A dor lombar baixa é altamente prevalente, sendo a principal causa de afastamento do trabalho pelas últimas 3 décadas além de liderar as causas de busca de atendimentos na Atenção Primária e Emergências. A utilização de exames de imagem de rotina não é indicada a menos que o paciente apresente sinais de alarme. Entretanto, a solicitação desses exames chega a 25% nos atendimento em Emergências.
De 1995 a 2017 houve crescimento de 53% nas solicitações de exames complexos como tomografia computadorizada e ressonância magnética contribuindo para a “pseudodoença”, que está associada a intervenções desnecessárias e efeitos adversos. Um estudo de coorte publicado recentemente no Journal of the American Medical Association buscou examinar associações transversais e longitudinais entre alterações radiológicas e gravidade da dor lombar em mulheres de meia-idade de uma comunidade britânica.
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O Estudo
Foram examinadas 1.003 mulheres entre 45 e 64 anos moradoras do bairro de Chingford, no leste de Londres, entre 1989 e 1991 com objetivo de elaborar um estudo populacional de doenças musculoesqueléticas. Entre 1994 e 1996 foram colhidos dados sobre atividade física, enquanto os dados de exames de imagem, outras covariáveis e os desfechos da análise transversal foram colhidos entre 1997 e 1999 (linha de base do estudo). O desfecho da análise longitudinal foi obtido entre 2003 e 2005.
Os pacientes tiveram a coluna lombar radiografadas e avaliadas por um escore composto pelo método semiquantitativo de Lane e classificação de Kellgren-Lawrence (K-L), levando em consideração o espaço intervertebral (discal), osteofitose e esclerose do osso. Esse escore teve uma representação binária, sendo 1 para osteófito definido e redução do espaço discal e 0 sem osteofitose ou redução do espaço discal. Essa avaliação foi realizada em cada um dos espaços lombares (L1-L2 +L2-L3+L3-L4+L4-L5) e somada poderia chegar ao valor máximo de 4.
O desfecho “incapacidade relacionada à dor lombar” foi avaliado pelo questionário St Thomas nos anos de 1998 e 2004. Além disso, covariáveis como idade, IMC, tabagismo, uso de bifosfonados e atividade física também foram avaliadas.
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As pacientes que tiveram mais alterações radiográficas classificadas pelo escore composto não apresentaram diferença estatística em relação às menos acometidas quando avaliadas pelo questionário na análise transversal (OR 0,83; IC 95%, 0,57 – 1,22) ou longitudinal. A análise de covariáveis também não demonstrou diferenças significativas entre os grupos.
Conclusōes
Esse estudo de coorte tem como pontos fortes o fato de apresentar uma boa amostra e principalmente também fazer análise de covariáveis que poderiam ser importantes fatores de confundimento. Afim de reduzir as limitações, os próximos estudos relacionados ao tema poderiam utilizar uma faixa etária mais ampla, maior variedade étnica e contemplar ambos os sexos. De toda forma, a pesquisa é capaz de fortalecer a teoria de que as alterações radiológicas não acompanham a clínica nos casos de dor lombar baixa.
Referências bibliográficas:
- Chen L, Perera RS, Radojcic MR, Beckenkamp PR, Ferreira PH, Hart DJ, Spector TD, Arden NK, Ferreira ML. Association of Lumbar Spine Radiographic Changes With Severity of Back Pain-Related Disability Among Middle-aged, Community-Dwelling Women. JAMA Netw Open. 2021 May 3;4(5):e2110715. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2021.10715.
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