativo do medicamento referência, o que lhes garante as mesmas eficácia e segurança.
No entanto, apesar de compartilharem as semelhanças com os medicamentos referência, há ainda, algum tipo de receio com relação à sua utilização, receio este, em especial, relacionado à sua eficácia, por parte dos profissionais médicos e dos próprios pacientes.
Metodologia
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado, prospectivo, duplo-cego e controlado (RCT) de centro único, de outubro de 2022 a dezembro de 2023, em que os participantes de ambos os sexos, com 50 anos ou mais, foram aleatoriamente alocados para 2 grupos em uma proporção de 1:1.
Os sujeitos de pesquisa eram portadores diagnosticados de AO de joelho de acordo com os critérios do American College of Rheumatology, com classificação radiográfica por Kellgren e Lawrence – tipos I e II, apresentando dor na articulação à mobilização de pelo menos 40 mm na EVA.
Os critérios de exclusão foram a presença de OA secundária, cirurgia prévia na articulação afetada ou expectativa de cirurgia para os próximos seis meses; cirurgia de membro inferior nos últimos seis meses; grau IV por Kellgren Lawrence; tratamento com medicamentos sintomáticos de ação lenta para osteoartrose dentro de seis meses ou terapia infiltrativa dentro de três meses antes da inclusão no estudo; distúrbios gastrointestinais graves; diarreia persistente (> 3 vezes/24 horas) ou uso de laxantes; doença médica grave concomitante ou comorbidade significativa que impeça exercícios aeróbicos a 50% a 60% da frequência cardíaca máxima.
Os participantes receberam 1 cápsula de diacereína de marca ou 1 cápsula de diacereína genérica 2 vezes ao dia, diariamente por 24 semanas e acompanhados em 5 visitas, em que foram avaliados na 6ª, 12ª e 24ª semanas quanto à dor ao movimento, sendo duas medidas de resultados baseadas em relato – índice WOMAC (índice Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis) e o Short Form-12 e três medidas baseadas em desempenho: teste de sentar para levantar 5 vezes (5×SST), o teste de tempo de levantar e andar (TUGT) e o teste de caminhada de 3 minutos (3MWT).
Resultados e discussão
Assim, 94 pacientes foram randomizados no grupo A: diacereína genérica em 47 pacientes; e grupo B: diacereína de marca em 47. Nenhum paciente deixou de realizar o acompanhamento ou de completar todos os testes de acordo com o protocolo estudado; portanto, todos os pacientes completaram o estudo.
Na 24ª semana, a VAS (Escala Visual Analógica) média para dor, que diminuiu gradualmente da linha de base até o acompanhamento final, mostrou diferenças significativas em ambos os grupos. No entanto, o Grupo B mostrou melhora considerável a partir da 12ª semana. Na última avaliação, a VAS reduziu de uma média de 44 ± 28 e 50 ± 29 nos Grupos A e B, respectivamente, para 31 ± 23 e 34 ± 22 (P = 0,002 e P = 0,000).
Ambos os grupos melhoraram significativamente no c na 12ª semana e continuaram a melhorar até a 24ª semana, sem diferenças estatísticas entre eles. O teste de tempo de levantar e andar (TUGT) não mostrou melhora significativa em nenhum dos grupos e não houve diferenças entre os grupos. Ambos os grupos apresentaram melhora significativa no Teste de Caminhada de 3 Minutos (TC3) a partir da 12ª semana.
Com relação às Medidas de Resultado Relatadas pelo Paciente (PROMs), ambos os grupos apresentaram melhoras graduais, mas insignificantes, nas pontuações WOMAC e Short Form-12 da linha de base até 24 semanas, sem alterações estatísticas.
Nenhum evento adverso sério ocorreu em nenhum dos grupos, mas no Grupo A, três pacientes relataram diarreia leve e recorrente durante o tratamento inicial, e um relatou desconforto gastrointestinal leve. Todos os quatro pacientes completaram o estudo, sem interromper a medicação.
Esse estudo comparou a eficácia de uma dose diária de 50 mg de diacereína genérica versus de marca no tratamento da osteoartrose de joelho (OA) leve à moderada. No acompanhamento de 24 semanas, ambos os grupos mostraram melhorias significativas nas pontuações da Escala Visual Analógica (VAS), com o grupo de diacereína de marca mostrando melhora 12 semanas antes.
Ambos os grupos também melhoraram significativamente em testes funcionais (teste de sentar para levantar 5 vezes (5×SST) e Teste de caminhada de 3 minutos) do FU de 12 semanas, mas mostraram apenas melhorias insignificantes nas pontuações WOMAC e SF-12. Nenhum evento adverso sério foi relatado.
O estudo observou que a diacereína funciona reduzindo a produção de interleucina-1β (IL-1β), que está diretamente envolvida no processo de inflamação da OA. A meta-análise confirmou a eficácia da diacereína no tratamento dos sintomas de OA de joelho e quadril, com diarreia sendo o principal evento adverso. O estudo demonstrou que tanto a diacereína genérica quanto a de marca resultaram em melhoras semelhantes na dor (VAS) e no desempenho funcional, apoiando descobertas anteriores.
Com isso, observa-se a positiva relação custo x eficácia dos medicamentos genéricos, particularmente no tratamento de doenças crônicas como OA do joelho. Os medicamentos genéricos, que apresentar equivalência com as versões de marca, se colocam como alternativas mais acessíveis, o que melhora potencialmente o acesso do paciente e a adesão ao tratamento.
O estudo enfatiza a necessidade de mais estudos randomizados controlados comparando a eficácia clínica de medicamentos genéricos e de marca.
Há um viés do curto período de follow-up dos participantes, e, ainda, um pequeno tamanho de amostra. No entanto, os resultados foram confiáveis e mostraram melhorias semelhantes em ambos os grupos. O estudo sugere que um acompanhamento de longo prazo seria necessário para avaliar melhor a eficácia e a segurança de ambos os medicamentos.
Mensagem prática
Considerando suas propriedades anti-inflamatórias e protetoras de cartilagem, a diacereína demonstra ser uma opção atraente do arsenal medicamentoso para o tratamento da osteoartrose de joelho. Está disponível em formas genéricas e de marca, mas as evidências atuais não diferenciam especificamente entre essas duas em termos de eficácia e segurança, o que sugere uma provável comparabilidade entre as formulações. São necessários mais estudos para fornecer insights mais precisos sobre quaisquer diferenças potenciais entre as versões genérica e de marca.
O estudo avaliado demonstrou semelhança de eficácia entre as diacereínas genérica e original após um seguimento de avaliação por 24 semanas, em relação aos parâmetros estudados, estando esses significativamente melhorados. No entanto, é digno de nota, que a versão do medicamento original teve uma melhora na Escala Visual Analógica estatisticamente mais rápida do que a versão genérica.
Sendo assim, a escolha do produto – se de marca ou genérico – deve basear-se na possibilidade de acesso do paciente, seja este do ponto de vista financeiro ou até de disponibilidade física comercial, e ainda, na experiência do médico prescritor.
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